O Hermetismo é elegante ao declarar, em sua Lei da Polaridade, que:
“Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados.”
Começo falando o que você já sabe…
Existe um movimento enorme, que marcha como um exército em direção à comunicação massiva. São bilhões de pessoas alimentando inúmeros bancos de dados com informações pessoais, deixando-as disponíveis para todos os que queiram consultar. Em nome da conectividade. Conveniência. Alívio da solidão e da carência ao ser “curtido”.
A maior rede social que temos até então — obviamente estou falando do Facebook, aquela outra aba que está aberta aí no seu navegador — engloba aproximadamente um bilhão de usuários ativos, números referentes ao final do mês de julho/2012. O Foursquare, rede social com o objetivo de registrar os lugares por onde você passou ou ainda quer passar, tem mais de 20 milhões de usuários e, com o aumento das recompensas para pessoas que utilizam o serviço com maior frequência, a tendência é que esse numero seja cada vez maior.
Segundo o Mashable, 52% dos usuários do facebook utilizam a rede todos os dias. A mesma fonte ainda diz que quatro bilhões de “coisas” são compartilhadas todos os dias na rede. É um mar de gente compartilhando e consumindo conteúdo o tempo todo e, acentuando mais ainda o ponto, fazendo isso de todos os lugares.
Mas aparentemente, nem todo mundo está satisfeito com isso.
…para considerarmos o ponto oposto
O pólo oposto vem caminhando lentamente, mas fazendo barulho.
Inúmeras são as iniciativas como a do Guilherme, que cometeu Facbookcídio há alguns meses, ou o catártico relato de Steve Corona, CTO do Twitpic, contando como 30 dias sem redes sociais mudaram sua vida e dando uma aula de produtividade. Para não manter essa discussão só nas mídias sociais, cito também os relatos do Fabio Bracht, que ficou 6 meses sem telefone celular, e do João Pedro Braconi, falando sobre o dia em que deixou seu celular em casa para se conectar com pessoas no mundo real.
Criticar a cultura da conectividade está virando uma nova moda. Muita gente está incomodada com isso.
Atacando o problema errado
Apontar esses fatores como causa de problemas de produtividade, inibidores de interação social presencial ou qualquer outro tipo de característica que projete algum tipo de infelicidade ou insatisfação é um grande erro. É tirar da sala o sofá em que encontrou a mulher dando para outro cara. Só evita que você olhe diretamente para aquilo que te lembra do problema.
Cada uma dessas atividades tem um equivalente que foi substituído. As pessoas não se tornaram menos produtivas por causa das redes sociais, só conseguimos observar mais pessoas improdutivas a partir disso. A amostragem é que se tornou maior.
A secretária que não fez aquela ligação porque estava no chat, em outros tempos, provavelmente não teria feito essa ligação porque estaria conversando com a amiga pelo telefone, ou na copa da empresa. O cara que deixou alguns de seus projetos de lado porque ficou vendo vídeos no YouTube, provavelmente estaria vendo televisão. O introvertido que não esboçou nenhum sorrisinho para a gatinha que sentou ao lado dele hipnotizado no metrô com seu celular, estaria lendo um livro, um jornal, uma revista ou ouvindo The Cure no seu Walkman clássico modelo 1982.
O coro “desconecte das redes sociais e faça algo produtivo” é lindo, mas endereça o problema errado. A maioria das pessoas não saberia o que fazer. Gastamos horas, longas horas na frente de supérfluos digitais, porque não temos absolutamente nada melhor para fazer. Somos uma raça preguiçosa, inerte e que busca artifícios para esconder ansiedade e preguiça.
Eu hoje sento a bunda no banheiro junto ao meu smartphone e leio as últimas noticias do dia, enquanto as compartilho com pessoas que gosto. Antes, sentava e lia todos os rótulos de shampoo, condicionador e creme de barbear. Só mudei a forma com que me distraio. Não fosse desse jeito, seria de algum outro.
O que é novo talvez assuste mais, ofenda mais. Mas não existe muita diferença para quem fica na mesa se você levantou para fumar um cigarro ou puxou seu celular para verificar uma mensagem. Em ambos os casos, as pessoas estão sendo privadas daquela atenção, o fluxo da conversa está sendo quebrado. Só que uma forma, por incrível que pareça, é mais aceita que a outra.
Tenho com computadores e internet uma relação mais forte do que a média. Dentro da minha casa, são quase dez pontos de onde posso acessar a internet. Quem me conhece talvez não imagine, mas sou introspectivo e não faço amigos com facilidade. Desde meus 12 anos, algo em torno de 90% deles vieram da internet. Que me lembre, só namorei uma garota que não tenha conhecido “virtualmente” antes. Minha própria esposa, há pouco mais de um ano não passava de um avatar do Facebook — que me esquentava a espinha toda vez que ficava online.
A diferença é que tenho disciplina para me desligar disso na hora de interagir com meus amigos em um ambiente offline. Evito a todo custo tirar meu celular do bolso quando estou com eles. Ignoro as notificações até alguma algum momento em que verificá-las não signifique deixar de dar atenção para alguém.
Redes sociais são para socializar. Com os amigos. Se eles já estão ali, comigo, o resto pode esperar.
O que eu quero dizer é que apagar sua conta nessas redes não vai mudar sua vida em nada (pode até te privar de ótimas conexões e oportunidades), a não ser que você procure curar sua ansiedade ou preguiça. Achar que vai se tornar mais produtivo por não acessar um determinado site, quando há literalmente meio bilhão de outros, me parece um autoengano enorme.
Provavelmente você vai passar a ler mais e-mails, aumentar o tempo no Google Reader, criar intervalos de 20 minutos para assistir seriados ou quem sabe até começar a roer unhas. Qualquer forma de estímulo que alivie o problema real: a relação de impulsividade entre você e sua mente.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.