O 13º Exercício de Atenção nos propõe escolhermos um período de tempo (duas horas, um dia, uma semana) para falarmos somente o necessário.
Mas como saber o que é necessário falar?
Prestando Atenção e tomando Cuidado.
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Silêncio no templo
Em nosso templo, fazemos uma semana do silêncio por mês.
Não é uma semana de silêncio absoluto: como executamos uma série de funções e atividades em conjunto, algumas "falas funcionais" são necessárias.
Ironicamente, se fosse uma semana de silêncio absoluto tudo seria muito fácil.
Entretanto, as tais "falas funcionais" fazem da semana um enorme aprendizado.
Por que, afinal, o que é uma "fala necessária"?
Se estamos varrendo o chão e preciso de uma pá… é necessário perguntar a alguém onde está? Ou posso ir procurar a pá eu mesmo?
Se estamos tomando café da manhã e quero mel… é necessário pedir para alguém me passar? Ou posso levantar e pegar o mel eu mesmo?
Ou seja, o que é necessário falar?
De tudo o que eu falo, o que é realmente necessário ser dito?
De tudo o que eu falo, o que estou falando só para ouvir o som da minha voz ou satisfazer a vaidade do meu ego, por preguiça ou por hábito, por medo do silêncio ou por ansiedade do vazio?
A semana do silêncio acontece apenas uma vez por mês, mas o hábito de se perguntar "é mesmo necessário falar isso?" fica conosco pelo resto do mês.
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Medo do silêncio
Nos meus encontros "As Prisões", logo antes de começarmos, quando já estamos todas sentadas em um círculo de vinte pessoas que não conhecemos, esperando as últimas chegarem, há sempre uma pressão enorme para quebrar o peso do silêncio: as pessoas começam a falar do tempo ou do trânsito, do Temer ou do Tite, de qualquer besteira para aliviar a ansiedade do momento.
Ao longo do encontro, teremos muitas oportunidades de nos conhecer e de compartilhar confidências, mas, naquele momento específico, toda e qualquer fala será necessariamente oca e fútil: a única coisa que estará comunicando é que a falante não conseguiu aguentar a barra de ficar calada entre estranhas.
Então, peço silêncio, um silêncio consciente e deliberado, para observarmos nossos próprios medos e ansiedades:
Se não fosse a restrição, quais são as coisas que estaríamos falando? São necessárias? São úteis?
Nosso medo do silêncio comunica exatamente o quê?
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Mudança de nome: de Empatia para Atenção
A série Exercícios de Empatia passou a se chamar Exercícios de Atenção.
Outro nome possível teria sido Exercícios de Cuidado, pois o grande objetivo da série é estimular nas pessoas leitoras um maior cuidado umas com as outras. Entretanto, nem todos os exercícios se referem diretamente ao Cuidado. Além disso, a Atenção é um pré-requisito necessário ao Cuidado: sem Atenção não há Cuidado.
Por isso, Exercícios de Atenção é um nome que reflete melhor o espírito da série.
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Os encontros "As Prisões"
São instalações artísticas, polifônicas e interativas, improvisadas e colaborativas, onde praticamos escutatória e atenção, generosidade e cuidado, e exploramos os limites e possibilidades da comunicação cotidiana: o que falamos?, como falamos?, por que falamos?
O nome vem de uma série de textos que estou escrevendo desde 2002, tentando mapear todas as Prisões cognitivas que acorrentam nosso pensamento: Verdade, Dinheiro, Trabalho, Privilégio, Monogamia, Religião, Obediência, Sucesso, Conhecimento, Felicidade, Autossuficiência, Patriotismo, e a maior de todas, Eu.
Os encontros, realizados por todo o Brasil desde 2013, reúnem de dez a trinta pessoas, duram de um a cinco dias e são sempre diferentes, imprevisíveis, únicos.
Neles, enquanto discutíamos "As Prisões", os Exercícios de Atenção foram criados, gestados, aperfeiçoados, em um processo colaborativo com as pessoas participantes. Hoje, os encontros servem para praticarmos esses exercícios e para inventarmos juntas os próximos, em um processo que só poderia acontecer presencialmente, olho no olho e lágrima no suor.
Ninguém é obrigada a falar: toda fala é voluntária.
Ninguém é obrigada a pagar: todo pagamento é voluntário.
Para saber quando serão os próximos, visite minha página de eventos.
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