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Guia prático de cuidados com o bebê (ou o pequeno manual para pais de primeira viagem)

Escrever sobre cuidados com crianças pequenas trouxe um turbilhão de lembranças de dois anos inteiros de paternidade. Concluí que nunca aprendi a fazer tanta coisa em tão pouco tempo. Já falei disso no PapodeHomem no texto “3 lições que a paternidade me ensinou em apenas um ano”.

Fazer todas essas tarefas (ainda mais com todo o estigma masculino de desastrado) é difícil no começo, como qualquer função nova. Porém, depois de um tempo, você vai conseguir fazer tudo de olhos vendados, com os pés nas costas, assobiando e chupando cana.

Passo aqui um pouquinho dessa experiência com as coisas mais simples que foram surgindo no cotidiano.

Como dar banho no bebê sem erro

Foto: Dave Engledow

Esta é, possivelmente, a primeira coisa que você vai aprender, com as mãos trêmulas e ainda inundado de emoção. Banhar o recém-nascido na maternidade, sob a supervisão de uma enfermeira um pouco entediada e prática demais para a cerimônia que você acha que o momento pede.

O pior de tudo é estar sob os olhares da família toda, por trás do vidro do berçário! É tipo bater um pênalti com a arquibancada cheia, sem nunca ter aprendido a chutar uma bola. Mas a diferença é que aqui, se você errar, a torcida pode até achar bonitinho. O bicho pega mesmo é em casa.

Use banheira com suporte, na altura da sua cintura. Já ouvi relatos de pais Chuck Norris que saem dando banho de chuveiro. Além de ser quase impossível segurar o bebê enquanto ensaboa, é arriscado e desnecessário. Banheira no chão também é um convite para dor nas costas e escorregões.

Encha a banheira com água morna. Não tem erro e independe da estação do ano. E para saber se a temperatura está boa, prove com o cotovelo. Essa é uma dica da maternidade que a gente tende a deixar de lado, mas é ótima. A sensibilidade do cotovelo é menos complexa que a das mãos, e vai te dizer apenas: quente (ai), morno (bom) ou frio (brrr).

Essa é para quando a princesa ou príncipe das águas tiver crescido um pouquinho: dispa-se! Em vez de lamentar roupas molhadas a cada banho, pois crianças adoram espalhar água pra todo lado, fique só de cueca. Não seja rabugento e curta a molhadeira!

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Não esqueça de levar uns brinquedos pro banho. Em especial aqueles que vão surpreender o neném, pois ele nunca imaginaria poder brincar com eles dentro d’água. O banho, por si só, é maçante e, com a brincadeira, ele se distrai o suficiente para você lavar tudo rapidinho. Eu faço um teatrinho com dinossauros de plástico indo para o banho. Raramente falha! O bebê vai acabar querendo levar sempre os mesmos brinquedos e a hora do banho fica muito mais legal.

Essa aprendi com a minha esposa: na hora de secar e vestir, tenha uma toalha à mão e outra já estendida na cama ou outra superfície segura – é mais confortável para o filhote. Deixe todos os acessórios pós-banho preparados com antecedência e aguente a choradeira para limpar orelhas e nariz: vai ser sempre assim.

Importante: se você é pai de menino, faça um favor a ele e dê uma puxadinha de leve no prepúcio dele, até ver a glande, depois do banho e antes da fralda. Essa é uma coisa que todo mundo sabe que tem que fazer. A mãe talvez não faça, nesse caso, ele vai agradecer no futuro.

Como trocar fraldas

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Essa parte não precisa ser um drama, ainda mais porque vivemos em um tempo muito melhor nesse quesito do que viveram nossos pais e avós. Há certo indício de revival das fraldas de pano, mas, sinceramente, eu não tenho vontade de embarcar nessa onda. A fralda descartável é feita para ser prática e não há motivo para não ser.

Abra bem a fralda, todas as dobrinhas dela, não se esqueça de que a parte fofinha é a de dentro e que a ponta que tem fita adesiva vai por baixo das costas da criança. Você pode ter rido agora, mas vai errar várias vezes.

Segure cuidadosamente os pezinhos do nenê com uma mão só. Erga, deslize a fralda aberta para baixo dele com a outra. Baixe, afaste um pouco as pernas uma da outra e traga a parte sem fitas para a altura do umbigo; pressione bem levemente com uma mão enquanto, com a outra, puxa uma e depois outra aba adesiva, para fechar. Ajuste se ficar meio torto.

A pomadinha é milagrosa. Passe sempre que tiver cocô e depois do banho. Se for só xixi, o lenço umedecido basta. Talco está caindo em desuso, mas pode usar, principalmente se buscar um efeito cômico.

troca-de-fralda

Quando seu filho é bem pequenino, é legal usar algodão e água morna pra limpar o bumbum, apenas. É pra isso que vai servir a garrafa térmica que você vai deixar sempre à disposição com água fervida. Dois “refis” por dia dão mais que conta. Um potinho tem que estar junto para você despejar a água antes e não queimar o baby.

Limpe todas as dobrinhas, não só onde parece sujo. A pomadinha é milagrosa, mas nem tanto, podem surgir brotoejas ou vermelhidões por falta de boa limpeza.

Paninhos feitos de tecido de fralda (as antigas) são ótimos para ter por perto com os pequenininhos. Assim que você vê um jatinho de xixi querendo disparar, põe lá e espera esvaziar a bexiga antes de continuar.

Cocô é só cocô. Conviva! Se não estiver em casa, onde você deve ter um trocador, tenha também um trocador portátil, menor. É uma superfície impermeável que vai livrar lençóis e sofás da ruína. Cocô mais firme você pode jogar na privada e dar descarga; aquele mais molinho vai ter que ser enclausurado na fralda antes de descartar.

Fechar a fralda usada é mais fácil do que parece: deixe-a dobrada sobre uma superfície, como se o bebê a estivesse usando, mas sem ele dentro. Pegue a parte onde está a “polpa”, na extremidade de baixo, e vá enrolando até esse rocambole de xixi e cocô parar na linha da parte da fita. Puxe uma fita de um lado, outra de outro, e você tem um pacotinho tóxico, tipo uma pamonha, pronto para colocar em uma lata de lixo que fique, de preferência, fora do alcance do olfato da sua família.

Alimentando seu filhote

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Se você ainda não aprendeu a cozinhar, a hora pode ser agora! O legal de fazer comida para criança é que não exige sofisticação alguma. Você se sente testando fórmulas em laboratório e vai comemorar muito quando der certo.

Meu filho começou a se alimentar de sólidos (sem deixar de mamar no peito) com quase 6 meses de idade. Alguns começam antes, outros um pouquinho depois. Em casa, ele nunca foi muito fã de mamadeira, mas gostei de ter aprendido a fazer isso também.

Mandioquinha, batata, cenoura, brócolis, espinafre e afins: ele gostava muito. Se você não era adepto de legumes, a rotina de fazer a papinha da criança pode ajudar a se alimentar melhor, também.

Descasque tudo, corte toscamente para que cozinhe melhor, taque na água fervente, deixe ficar bem molinho, jogue no liquidificador com bem pouco sal e uma concha da água do cozimento, bata e seja feliz. Se ficar muito sólido, mais caldo.

A primeira colherada tem que ser perfeita para despertar o apetite da criança. Não pode ter muita comida e não pode estar muito quente ou fria. Se sua filha ou filho já come sólidos, tente colocar um pouco de cada alimento nessa primeira bocada – assim eles não viciam em um só item do prato.

Quando a fase da papinha passar, dê ao seu filho comidas que você gosta desde criança, aquelas que te confortam. O conceito de “paladar infantil” vai fazer todo o sentido quando arroz, feijão e carne virarem os itens mais solicitados do menu. Os legumes e verduras podem estar ali, no meio, e vão sendo revelados aos poucos.

Introduza novos alimentos de forma divertida, exalte alguma característica diferente deles, como forma, cor ou textura, e arrisque-se! Você está construindo o paladar da criança e não precisa se frustrar se não der certo. Hoje, meu filho adora risoto de carne seca. Quem diria? Ovo mexido também é bom, tem cor e textura atraentes - mas só quando a criança já não for muito bebezinha.

Macarrão é uma comida divertida! Faça ser melhor ainda dando uns fiozinhos para que sua filhota ou filhote prove durante o cozimento. Dê uma bicadinha do molho para que sinta como está gostoso, vá deixando que sua cria interaja com o processo da comida. Comer pode ser muito legal, mas alguém precisa mostrar isso, não é mesmo? Ah, e na hora de comer mesmo, corte os fios um pouco, pois bagunça é ótimo só até o momento em que você vê seu filho envolto em molho e sabe-se lá o quê.

Deixá-lo comer sozinho é um voto de confiança na habilidade que está desenvolvendo. Minha esposa foi corajosa, nesse ponto. Eu só observei e quase não acreditei quando o vi abrindo o bocão e comendo que nem menino grande. Uma colher de plástico torta, com a parte que leva a comida virada para dentro, evita que o pingo de gente precise fazer malabarismo para levar o alimento à boca. Vai ter bagunça, mas é pra isso que serve o babador.

Ninguém vai falar isso, nem o médico, nem a vovó, nem ninguém, mas um pouco de água ou suco durante a refeição não mata, e sabe o por quê? O paladar se renova. Faça o teste: quando o neném rejeitar uma colherada e ainda estiver no começo ou meio da refeição, tente dar um tanto de líquido. Ele vai pedir comida de novo, logo após. É possível que a comida salgada “canse” as papilas dele, mas um suquinho (pouco) desperta a fome de novo.

Vamos dar um passo atrás: no caso da mamadeira, siga as instruções do rótulo do leite que comprar. Você vai ver que não terá tempo, sempre, de ferver a água. Então, use ao menos filtrada e aquecida no micro-ondas. Não pega nada. Prove a temperatura (a ideal é morninha) nas costas da mão. E se for você a dar o “mamá”, faça desse momento um aconchego que, claro, não é o da mamãe, mas é só seu. Mostre um livrinho ou brinquedo que a criança gosta de manusear enquanto mama, pois nem todo mundo curte ficar só mamando e olhando para uma cara barbuda.

Por fim...

Em tudo o que fizer, não menospreze o tempo que passa com seu bebê. Aproveite, aprenda, abrace, beije e mantenha esse vínculo, sempre.

Tire um pouco da mãe o peso de cuidar da criança (afinal, a gente sabe que é o que acaba acontecendo). Dê suporte e aproveite para descobrir quão maravilhosa é a experiência de ser um porto seguro para uma pessoinha que você ajudou a trazer ao mundo.

Lembre-se de que ele não “quebra”, e que seu instinto vai dizer o tanto de cuidado necessário em cada situação.

Mais do que apenas ajudar a mãe, seja um pai participativo.

E aí, essas dicas ajudaram? E vocês, papais, têm outras dicas que aprenderam na marra?

* * *

Nota: todas as fotos nesse texto são de Dave Engledow


publicado em 26 de Maio de 2014, 17:02
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Allan Araújo Zaarour

Marido, músico, pai, poeta, escriba, enamorado. Twitter, blog e músicas.


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