Já não se faz eletricidade como antigamente: o futuro da geração de energia em grande e pequena escala

Conheça novas tecnologias que prometem reduzir o uso de fontes poluidoras para gerar energia

Toda produção de energia elétrica causa algum impacto ao meio ambiente. É inevitável. Por isso, a preocupação em reduzir esses danos com tecnologias tem acelerado a busca por meios menos agressivos no setor energético.

A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a população mundial ultrapasse nove bilhões em 2050, sendo que a maior parte dessa multidão vai viver em centros urbanos. Diante disto, a demanda global por eletricidade poderá crescer até 80%.

O assunto é cada vez mais discutido e o número de empreendimentos de geração de energia sustentável é crescente, de pesquisas científicas a microsoluções. Mas será que uso das tecnologias sustentáveis para essa área é a solução para o futuro?

“O próprio cidadão tem que ser um consumidor eficiente, ele tem que conhecer e ter acesso às tecnologias eficientes”, comenta o professor do departamento de Energia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Gilberto de Martino Jannuzzi.

E apesar da recente evolução de pesquisas na área, ele lembra que o setor de tecnologias de energia ficou praticamente estável nos últimos 40 anos, em um período onde se privilegiavam as fontes de geração centralizadas e de grande porte, como refinarias, hidrelétricas e termelétricas.

“A parte emocionante disto tudo é que as coisas estão mudando. Claro que alguns países ainda estão atrasados, mas o conteúdo de inovação que começou a surgir nos últimos 15 anos, muito em função de progressos científicos que tivemos na área de equipamentos e telecomunicações, ajudou a acelerar esse processo”.

Januzzi ressalta ainda que países com melhor desempenho em eficiência energética, como o Reino Unido e a Alemanha, estão no topo graças aos esforços nacionais para a criação de legislações e incentivos da população.

Para ajudar neste processo, o conceito de ‘smartcities’ (ou cidades inteligentes) já desenvolve um tipo de gestão energética dinâmica, onde o consumidor pode controlar as luzes que estão acesas em sua casa através da internet, pode ligar e desligar equipamentos, entre outros recursos. É a telecomunicação - também conhecida por internet das coisas - se fundindo com a geração de energia.

“Muitas inovações vão ser importantes daqui para frente, como os equipamentos com pouca perda de energia e, principalmente, tecnologias que permitem armazenar eletricidade, através das redes inteligentes”, complementa Jannuzi.

Conheça agora algumas das alternativas para geração de eletricidade - e que podem, no futuro, fazer parte do nosso cotidiano.

Sol e vento: soluções em grande escala

Ok, isso nem é tão novo assim. Mas ainda falta muito para conseguirmos utilizar a energia solar e eólica em grande escala, o que pouparia nossos recursos hídricos para o abastecimento. Mas, enquanto isto não acontece, damos passos de tartaruga (mas andamos) com a criação de um número expressivo de pequenas usinas fotovoltaicas instaladas em residências, escolas, edifícios e comércios.

No Brasil, uma das vantagens de se produzir a própria energia é que é possível vender a eletricidade renovável domiciliar para a rede pública - e receber uma graninha ou abatimento na conta por isso. O Ministério de Minas e Energia (MME) estima que até 2024, cerca de 700 mil consumidores residenciais e comerciais instalem os painéis fotovoltaicos em seus telhados. Atualmente, a energia solar contribui apenas com 0,2% da matriz energética.

Fusão nuclear para o futuro

Recentemente, cientistas da Alemanha deram um grande passo em relação às pesquisas de energia por fusão nuclear. A máquina Wandelstein 7-X, capaz de gerar plasmas a uma temperatura mais alta que o interior do sol, obteve o primeiro plasma de hélio, por um décimo de segundo.

Parece pouco, mas esta é a aposta de muitos cientistas para uma geração de energia segura, cujos estudos acontecem há pelo menos 30 anos. “A tecnologia aproveita a energia armazenada no núcleo de um átomo. Então, essa energia é liberada quando dois átomos mais leves se fundem para formar um átomo mais pesado”, explica o físico da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Artaxo.

Em teoria, a fusão nuclear não gera isótopos radioativos, ao contrário da energia oriunda de usinas nucleares. Também não há produção de rejeitos radioativos, conforme explica Artaxo. “É seguro e dá para produzir energia em larga escala, mas a grande dificuldade ainda é desenvolver um reator de fusão nuclear que possa ter um funcionamento continuo e por longo prazo. Se conseguirmos, esta é uma grande possibilidade para o futuro”.

Movimentos que geram energia

O campo de futebol alimentado por energia cinética no Morro da Mineira, no Rio de Janeiro, foi inaugurado oficialmente em setembro do ano passado pelo Pelé (Divulgação/Shell)

A energia utilizada na prática de um esporte, caminhadas ou danças, já pode ser aproveitava para gerar eletricidade. Exemplo disto são as placas da empresa britânica Pavegen Systems, que desenvolveu um mecanismo para produzir eletricidade através de ‘pisadas’.

A maior instalação das placas geradoras de energia cinética humana está no campo de futebol do Morro da Mineira, no Rio de Janeiro. Reconstruído pela Shell, a comunidade se tornou a primeira do mundo a ter um espaço esportivo cujos movimentos dos jogadores geram luz.

De acordo com a gerente de comunicação corporativa da Shell Brasil, Simone Guimarães, o projeto é parte do programa #makethefuture e visa inspirar jovens empreendedores a olhar para a ciência e engenharia como opções de carreira, especialmente para desenvolver soluções energéticas para o futuro do planeta.

E quanto maior o número de placas e ‘pisadas’, mais energia é gerada. Por isso, a iniciativa também é desenvolvida em locais de grande tráfego de pedestres, como o Aeroporto Heathrow, no Oeste de Londres, na Federation Square, em Melbourne, em Riverdale School, Nova York, além de algumas estações de trens de Paris.

Energia eólica humana

(Divulgação: AIRE)

É isso mesmo. Se cientistas afirmam que o corpo humano tem um grande potencial de geração eletricidade, o processo de respiração não poderia ficar de fora das iniciativas. Foi pensando nisso que o designer brasileiro e especialista em sustentabilidade, João Paulo Lammoglia, decidiu aproveitar a troca de gases para criar o AIRE.

O aparelho funciona como uma máscara que converte a energia eólica - fornecida pela respiração - em energia elétrica para recarregar pequenos dispositivos eletrônicos. O projeto ainda não está disponível no mercado, mas já ganhou prêmios como o RedDotAward, a maior competição de design a nível mundial.

“O conceito por trás de AIRE é que o ser humano pode gerar sua própria energia e contribuir para sustentabilidade do planeta. O projeto serve de fonte de inspiração para outras aplicações, como o uso dessa tecnologia para geração de energia para pequenos aparelhos intracorporais, como os marcapassos”, explica o carioca, mestre em desenho industrial pela Universidade de Eindhoven, na Holanda.

Gadgets

Imagine-se em um ambiente sem sinal de eletricidade para carregar o celular. Agora, visualize você carregando o celular com o dedo ou colocando-o sob o sol. Apesar de ainda não serem tão utilizadas, pequenas baterias recarregáveis por meio da luz solar ou movimentos já são vendidas no mercado.

Assim como esse dispositivos solares, capazes de carregar celulares, tablets, câmeras e outros equipamentos com a energia captada por pequenas placas fotovoltaicas, existem outras invenções ainda mais ousadas, porém práticas e úteis, como as mochilas solares.

As empresas Eclipse Solar Gear, do Texas, e a Birksun, da California, ambas dos Estados Unidos, são pioneiras no desenvolvimento desses equipamentos e incentivam o uso desta alternativa. Os produtos são ideais para quem curte viajar e fazer trilhas. Os preços não são tão inacesíveis e variam entre U$ 169 e U$ 250.

Mochila Solar

Telhas solares

Telhados que já possuem painéis fotovoltaicos são uma das apostas para o futuro. Os custos para instalação das pequenas usinas solares vêm sendo barateados nos últimos cinco anos, e para facilitar ainda mais, algumas empresas já produzem as telhas solares.

Recentemente, as empresas italianas Area Industrie Ceramiche e REM desenvolveram as telhas ‘Tegola Solare’. Elas são de cerâmica, mais leves que os modelos espaçosos, mantém a aparência de um telhado tradicional e podem substituir, facilmente, os painéis solares.

Segundo o fabricante, a inovação pode produzir cerca de 3 kw de energia em uma área de 40 metros quadrados. Se a instalação for feita no telhado inteiro, daria para suprir as necessidades de toda a residência.

Carros elétricos

Os carros movidos a energia elétricas estão cada vez mais comum e a alternativa pode ser solução para o setor de transportes público. Exemplos mais comuns são os carros fabricados pela Tesla Motors Inc., uma marca de automóveis norte-americana, que desenvolve e vende veículos elétricos de alta performance.

A empresa ganhou destaque depois de produzir o primeiro carro desportivo totalmente movido a energia elétrica, o Tesla Roadster. Porém, só primeiro trimestre de 2013, a fabricante registrou lucro.

Em algumas metrópoles do mundo, os ônibus elétricos já são bastante utilizados para transporte coletivo urbano. Em São Paulo, por exemplo, os veículos já começaram a ser testados, com autonomia das baterias de até 260 quilômetros.

Conhece outras alternativas para gerar energia? Deixe nos comentários suas sugestões.

Veja os outros textos do nosso percurso sobre sustentabilidade

Esse texto faz parte do nosso percurso sobre sustentabilidade, que tem 4 textos destrinchando o tema de forma prática.

Aqui você pode ler todos os artigos do percurso:

1. O clima no mundo enlouqueceu. E eu com isso?

2. A revolução energética já começou e você não vai querer ficar de fora

3. Energia sustentável, boa para o planeta e para o bolso

4. Já não se faz eletricidade como antigamente: o futuro da geração de energia em grande e pequena escala


publicado em 19 de Abril de 2016, 16:52
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Luana Carvalho

Amazonense, jornalista com especialização em gestão de conteúdo. Em 2015 cobriu a reunião de líderes mundiais em Nova York, onde Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram firmados.


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