Update: o artigo tinha 108 nomes e já pulamos pra 129! Continuem deixando suas sugestões pra nós nos comentários, por favor. 

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Existe um movimento de transformação dos homens acontecendo?​

Curso de equilíbrio emocional para homens, que conduzi em BH (minha terra natal) nesse ano

Meu palpite é que sim, ainda que caminhe a passos lentos e fragmentados.

Essa energia vem ganhando força por meio da ação independente e corajosa de homens e mulheres em diferentes cantos do mundo. Fora as movimentações dos homens surgidas na década de 70 (impulsionadas por Robert Bly e outros), cujas sementes seguiram ao longo dos anos seguintes, hoje parece haver uma retomada dessa conversa.

Quando estive no Colóquio Latianomericano de Masculinidades em Recife, em 2017, entrei em contato com pessoas maravilhosas. E que atuam pela transformação das masculinidades há décadas, como Benedito Medrado, Sirley Vieira, Marcos Nascimento, Eduardo Chakora, Adriano Beiras, João W. Nery e tantos outros e outras.

Entretanto, a cobertura midiática sobre masculinidades ainda está muito negativa, centrada em torno de perguntas como:

Há uma crise dos homens?

Por que há tantos comportamentos masculinos que podem ser tão tóxicos? 

O quão danosos e frequentes são os comportamentos negativos dos homens?

Acredito ser hora de colocarmos mais energia em outras perguntas, em complemento às anteriores, tais quais:

Quais são as masculinidades saudáveis, desejáveis e possíveis de nosso tempo?

Onde estão os exemplos concretos que já existem e como podemos torná-los mais conhecidos? 

Como educar os meninos para o futuro, indo além dos nãos? Quais os sims e locais de potência para a formação de masculinidades seguras em jovens?

Como homens e mulheres podem cultivar relações mais construtivas, amorosas e de parceria legítima, na prática?

Quem são as pessoas, projetos e iniciativas fazendo isso acontecer, no Brasil e no mundo? Como fazem isso?

 

Eu, Túlio Custódio e Ivan Martins no Homens Possíveis 2017 (nosso tradicional evento de fechamento do ano)

Não à toa tenho evitado usar o termo "masculinidade tóxica" (explico seu significado nesse texto), como comentei aqui.

O debate em torno dos aspectos negativos dos homens é absolutamente necessário, nos ajuda a estruturar e entender os desafios a serem vencidos. Mas quando ele domina 90% da pauta e não sonhamos outras possibilidades, a mensagem arrisca se transformar em algo patológico.

O que muitos passam a absorver é que o masculino É tóxico. E que todos homens SÃO tóxicos, potenciais abusadores, opressores, estupradores.

Masculino se torna sinônimo quase de uma "doença", de algo a ser combatido. 

Soa exagero? Pois é exatamente o que a respeitada escritora e professora Lisa Wade propõe nesse artigo, que a gente pare de perder tempo e declare logo uma guerra à masculinidade:

"(…) precisamos atacar a masculinidade. Não digo que precisamos recuperar a masculinidade — isso é, encorajá-los a se identificar com uma versão mais gentil e bondosa disso.

(…)

O problema não é a masculinidade tóxica; o problema é que a masculinidade é tóxica."

Assustador. 

E tenho escutado falas similares em vários outros locais.

Buscas sobre os termos "masculinidades" e "masculinidades tóxicas", nos EUA, entre 09/06/18 e 09/07/18. Reparem como "masculinidade tóxica" está se tornando eixo da conversa sobre masculinidades. As buscas de ambos termos andam juntas

Não creio que essa visão nos ajude a avançar. Essa narrativa pode nos fixar em posições limitadas: homens reduzidos a um papel de eternos opressores e mulheres como eternas vítimas indefesas.

De um lado, isso pode aumentar o ressentimento, em especial das mulheres. E do outro, afastar muitos e muitas da conversa, em especial homens.

Mulheres vêem os homens ficando distantes, acuados e confusos com o debate, as deixando mais frustradas, raivosas e certas de que precisam falar mais alto e com mais intensidade. Homens recuam ainda mais — ou, pior, alguns atacam e se abrigam em discursos violentos, sexistas e preconceituosos.

Se instala uma dinâmica de acusação, ódio, denúncia e cabo de guerra. Todos saímos perdendo. Tenho observado esse ciclo ganhar cada vez mais força nas viagens e atividades que conduzo pelo Brasil, infelizmente.

A edição 2017 do "PAI: os desafios da paternidade atual" — esse ano faremos mais uma!

Publicarmos essa lista é um estímulo para mais abordagens construtivas, pacificadoras, articuladoras e nutritivas para a transformação das masculinidades e das relações entre os gêneros.

A lista:

Digressões à parte, vamos adiante.

Essa é uma brevíssima curadoria, escrita numa sentada. Reforço que não sou a autoridade suprema do assunto ou porta voz de alguma coisa além de mim mesmo e dos aprendizados do PdH. 

Tenho bem mais nomes a acrescentar, mas não sou tão organizado quanto gostaria e tenho referências e links espalhados nos meu favoritos de diversas redes sociais, no Evernote, no Google Docs, nas notas do IPhone e em infinitos papéizinhos espalhados em pilhas milimetricamente organizadas pela casa.

A lista, acima de tudo, está em construção e é colaborativa.

Reúne pessoas que trabalham com as mais diversas abordagens e visões — algumas das quais conflitantes entre si. O propósito é ser isso mesmo, um panorama.

Escrafunchem e completem com as sugestões de vocês. Se embrenhando nos links vão descobrir que vários dos projetos também possuem pequenos grupos fechados em redes como Facebook e Whatsapp.

Como podem notar, há preponderância de projetos e pessoas ligadas à paternidade, um dos gatilhos chave para a mudança nos homens. E também tem muita coisa em São Paulo. 

É um recorte ainda carente de aprofundamento fora das capitais, em outros continentes, nas periferias, em raça, masculinidades não-binárias e tantos outros aspectos.

A primeira edição do "Homens Possíveis", com homens e mulheres de várias cidades

Meu sonho seria vermos projetos e um calendário de eventos regular em todos os estados do Brasil. Será que chegamos lá?

Projetos nacionais:

Eventos:

Projetos internacionais:

Institutos/Redes/Campanhas:

Leia também  Bom dia, Luana Almeida

Pessoas que trabalham/defendem/estudam transformação das masculinidades (em diferentes territórios):

Várias das pessoas abaixo possuem outras atividades ou não se dedicam primariamente às masculinidades. A listagem não é uma ordem de importância, ela é tão incompleta quanto minha memória. Inserimos apenas pessoas que seguem vivas.

E no mundo:

  • Tony Porter (ativista anti -violência de gênero, educador, TED speaker)
  • Elizabeth Nyamayro (ativista, líder da campanha global #HeforShe, da ONU Mulheres, TED speaker)
  • Philip Zimbardo (psicólogo, TED speaker)
  • Jackson Katz (educador anti-sexismo, TED speaker)
  • Michael Kimmel (ativista, pesquisador, TED speaker)
  • Justin Baldoni (ator, produtor, ativista, TED speaker)
  • Colin Stokes (diretor da ONG Citizen Schools, TED speaker)
  • LB Hannahs (ativista, facilitador, aborda em sua fala no TED como é ser um pai transexual)
  • Emma Watson (embaixadora global da campanha #HeForShe)
  • Camila Pitanga (embaixadora brasileira da ONU Mulheres)
  • Josh Levs (jornalista, desafiou seu empregador a dá-lo licença paternidade, escreveu um livro ("All in") sobre e se tornou referência global em paternidade e trabalho)
  • Daniel Ellenberg (psicólogo e facilitador de grupos de homens desde 1985)
  • Arne Rubenstein (médico, facilitador de grupos e especialista em trabalho com adolescentes, fundou o The Rites of Passage Institute)
  • Gary Barker (fundador do Instituto Promundo, pesquisador, ativista)
  • Jordan Peterson (psicólogo, escritor)
  • Tim Morrison (facilitador de grupos de homens e trabalhos espirituais)
  • Tully O'Connor (facilitador de grupos de homens, trabalhos com espiritualidade e sexualidade)
  • David Deida (escritor, facilitador de grupos e trabalhos envolvendo espiritualidade e sexualidade)
  • Christina Hoff Summers (acadêmica feminista, autora do livro "The War Against Boys")
  • Camile Paglia (feminista, ativista, escritora de diversos livros, dentre eles "Free Women, Free Men")
  • Dan Doty (fundador do movimento Every Man)
  • Owen Marcus (escritor e facilitador de grupos, trabalha com homens desde 1992, co-fundador do Every Man)
  • Steve Dubbeldam (fundador do Wilderness Collective)
  • Warren Farrell (autor do fascinante livro The Boy Crisis, trabalha com masculinidades há décadas, uma das voz mais importantes no campo; vale muito assistir sua fala sobre a crise dos meninos no TEDx)
  • Cassie Jay (produtora do documentário The Red Pill, que retrata o mergulho de uma feminista no Men's Rights Movement, ao longo de um ano)
  • Terry Crews (ator, ex-jogador da NFL e ativista em defesa de masculinidades mais saudáveis)
  • 30 campeões do impacto #HeforShe (corporativos, governamentais e educacionais)
Roda sobre masculinidades que conduzimos na AMCHAM, com VPs das maiores empresas do Brasil

Quero ler mais sobre o que acontece no campos das masculinidades no Brasil e no mundo, por onde começo?

O que fiz pessoalmente foi criar um alerta no Google Alerts para os termos "masculinidade" e "masculinity". Vai receber updates periódicos fascinantes (além de notar o quanto o termo "masculinidade tóxica" tem dominado os debates em língua inglesa, o que considero um grande perigo). 

Vale buscar os mesmos termos no YouTube, só esse ano foram publicados mais de 3.000 novos vídeos à respeito, segundo report do Google BrandLab. 

Está empolgado e quer iniciar um grupo de homens? Comece por aqui:

Dá uma olhada no nosso artigo "Como criar um grupo de homens, um guia básico". Está bem didático e com inúmeros links e referências de aprofundamento, como livros, textos e filmes que valem à pena ser vistos.

Nem de longe é um texto exaustivo, apenas reúne algumas sugestões e aprendizados do que funcionou pra nós. Usem, adaptem e compartilhem à vontade.

Depois assista o maravilhoso "The Mask We Live In", sobre como os meninos são criados. Saiu do Netflix Brasil, mas você pode comprar/alugar aqui, vale cada centavo. E não deixe de ver nosso documentário original e projeto do coração: "Precisamos falar com os homens?".

Arremata a fatura escutando o podcast sobre "masculinidades e sentimentos" do Mamilos, do qual participei. E o podcast "masculinidade negra", do Lado Black.

Quem esquecemos de incluir na lista? Quer sugerir uma iniciativa sua ou que a gente corrija como descrevemos você/seu projeto?

Essa não é uma lista definitiva, nem de longe.

Aguardamos as sugestões de vocês com mais nomes de projetos, iniciativas e pessoas aqui nos comentários mesmo, para tornarmos essa lista ainda mais rica. Ela está só começando.

Os pedidos pra correções e ajustes também podem vir pelos comentários.

Um grande abraço!

Guilherme Nascimento Valadares

Fundador do PDH e diretor de pesquisa no Instituo PDH.