“Um problema fácil de definir, mas difícil de resolver”.
É assim que o consultor de otimização em pesquisa fundador da Audience Wide, Matthew Brown, define a fake news, essa tirana onda de informações falsas que corre entre cabos de rede e dados de telefonia móvel.
Elas existem, sabemos que são perigosas, mas é algo fora de controle. As fake news desafiam as plataformas de compartilhamento mais populares do mundo, como Google e Facebook. Tanto que, quase um ano depois de lançarem ofensivas contra as informações mentirosas, as notícias falsas seguem se promovendo desavisadamente especialmente em momentos delicados como vésperas das eleições.
Se desde já não houver no Brasil uma campanha sobre fake news e bots, de maneira didática e apartidária, o resultado de 2018 será assustador
— Bruno Tozzini (@tozzini) 3 de outubro de 2017
A afirmação acima do publicitário Bruno Tozzini tem embasamento. Até o Papa Francisco entrou na luta contra informações inverídicas, tendo o preconceito religioso como base.
Mas porque serviços como Facebook e Google não conseguem evitar a disseminação desses links suspeitos? A resposta curta? Devido a automatização.
As redes sociais tendem a entregar conteúdo relacionado à preferência do usuário. Um cálculo do tipo INTERESSE + AMIZADES = CONTEÚDO. O material entregue no seu feed é relacionado ao que você consome e com quem você mais se conecta nas plataformas paralelas, como Instagram e Whatsapp.
Assim, os algoritmos prezam pela popularidade do artigo para o usuário, sem verificar a relevância e veracidade. Um problema ainda maior quando o conceito de verdade é questionado e a demanda por informações é alta.
É aí que surgem os personagens tendenciosos. Graças a polarização política, qualquer fonte de notícia vira um ponto de discórdia. Ativadores maliciosos utilizam-se do conhecimento em SEO para ilustrar mitos de interesse de um indivíduo ou grupo político.
O mais recente caso ocorreu nos Estados Unidos, durante o atentado que deixou dezenas de mortos e feriu centenas de pessoas durante um festival de música country. Os participantes do tópico “politicamente correto”, do 4Chan, instigaram os usuários a criarem a ideia de que o atirador era comunista. Durante toda a noite do atentado, usuários discutiram como criar engajamento para divulgar essa informação.
Este tópico ficou durante horas no “Top Stories” do Google, que admitiu a falha e apontou o grande número de links confiáveis na página para o sistema apontá-lo como relevante. Ou seja, se você tem citações ou referências suficientes para algo, "algoritmicamente", isso parecerá muito importante para o Google, aumentando seu compartilhamento.
O Facebook anunciou recentemente a contratação de mil pessoas mundo afora para auxiliar na verificação das notícias falsas publicadas em sua plataforma. O anúncio veio pouco depois das investigações sobre uma agência russa que adquiriu mídia destinada à eleitores dos Estados Unidos para influenciar na eleição americana.
Também está em fase de testes um botão que apresenta informações sobre a página responsável pelo compartilhamento. No vídeo abaixo, Andrew Anker, Diretor de Produto e Notícias do Facebook, explica que ao clicar no botão “i”, o leitor recebe dados com origem da fonte e histórico de menções positivas na rede. Uma mapa de calor ainda ilustra onde o link foi mais compartilhado e quem são os seus amigos que interagiram com o post.
Já o Google, em abril deste ano, apostou todas as fichas na parceria com o PolitiFacts e o Snopes, importantes agências de fact-checking. Ao buscar a veracidade de algo como “Dilma foi terrorista?”, o Google entrega no topo da página links verificados por essas agências, dando a entender que a informação é verdadeira, falsa ou parcialmente real.
Apesar de bem intencionada, a ferramenta não motivou o Google a alterar os algoritmo. Ou seja: ao mesmo tempo que a ferramenta demonstra o que é real ou falso, o motor de busca segue propagando páginas e blogs com informações irreais, dando preferência ao conteúdo melhor ranqueado.
Em julho, o Google reorganizou a rotina de trabalho da equipe de verificação humana das notícias, com o foco de filtrar melhor os sites que aparecem na primeira página e eliminar material ofensivo e enganoso. Paralelamente, a Universidade de Santa Clara trabalha no desenvolvimento de uma tag que vai servir de marcador de credibilidade das notícias. O projeto está sendo gerenciado por Sally Lehrman, diretora do premiado Trust Project.
No Brasil, a Lei Federal isenta o Facebook, Google e redes sociais similares pelo conteúdo produzido pelos usuários. Circunstância que estão forçando ainda mais os agregadores de conteúdo a terem maior participação na informação que eles consideram relevante a leitor.
Para agravar a situação, o presidente Michel Temer sancionou neste mês a tão aguardada reforma política. As principais mudanças são a criação de um fundo público de cerca de dois bilhões de reais para financiar as campanhas eleitorais, uma cláusula de barreira que pretende diminuir o número de partidos presentes na Câmara e o fim das coligações proporcionais, a partir de 2020.
Ao mesmo tempo, nas redes sociais, uma quase despercebida mudança promete fazer muito barulho em 2018: fica permitido o impulsionamento de conteúdo, ou seja, o pagamento para que postagens tenham maior visualização. Até as eleições passadas, essa mídia patrocinada era proibida durante o período eleitoral.
Resta-nos aguardar as regras do Tribunal Superior Eleitoral para o investimento em mídia paga nas redes sociais. Algo necessário, assim com há pra TV, rádio e material impresso. Até lá, contamos com o esforço do Facebook e do Google no enfrentamento às fake news.
Mas ainda existe uma coisa que seria útil a todos na tentativa de evitar o compartilhamento de qualquer notícia falsa: bom senso. Na falta disso, dá uma olhada nessas dicas:
Leituras Complementares
- Quatro sites que vão te ajudar a não compartilhar uma notícia falsa
- Como identificar a veracidade de uma informação e não espalhar boatos?
- Como parar de divulgar e ser enganado por notícias falsas
- Facebook começa a marcar notícias falsas, finalmente
- Como funcionará o sistema de checagem de notícias falsas do Facebook
- O que é fact-checking?
- Ganhe dinheiro criando notícias falsas
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