A revolução energética já começou e você não vai querer ficar de fora

Quem está movimentando as coisas pra gente conseguir usar energias mais limpas?

Você já deve ter ouvido muitas vezes que nosso planeta está indo para o buraco. Não exatamente para um buraco negro, aquele que pode sugar estrelas e sistemas planetários de uma vez, como em filmes de ficção científica.

Mas resumindo: a Terra está mais quente porque estamos poluindo mais. Com isso, o clima está maluco: faz mais calor, mais frio, chove muito ou nada. E isso está nos impactando fortemente.

A culpa é de quem? De todo mundo, oras. Já mostramos que os países se comprometeram em um acordo internacional que farão de tudo para evitar o aumento da temperatura em 2 graus centígrados até o fim deste século. Mas é preciso mostrar que já tem gente descruzando os braços em favor do planeta.

Alemanha, China, Estados Unidos e Japão lideram a empreitada verde com investimentos pesados em energia limpa, como a solar e a eólica, em vez dos tradicionais combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo (além de seus derivados).

E não sou eu quem está falando. Os números comprovam isso. De acordo com um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), só em 2014 houve no mundo inteiro um aumento de 17% em investimentos em energias renováveis (alta de 8,5% em relação a 2013). Os números podem não ser tão altos, mas refletem uma movimentação dos países em torno deste tema.

Dados mais recentes da Agência Internacional de Energia (AIE) mostram que em 2014 as renováveis representaram quase a metade de todas as novas usinas construídas no mundo. A informação é do relatório “World Energy Outlook 2015”.

Mas é preciso lembrar que muitos países só conseguiram demonstrar crescimento nesta área graças a políticas de subsídios, ou seja, a boa e velha ajudinha financeira. Ainda assim, nada comparado aos US$ 450 bilhões de ajudinha dada para o uso de fontes fósseis, quase quatro vezes mais do que empurrão dado às renováveis em 2014.

Mas o jogo já começa a mudar.

Exemplos práticos ao redor do mundo

A China, que em 2013 liderou o mundo na produção de energia renovável, se manteve à frente também em 2014 na produção das energias eólica e solar fotovoltaica, além de melhorar a distribuição dos megawatts gerados por meio de redes inteligentes. Com esse crescimento no país asiático, os custos de tecnologias caíram bastante – a inovação até ajudou, mas a expansão do mercado foi o ponto forte.

Além de produzir em massa placas fotovoltaicas, que captam energia solar, os chineses conseguiram ultrapassar os Estados Unidos, Japão e Austrália na fabricação de turbinas que são movidas com a força dos ventos.

Aliás, o país lidera o avanço das renováveis na Ásia-Pacífico e, segundo mostra o relatório da GlobalData, governos daquela região se inspiraram na China e começam a adotar instrumentos políticos benéficos para o planeta (e para o bolso), como tarifas feed-in, em que cidadãos que produzem energia renovável podem fornecem o excedente à rede elétrica governamental, recebendo uma tarifa das concessionárias. Essa política também existe no Brasil, mas ainda está engatinhando

Era do hidrogênio no Japão

O Japão é outro que aposta muito nas energias renováveis, que ganharam ainda mais importância após o acidente nuclear de Fukushima, em 2011. Sexto maior emissor de gases-estufa do mundo, o país é um dos mais empolgados quando se trata do hidrogênio, que não emite poluentes ao longo de sua combustão, somente vapor d'água.

O elemento mais abundante do universo é uma alternativa ao uso de fontes poluentes. Células de combustíveis com a substância produzem energia com a ajuda de uma reação química, que também emite calor. Essa emissão calorífica é capturada para levar água quente às casas.

O uso de hidrogênio pode ajudar a economizar energia, lidar com questões ambientais e aumentar a segurança energética, de acordo com Chihiro Tobe, diretor de um departamento do Ministério da Economia, do Comércio e da Indústria encarregado de promover as células de combustível. O governo prevê um mercado de aproximadamente um trilhão de ienes (aproximadamente US$ 8,3 bilhões de dólares) anuais para o setor em 2030.

EUA mais verdes

(Crédito: Ethan Miller/Getty Images)

Os Estados Unidos são hoje o país que mais utiliza combustível sustentável no mundo, concentrando cerca de 25% do total global (o gás natural e fontes como as placas e torres eólicas geraram mais de 40% da eletricidade em 2014 e são fonte de 93% da capacidade energética construída no país desde 2000).

O aumento de fontes alternativas por lá – que representam 13,2% da energia consumida no país norte-americano – está ligado aos incentivos fiscais adotados. Outro grande impulsionador foi o rápido desenvolvimento de inovações em tecnologias, como novas formas de extração de gás natural, painéis fotovoltaicos mais baratos e eficientes, venda de veículos movidos a gás natural e eletricidade, e utilização de matrizes inteligentes.

De acordo com o relatório Energia Sustentável na América, da Bloomberg, “o ecossistema mais amplo dos EUA está claramente se preparando para um futuro no qual fontes sustentáveis de energia desempenham um papel muito maior".

(Bairro de Freiburg, na Alemanha, com paineis solares instalados no telhado das casas - Crédito: Divulgação)

Revolução alemã

A Alemanha é considerada o principal exemplo a ser seguido. Utilizando 11,7% da energia renovável total do planeta, os germânicos contam com cerca 27% de sua eletricidade gerada a partir de fontes verdes, principalmente eólica e solar. Esse número representa três vezes mais do que a Alemanha produzia há uma década.

Um dos pontos de mudança é apontado como o vazamento na usina nuclear de Fukushima, fato que levou a chanceler alemã Angela Merkel a declarar que seu país desativaria todos os reatores nucleares até 2022 (nove já foram desligados desde então). Porém, a mudança tem força na cultura popular.

A revolução energética alemã teve início dentro das casas há pouco mais de duas décadas: indivíduos e associações de cidadãos começaram a produzir sua própria energia e vendê-la ao governo – ação que bombou mesmo nos últimos dez anos.

Atualmente alguns deles são responsáveis por metade do investimento em fontes renováveis. Eles instalam placas de energia solar ou turbinas eólicas caseiras (estas últimas são mais raras por restrições de instalação) e vendem os quilowatts captados, obtendo lucros que alcançaram até o dobro do custo que tinham com a conta de luz. Mais de 1,5 milhão de pessoas (2% da população) vendem eletricidade para a rede.

E na terrinha?

Manifestação do Greenpeace em floresta brasileira - Crédito: Marizilda Cruppe/Greenpeace

O Brasil, país em desenvolvimento que já polui como um desenvolvido, consegue se assegurar entre as dez nações que mais investem em energia renovável. De acordo com a ONU, foram investidos aqui US$ 7,6 bilhões em  renováveis somente em 2014.

Mas ainda somos dependentes dos combustíveis fósseis, que desbancaram recentemente o desmatamento como a principal causa de emissão de gases de efeito estufa, de acordo com o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), da organização Observatório do Clima.

Está mais do que na hora de investirmos mais em fontes de energia renováveis, além das hidrelétricas. Aliás, precisamos disso para ontem.

Porém, ser atrasado, neste caso, pode não ser uma notícia tão ruim assim. Segundo análise de Michael Taylor, da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA, em inglês), entrarmos em um mercado mundial de desenvolvimento de fontes solar e eólica mais maduro e seguro pode nos garantir custos menores para implementar projetos.

Ele aponta ainda que o aproveitamento solar do Brasil (medida que verifica o quanto de energia realmente é utilizada no país) chega a 26%, enquanto a eólica varia de 32% a 55% - níveis bem acima ao de outros locais ao redor do globo, o que nos torna competitivos num mercado global que busca uma matriz cada vez mais limpa.

A crise hídrica, sem dúvida, foi um grande sinal de que é preciso uma mudança no setor energético. Sem água nas hidrelétricas do Sudeste, as termelétricas, mais poluentes, entraram em ação. Isso mostrou ao governo federal a necessidade de diversificar mais a matriz brasileira.

Atualmente, a base do sistema elétrico brasileiro é composta principalmente de usinas hidrelétricas e térmicas. Mas de acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), há um trabalho sendo feito para expandir o uso de fontes limpas, inclusive a geração por biomassa, que utiliza o bagaço da cana-de-açúcar para gerar eletricidade.

Entre os destaques está a instalação de placas fotovoltaicas flutuantes no lago da hidrelétrica de Balbina, no interior do Amazonas. Essas placas vão utilizar a estrutura de transmissão já existentes para escoar a energia gerada.

O projeto, em fase experimental, será o primeiro do país a utilizar energia solar dentro da água, apesar de já existirem experiências similares lá fora. A vantagem dele é a ausência de custos para implementação, além do fato de se poder gerar energia mesmo nos períodos de seca, quando há até mais incidência solar.

“As energias renováveis são realmente o futuro", acredita Virgílio Viana, CEO da instituição ecológica Fundação Amazonas Sustentável (FAS), e considerado um “solucionólogo dos problemas da Amazônia”.

Para Viana, o fato de o Brasil estar atrasado quando se fala em energia renovável não tira o brilho de todos os avanços que estamos alcançando. “Esse impulso necessário para a energia limpa depende muito de duas coisas: incentivo, seja financeiro ou estrutural, e avanços tecnológicos. A tecnologia já está resolvida, basta ser implementada”, afirma.

(O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, mostra experimento com placas fotovoltaicas flutuantes no lago da hidrelétrica de Balbina, no Amazonas - Crédito: Divulgação

Governo Federal diz que país avança no tema

Em entrevista ao PapodeHomem, Eduardo Braga, ministro de Minas e Energia, minimiza obstáculos que ainda enfrentamos para o deslanche total das fontes verdes de geração de eletricidade.

“As energias renováveis estão cada vez mais baratas e competitivas em comparação a outras fontes, como a hidráulica. No mais recente leilão de energia, realizado no dia 13, a fonte solar foi contratada pelo valor de R$ 297 o Megawatt/hora, abaixo dos R$ 301 o Megawatt/hora registrados no leilão anterior, com deságio recorde de 21,9% para a fonte solar. Esses dados apontam para a consolidação das energias renováveis, com cada vez mais empreendedores instalados no país e maior oferta nos leilões”, declara.

O leilão ao qual se referiu o ministro foi o de Contratação de Energia de Reserva (LER), o segundo realizado pelo Governo Federal,  que pretende entregar cerca de 1 GW de capacidade solar e pouco mais de metade de um gigawatt (548.2 MW) de energia eólica. Os empreendimentos recém-contratados devem entrar em operação até novembro de 2018 e o governo estima que o custo desses projetos será de R$ 6,8 bilhões.'

O MME afirma ainda ter conseguido, apenas em 2015, desligar 2 mil MW de usinas térmicas de maior custo, medida que permitiu uma economia de R$ 5,5 bilhões em 2015 e contribuiu para redução da conta de luz do consumidor.

Para Braga, o fato de sermos um país com ventos e sol abundantes, torna quase obrigatório nosso papel em aproveitar o uso dessas fontes. “O Brasil tem um grande potencial de geração eólica e solar, tendo o fator de capacidade entre os melhores do mundo. Se há menos de dez anos a energia eólica era praticamente inexistente no país, hoje já temos 6.629 MW instalados, o que representa quase 5% de toda a capacidade do país de geração de energia”, complementa.

Mas não adianta só esperar os incentivos governamentais. Pelo Brasil, mais de mil consumidores já produzem parte da energia que consomem, de acordo com dados da Aneel. E esse número pode pode ser ainda maior com a sua ajuda.

Acompanhe nosso percurso sobre sustentabilidade

Esse texto faz parte do nosso percurso sobre sustentabilidade, que vai ter 4 textos destrinchando o tema de forma prática.

Na próxima reportagem vamos mostrar como os brasileiros estão se virando para proteger o planeta e o próprio bolso.

Enquanto isso, aqui você pode acompanhar todos os textos do percurso:

1. O clima no mundo enlouqueceu. E eu com isso?

2. A revolução energética já começou e você não vai querer ficar de fora

3. ...


publicado em 05 de Abril de 2016, 00:10
Victor affonso

Victor Affonso

Victor Affonso é jornalista especializado em Mídias Digitais. Natural de Manaus (AM), foi repórter do jornal A Crítica, onde atualmente é editor-chefe do Portal. Foi o único representante da Região Norte escolhido para a 30ª edição do Curso Abril de Jornalismo.


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