Partido verde alemão quer bancar sexo para pessoas com deficiência

Um projeto de lei que pode levantar uma puta discussão.

O partido verde alemão propôs uma medida que "bancaria" profissionais do sexo para pessoas com deficiência e sem condições financeiras. A "assistência sexual" seria receitada por médicos e os custos cobertos com o imposto pago pela população. A ideia veio da porta-voz Elisabeth Scharfenberg, e a história toda gira em torno do sexo como aliado do bem estar social e da perspectiva de que esse é um direito de todos.

Se você achou o papo estranho, algumas questões podem ajudar a aumentar os elementos da discussão. Por exemplo, a prostituição lá é encarada de uma forma diferente, ao menos nos termos da lei. Ao contrário do que acontece no Brasil, a atividade de profissionais do sexo é legalizada na Alemanha.

A inspiração para essa proposta veio de perto. Na Holanda, país vizinho, a maconha não é a única coisa polêmica a ser usada na medicina. O sexo também entra na conta e é visto como algo a ser colocado na lista de despesas médicas, quando necessário.

 

E por aqui?

Se na Alemanha a demanda está nesse ponto, com recortes médicos e atenção para deficientes, no Brasil a conversa é feita sob outras perspectivas. A prostituição, reconhecida como ocupação profissional pelo Ministério do Trabalho, é um tema que vem sido largamente discutido nos últimos tempos, principalmente por conta do projeto de lei Gabriela Leite, cuja proposta era regulamentar a atividade. Um dos principais conflitos nessa história toda diz respeito à linha tênue que separa a prostituição da exploração sexual. 

O que uma medida como essa nos mostra?

Pessoas são podadas sexualmente em diversas situações. Casamento falido, dificuldade nas relações, quebra de expectativa, questões médicas. E, como a gente já discutiu aqui no PdH, esse barulho rola até por conta da idade avançada, como se alguém abandonasse seu aspecto de ser sexual apenas por conta do avançar das primaveras. 

No caso do que estamos tratando aqui, ver uma medida como essa sendo pensada como algo necessário esconde, ou melhor, expõe uma enorme falha. Aponta que existe uma tendência nossa — e quando digo "nossa" estou me referindo às carapuças que se servirem da frase seguinte — a podar sexualmente essas pessoas.

Pra além de pensar a respeito da proposta do Partido Verde Alemão e da prostituição, fica o convite para avaliarmos nosso relacionamento, afetivo ou não, com pessoas que possuem algum tipo de deficiência. Vale a pena quebrar com os mitos em relação a esse assunto e deixar de lado os medos, indiferenças ou preconceitos. 

Eles e elas também transam. Também gozam. Também sentem desejo e também querem ser desejados. E, pelo menos pra mim, repetir o título desse texto em voz alta ainda parece bem estranho.


publicado em 24 de Janeiro de 2017, 19:30
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Carol Rocha

Leonina não praticante. Produziu a série Nossa História Invisível , é uma das idealizadoras do Papo de Mulher, coleciona memes no Facebook e horas perdidas no Instagram. Faz parte da equipe de conteúdo do Papo de Homem, odeia azeitona e adora lugares com sinuca (mesmo sem saber jogar).


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