Como criar um grupo de homens, um guia básico

Existe um movimento de transformação dos homens acontecendo. Essa é nossa sugestão de como pode se tornar parte dele, aprendida após 11 anos de estrada.

"Esse encontro não é apenas dois dias de teorias, dados de pesquisa, práticas emocionais, meditação e roda de conversa, isso aqui é um chamado para vocês plantarem uma semente e levar adiante o movimento de transformação dos homens.

E então, como vão fazer isso acontecer?"

Com essas palavras abri e encerrei o curso de equilíbrio emocional para homens em BH, minha terra natal, final de semana passado. Batemos essa foto ao final, havia por lá pessoas de 20 a 71 anos:

Tenho oferecido essa semente por onde passo. Nas dezenas de empresas nas quais conduzi palestras e workshops nos últimos dois anos, nas escolas, ONGs, casas e instituições por onde passei. 

Assim como nas entrevistas e conversas das quais tenho participado, vide o podcast sobre masculinidades e sentimentos do Mamilos, que teve (está tendo ainda) uma repercussão absurda.

O chamado parece estar surtindo efeito. É tempo de nutrir o masculino com referenciais saudáveis.

Recebemos incontáveis mensagens, emails, DMs e cartas (cartas não, mentira) nos perguntando:

"Quero criar um grupo de homens. Quero conduzir um trabalho de abertura e transformação do masculino. Como faço?"

Por pura e simples incapacidade de priorizar isso, até hoje não havia escrito um artigo decente respondendo a essa pergunta. A espera acabou. Minha intenção é rabiscar o que tem funcionado nos trabalhos que conduzo e o que observei rodando o Brasil.

Esse não é o guia definitivo sobre como criar grupos de homens.

É apenas um pontapé, um recorte baseado em nossos 11 anos de vida, que talvez te ajude a começar um trabalho em sua cidade.

Esse texto é bastante longo e cada um dos links leva a materiais que são ouro. Use como material de consulta, não se preocupe em devorar tudo de um só vez. Pode causar indigestão.

Nossa maior aspiração é que esse breve desmanual coloque ainda mais lenha no movimento de transformação dos homens. 

Peraí. Existem vários grupos de homens pelo Brasil?

Sim, grupos como Guerreiros do Coração e o Clã Lobos do Cerrado existem há mais de 20 anos.

Inclusive esses e outros, como o Diamante Bruto, a Casa dos Homens, o Masculinities e o Círculo do Fogo Sagrado Masculino se encontraram no evento "Homens em Conexão", em Brasília, no dia oito de abril.

Estive presente e devo a vocês um relato completo aqui no PdH sobre como foi essa maravilhosa experiência.

O movimento é real. Apenas não está sendo contado na mídia, ainda. E sua articulação ainda é difusa, fragmentada em grupos de whatsapp e facebook, com atividades dispersas pelo país.

Infelizmente, hoje vivemos uma tremenda escassez de espaços, recursos e pessoas qualificadas para trabalhar com os homens. Essa realidade é prejudicial para nós e para as mulheres, isso precisa mudar.

Homens possíveis 2017, nosso tradicional evento de fechamento do ano | Foto: @ismaeldosanjos

Naturalmente, como em qualquer movimento, há diversas abordagens e visões sobre o que seriam transformações possíveis e desejáveis para o masculino.

A nossa visão está descrita em detalhes aqui.

Não cabe a mim ou ao PdH assumir um lugar de fala como porta voz de tudo isso. Podemos, entretanto, ser transparentes e oferecer aquilo no qual confiamos, contar do que vimos.

É esse o espaço que ocupamos. Somos mais um projeto em meio a tantos e tantas outras que buscam construir relações mais amorosas, construtivas e saudáveis, entre os próprios homens e com as mulheres. Independente das orientações sexuais, cores de pele e religiões dos participantes.

Introduções feitas, vamos adiante.

Como criar e sustentar um grupo de homens:

0. Qual sua real motivação?

Iniciar um grupo para ter as mesmas conversas e interações de sempre não é o que estamos discutindo aqui.

Você deseja começar um grupo para si, para ter o ego inflado, propagar crenças raivosas, aprender como seduzir e objetificar mulheres, reclamar do mundo?

Ou está realmente disposto a cultivar um espaço de escuta, oferecimento e aprendizado, que o desloque para fora de sua zona de conforto, que seja sustentável e ajude os participantes a florescer e nutrir melhores relações em todos os sentidos?

Homens Possíveis 2016, meditação com todos os presentes | Foto: Luiz Simonetti

Nossa sugestão é que seja um grupo de homens interessados em refletir, coletivamente, sobre como se relacionam consigo mesmos, com as pessoas à sua volta e com o mundo. Que seja um espaço de reflexão, florescimento humano, acolhimento e parceria.

E que isso tudo possa acontecer por meio de práticas diversas — diálogos, meditações, danças, caminhadas e esportes na natureza, fogueiras, dentre tantas outras possibilidades.

Não importa se vocês são de direita, esquerda, centro, pretos, brancos, amarelos, ateus, católicos, muçulmanos, heteros, gays, bi. A aspiração vale pra todos.

Acreditamos em grupos de homens inclusivos, não em grupos de homens hetero que se fecham para todo o resto — a sexualidade masculina ainda é uma caixa-preta, não tenha dúvidas de que você tem amigos ou conhecidos com vivências que eles evitam te contar, por medo de julgamento.

Somos contra grupos que defendam superioridade dos homens ou que propaguem visões preconceituosas à respeito de mulheres, pessoas gays, trans ou quaisquer outros segmentos sociais.

1. O primeiro encontro, o anfitrião e o caseiro

Não se preocupe em fazer o encontro perfeito, isso não vai acontecer. O principal é tirar a ideia do papel. Só não pense que isso significa desleixo. 

Homens Possíveis 2017 | Foto: @ismaeldosanjos

Anfitrião é a pessoa que abre a casa ou oferece um espaço para o encontro acontecer. Também pode ser a pessoa responsável pela condução específica

Caseiro é o articulador do grupo. É quem puxa, convida e acende essa chama. É mais trabalho do que parece ser caseiro. Exige logística, paciência, sensibilidade, tolerância a frustrações e bastante disposição. A recompensa é pavimentar um percurso de crescimento bonito e raro, para si e para outros. 

É comum que anfitrião e caseiro sejam a mesma pessoa no começo.

Com o passar do tempo, é saudável que haja vários caseiros (ou que todos assumam essa postura) e que a posição de anfitrião de cada encontro possa ser revezada, para que todos possam ter a experiência de planejar e conduzir uma atividade. Ensinar e oferecer é uma prática poderosa.

O caseiro vai cuidar dos seguintes pontos:

  • qual o propósito do encontro e do grupo? Consegue articular isso com clareza para si mesmo e para outros? Esse texto pode ajudar.
  • como convidar os participantes? Convites simples, diretos, bem humorados e de coração aberto funcionam bem.
  • checar quem realmente vem, para garantir presença. Não checar apenas um dia antes, em uma mensagem fria e distante. Manter a energia do convite e do encontro vivas nos dias anteriores ao encontro.
  • o local escolhido permite ao grupo sentar em roda, é acolhedor, tem a estrutura necessária (cabos, tomadas, iluminação...)?
  • o local é acessível, fácil de chegar?
  • o que as pessoas vão comer? Sugiro evitar álcool e industrializados, se possível. Optar por alimentação leve, saborosa, bonita e natural. Se não tiver dinheiro ou não souber como providenciar, peça ajuda. Pode se surpreender com o quão fácil ela vem. Também vale pedir pra que cada um traga algo.
  • as pessoas vão passar frio ou calor? Anteveja isso.
  • qual a proposta, a atividade central a ser realizada? Um encontro sem eixo pode ser frustrante para todos, assim como um encontro engessado e rígido, também. Minha sugestão é que se pense em uma atividade central e haja espaço flexibilidade para improvisos e conversas, também.
  • quanto tempo estima durar o encontro ou cada uma de suas etapas? Quem vai conduzir cada parte?
  • o anfitrião está ciente do que vai acontecer? Ele(a) apoia a ideia do encontro? Possui restrições, ressalvas, sugestões? Escute atentamente à pessoa anfitriã e agradeça por sua imensa generosidade.
  • se não houver verba para remunerar o anfitrião por abrir o espaço, quem vai ficar responsável por ser o primeiro a chegar? Quem será o último a sair e trancar tudo? Quem vai limpar e organizar, para que o espaço seja entregue como foi recebido?
  • ao final do encontro, articular as ações necessárias que o(s) próximo(s) aconteça(m). Mesmo local ou não? Qual a atividade seguinte, quem conduz? Quando e que horas? Teremos um calendário de atividades para os próximos meses?
  • articular qual peridiocidade de encontros manter, com aval do grupo. Sugiro semanal, no máximo quinzenal. Mensal costuma esfriar.
  • como tornar tudo isso algo prazeroso, com calor humano, alegre? Se a coisa for sempre pesada, séria e profunda demais, as pessoas cansam. Bom-humor e leveza são essenciais pra sustentabilidade do grupo.

Um espaço acolhedor costuma ser amplo, bem iluminado, com janelas e plantas, uma mesa de lanches leves e naturais, com sucos e chás também naturais. Se houver um jardim ou natureza perto, melhor ainda.

Encorajo sempre sentar em roda, pois o círculo é poderoso, comunica um senso de abertura e ombro a ombro imediatos. Se possível, sentar no chão é melhor ainda, em almofadas e colchonetes — tendo cadeiras disponíveis para pessoas com questões físicas.

 

Você pode comprar colchonetes por vinte reais aqui. Outra ótima alternativa é comprar pedaços de EVA e usar como colchonete, dá pra achar fácil em grandes papelarias e armazéns. Sai bem mais barato. Se o chão não for frio, talvez nem precise disso também.

Você pode comprar almofadas nos seguintes locais — já separei sugestões boas de sentar e meditar, pois meditação é uma excelente prática regular a ser adotada nos encontros.

Zafus:

Almofada meia lua:

Cadeiras (super confortáveis pra encontros longos) e banquinhos de meditação:

Círculo esperando começar um dos encontros que conduzi, em BH

* * *

Se você for estilo Rodrigo Hilbert, pode fazer sua própria almofada, com esse passo-a-passo.

Lembrando que tudo isso são sugestões, pessoal. Não um manual de conduta do exército. E que, como dizem os engenheiros, o ótimo é inimigo do bom.

1.2 Construindo um acordo de convivência

Sugiro que seja estabelecido um acordo de convivência no começo dos encontros.

Idealmente, um bom acordo é co-criado por todo o grupo, com facilitação do caseiro. Aqui um artigo com sugestão de como fazer isso no contexto escolar, que pode facilmente ser adaptado.

É importante contemplar quais serão os valores do grupo e deliberar sobre questões práticas como:

  • sigilo das informações — confiança é base
  • relação com atrasos, ausências. O grupo preza por pontualidade ou tem mais flexibilidade? Ausências devem ser avisadas com um mínimo de antecedência ou vale dizer isso poucas horas antes do encontro?
  • dinâmica de fala. Basta interromper alguém para pedir a fala? Levantar o dedo? Quando um fala, todos escutam? Pode parecer bobo, mas são questões importantes. Temas sensíveis ou polêmicos podem se transformar em brigas se isso não for alinhado. Participantes mais tímidos podem ser engolidos pelos mais dominantes.

Quais serão os valores adotados pelo grupo? Acolhimento, empatia, compaixão, abertura, não-violência, flexibilidade, altruísmo, respeito...?

Cabe aos participantes decidir.

Pensando em grupos com intenção de encontros a longo prazo, recomendo construir isso em conjunto. Resista à tentação de chegar com algo pré-escrito, pedindo apenas a validação dos demais.

Refletir conjuntamente é mais poderoso do que parece.

Registre o acordo de convivência por escrito e deixe em local visível, compartilhe com todos digitalmente, também. 

O acordo pode ser revisado e ajustado futuramente sempre que necessário. 

Quanto mais bem feita for essa etapa, melhor será o fluxo dos encontros. Confie que vale o tempo gasto.

1.3 Recursos para se tornar um melhor anfitrião e caseiro

Consuma com moderação. É fácil cair na armadilha da paralisia, já somos teóricos demais da conta

Treino é essencial, mais vale fazer encontros acontecerem do que ficar sozinho no quarto lendo sobre como fazer isso.

Túlio Custódio no Homens Possíveis 2017 | Foto: @ismaeldosanjos

Sugiro mesclar ações práticas e experiências com insumos teóricos. Mergulhar excessivamente em livros e vídeos pode ser como areia movediça.

Artigos — vale imprimir, encadernar em uma grande apostila e rabiscar com suas anotações:

Vídeos:

Livros:

Práticas e qualidades favoráveis a cultivar:

Formações:

Sem pressa aqui.

Você mesmo se capacitar como professor/praticante certificado pode potencializar seus movimentos. Eu sou formado no programa "Cultivating Emotional Balance" e conduzo cursos tomando essa metodologia como base, por exemplo.

Também fiz uma imersão em auto-compaixão com Carol Bertolino (professora certificada do método proposto pela Kristin Neff), sou praticante budista e vou a retiros de prática e silêncio regularmente nos últimos anos.

Isso abre portas, expande sua rede, te permite conduzir encontros com mais facilidade e pode também te transformar internamente.

Mas não tenha pressa. Tome seu tempo antes de decidir investir em uma formação e avalie com extremo cuidado o(a) professor(a) e as linhagens a que se associa. Uma boa dica é ver como estão os alunos de longa data do método: progrediram, estagnaram, se perderam? 

Há charlatões pra lá de carismáticos e com um baita sorriso estampado no rosto.

Sugiro a leitura do texto "Mudar é fácil... como a gente se transforma?", pra colocar tudo isso em contexto e te ajudar a decidir se deseja fazer uma formação e como escolher uma.

Dito isso, algumas formações que recomendaria:

* * *

Novamente, são só sugestões que funcionaram em minha vivência direta e na de pessoas que conheço. Nada disso está escrito em pedra e vou adorar escutar as experiências de vocês.

Ainda mais importante: não pense que precisa ter tudo isso pra começar, não se deixe paralisar por essas sugestões. Inicie onde e como está, hoje. Uma motivação ampla e um coração disposto valem mais do que qualquer lista de livros, palestras e textos.

1.4 Ferramentas úteis para organização e comunicação digital do grupo, assim como erros a evitar e algumas boas práticas

PAI 2017, nosso evento sobre paternidade | Foto: @ismaeldosanjos

Grupos de Whatsapp e Facebook são práticos e mais ágeis. Alternativas:

  • Discourse
  • Slack
  • outras opções para fóruns online, como vBulletin e bbPress (demandam conhecimento de tecnologia pra colocar no ar e bem mais energia dos caseiros pra se manter vivos, pois são menos práticos; mas são infinitamente mais estruturados e podem ser bons para grupos maiores, que aspiram sustentabilidade a longo prazo. é o que usamos na antiga Cabana e o que é usado n'o lugar, também)

O contra é que ambas plataformas já sugam muito de nossa atenção e são perigosas, como esse ex-designer de ética do Google brilhantemente explica nessa palestra do TED.

Cuidado com a sobrecarga de mensagens, isso pode exaurir o grupo e motivar a saída de algumas pessoas.

Também costuma ser bom estabelecer um acordo de convivência para a comunicação digital do grupo:

  • quais valores o grupo preza? Os valores base vão guiar como as pessoas se auto-regulam e como agem durante conflitos (que são inevitáveis)
  • a comunicação no grupo vai ser focada em temas relacionados ao masculino ou vale falar de tudo? 
  • quais são os limites que não podem ser cruzados?
  • há comportamentos podem levar à exclusão de alguém do grupo?
  • o grupo é fechado ou aberto a novas pessoas? Quais os critérios para se incluir alguém novo?
  • quando alguém novo entra, é esperado que essa pessoa seja acolhida e receba as boas-vindas? 

Como inspiração, sugiro ler as "Boas práticas ao comentar" aqui do PdH, resultado de anos apanhando e aprendendo.

Recomendo repostar o acordo de convivência sempre que uma nova pessoa entrar no grupo.

Para organização de tarefas e calendário, pode ser útil ao(s) caseiro(s) usar uma ferramenta como Trello ou Basecamp.

1.5 Descobri que há pessoas no grupo que pensam completamente diferente de mim! E agora?

Isso é um presente.

Vejo muito mais força em grupos diversos, nos quais as pessoas têm visões distintas sobre o mundo, política, sobre o que é o masculino e o feminino.

Tensões são bem-vindas. Não deixe de ler "Os automatismos concordo-discordo e as armadilhas do reducionismo", de Humberto Mariotti.

Use todo o resto dos links nesse guia básico para lidar e crescer com esse desafio. Apenas não saia correndo com o rabo entre as pernas ou culpe o outro pela sua própria inabilidade.

2. Ainda estou inseguro. Como dialogar sobre masculinidades sem me perder ou gerar ainda mais confusão em mim e nos outros?

Compreensível. Vamos por partes.

Caseiro não é guru, super-homem, professor. Você está sentado ombro a ombro com seus parceiros de jornada, para crescer, aprender e questionar em conjunto.

Entretanto, é bem fácil mesmo se perder no meio disso tudo.

Direto ao ponto, sugestões pra não fazer merda:

Se quiser ir realmente fundo, pega também a trilogia "A história da virilidade".

3. Montando um calendário de atividades para o grupo

Vejo grupos morrerem lentamente, pela energia dos caseiros ir caindo, em meio a dúvidas sobre quais atividades fazer e como tornar o grupo interessante, vivo.

Outra das turmas de nosso curso de equilíbrio emocional pra homens

Montar um calendário coletivamente, com participação e benção de todos, gera maior comprometimento de todos. De novo, resista à tentação de já chegar com algo feito. 

Um grupo que caminha junto vai mais longe. Deixe seu ego na gaveta.

Abaixo listo algumas sugestões para auxiliar na estruturação de um calendário.

Atividades regulares de relaxamento e acolhimento inicial, que recomendo abrirem todos os encontros, pra ajudar as pessoas "a chegar":

  • meditação
  • alongamentos e/ou posturas de Yoga, sempre com orientação pra evitar acidentes

Demais atividades:

1. Cine-debates com documentários

1.2 Cine-debates com ficções

2. Debates de livros (bom dar um mês para leitura do livro)

Aqui uma bela lista de livros sobre masculinidades, curada pelo Fabio, que conheci em Brasília, no encontro "Homens em conexão".

3. Trilhas e demais atividades na natureza

Contato direto com os elementos cura, abre caminhos. Não subestime a força de mato, cachoeira e roda de papo na fogueira.

4. Práticas de dança, cirandas, música

5. Práticas espirituais específicas, conduzidas por professores de confiança

6. Exposição de tema seguida de diálogo em roda, tendo participante do grupo como anfitrião

7. Exposição de tema seguida de diálogo em toda, trazendo convidado especial que seja referência no assunto (inclusive, mulheres)

8. Realizar trabalhos voluntários conjuntamente

  • Construir uma casa pra quem precisa, como a ONG Teto faz
  • Oferecer comida a quem precisa
  • Serem professores para pessoas carentes
  • Procurar uma ONG que precisa de ajuda e oferecer o apoio do grupo para colocara a mão na massa (o aspecto físico da ação é chave aqui, não estamos falando de só fazer uma transferência bancária)

4. Sustentando a energia do grupo: logística, entusiasmo e colaboração

Grupos chatos e sem energia morrem, cedo ou tarde. Grupos impositivos ou rígidos demais, também. Fique atento a isso.

PAI 2017 | Foto: @ismaeldosanjos

Não tenha medo dos conflitos, eles são inevitáveis. E também uma oportunidade para que o grupo solucione o obstáculo coletivamente e cresça.

Diante de dificuldades logísticas, peça ajuda. Vá, gradualmente, formando outros caseiros e distribuindo as responsabilidades. Você não está gerenciando uma empresa, o grupo é nutrido por processos colaborativos.

Abra espaços e permita a outras pessoas experimentar e errar, sem se sentirem julgadas ou humilhadas por isso.

O entusiasmo (ou falta dele) dos caseiros e anfitriões contagia.

Leia o artigo "Sustentando um espaço seguro" — original em inglês e aqui uma tradução livre em português. Pregue na parede do quarto, na sua testa, no armário, onde for melhor. Compartilhe com os demais.

Não sobrecarregue o grupo com diretrizes, informações, regras, proibições e boas práticas. Isso pode sufocar, tornar tudo pesado, lento, burocrático.

Sinta o fluxo e tenha jogo de cintura, como um bom jardineiro.

Celebrem! Joguem bola (ou baralho, ou o que o grupo preferir), façam churrascos (com carne ou vegetarianos, ambos valem), vão a festas, façam as suas próprias festas, façam trilhas, cantem, dancem, se permitam também falar besteiras e serem espontâneos.

Evite um clima de patrulha ou caça às bruxas. O espaço é pra ser se confiança, sigilo e naturalidade.

É um perigo constante vocês se tornarem um grupinho de homens virtuosos fakes que se acham melhores do que os outros. Já fiz e vivi isso, é um buraco do qual se custa a sair.

Realizem trabalhos voluntários. Usem a energia do grupo pra ajudar a quem precisa.

Aprenda a acolher quem pensa radicalmente diferente de você. Faça amizade com essa pessoa. E prepare-se para aprender muito sobre empatia, compaixão, troca e o poder de caminharmos lado a lado, respeitando as diferenças.

A transformação real é um trabalho sujo, longo, árduo. Ela vem de mansinho, quando menos esperamos. A continuidade é chave, bem mais do que finais de semana catárticos. Podemos viver um dia inesquecível e, se deixarmos de praticar, tudo aquilo some, vai embora.

Siga mantendo o grupo firme em torno das práticas. Treino, treino e mais treino. Não basta aspirar sermos mais lúcidos, generosos, altruístas, é necessário praticar isso.

Se estiver confuso sobre a que me refiro quando falo de "treino e práticas de transformação", sugiro mergulhar n'olugar, é um espaço de transformação coletiva, do qual sou um dos fundadores. Lá há um repositório imenso das mais valiosas práticas, estruturadas por professores de diferentes abordagens e tradições.

Grupos morrem, se transformam, se dividem. Ressuscitam depois ou nunca mais. E tudo bem, isso não significa falha. Respeite, honre e aprenda com esses ciclos.

Confie, tenha paciência e fé. Abrace a jornada, ela é pra toda uma vida.

Última dúvida: achei tudo incrível. Mas me sinto sobrecarregado com tanta informação e não tenho ideia de como começar...

Convide uns cinco amigos pra assistirem "The mask we live in" na sua casa, é o documentário sobre como os meninos estão sendo criados, tem no Netflix.

Ofereça um lanche, bebidas geladas e conversem sobre o que acharam do filme e como ele se conecta às experiências de cada um.

Depois disso volte nesse artigo e toque o barco adiante.

O primeiro passo é melhor que nenhum passo.

* * *

Celebração ao final do Homens Possíveis 2017 | Foto: @ismaeldosanjos

Seguimos juntos!

Que esse artigo sirva como semente e chama para o movimento de transformação dos homens ganhar ainda mais vida.

Vou adorar escutar os comentários e sugestões de vocês para tornarmos esse guia ainda melhor. Escrevi em uma sentada e, de antemão, peço desculpas por eventuais deslizes.

Por fim, se deseja conversar comigo para levar uma palestra, workshop ou curso para sua instituição; ou plantar uma semente desse movimento em sua cidade, envie um email em guilherme@papodehomem.com.br .

Um forte abraço a todos e todas. 


publicado em 17 de Maio de 2018, 22:00
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Guilherme Nascimento Valadares

Editor-chefe do PapodeHomem, co-fundador d'o lugar. Membro do Comitê #ElesporElas, da ONU Mulheres. Professor do programa CEB (Cultivating Emotional Balance). Oferece cursos de equilíbrio emocional.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

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