[+18] Bom dia, Isis Viana

A Isis foi fotografada pelo Ramon Dúnadan.

Nota editorial: acreditamos que nudez, sensualidade, desejo e diversidade são discussões essenciais de nosso tempo. E que há espaço para tratar disso sem objetificar e ofender, mas sim valorizando toda a riqueza do masculino e do feminino. Para entender porque publicamos ensaios de homens e mulheres e saber mais sobre o que aspiramos para a série "Bom dia", leia o que escrevemos aqui. E se tem um ensaio que deseja publicar, fale conosco pelo luciano@papodehomem.com.br .

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Com os padrões impostos pela sociedade, somos ensinados a nos odiar em todas as formas para que possamos consumir. Dessa forma, comprei a imagem de que um corpo ideal é aquele que envolve um peito e uma bunda enorme, ao mesmo tempo que a barriga é chapada e sem gorduras abdominais – algo impossível biologicamente falando.

Nesse sentido, desde nova odiei meus pequenos peitos – tinha certeza de que colocaria silicone – e me preocupava muito com celulites e estrias. Enfim, quando comecei a me tratar e entender de onde vinha todo esse ódio pelo meu corpo fui tentando desconstruir a imagem que tinha de corpo ideal. Parei de usar química no cabelo e todo o resto veio junto. Passei por 2 anos de transição, tentando entender quem eu era no mundo, de onde aquilo tudo vinha, os meus processos corporais e de onde aqueles padrões iniciais tinham saído.

Percebi que minha mãe me influenciou muito nessa busca por padrões: muito magra, mas sempre preocupada com o peso, além, de alisar o cabelo há muito tempo.

Com o tempo fui ganhando meus quilos perdidos e me preenchendo de aceitação. A ideia do silicone foi por água abaixo e comecei a realmente amar meus peitos pequenos.

Muitas pessoas pensam que a aceitação é passar a achar seu corpo lindo, o que é muito legal, mas pra mim é somente entender o que faz parte de você e que isso conta uma história.

Hoje em dia, percebo que mesmo sendo uma menina padrão, magra e branca, fui vítima desse sistema que ensina a nos odiarmos. Penso que é muito mais complicado quando as pessoas pertencem a outras minorias.

Mas, o tempo nos faz amadurecer e perceber que não precisamos de ser tão duras com nós mesmas. Algo que foi construído por anos não vai se desconstruir ao ter contato com um movimento social, principalmente com teoria.

Precisamos ser pacientes, já que o amor é cultivado e construído diariamente.

A nudez pra mim é muito natural, então pra mim isso nunca foi um problema - estar sem roupa na frente de uma pessoa. Mas já foi o caso de eu me sentir tímida com roupa ou não, né?! Na frente de outras pessoas.

Quando o Ramon me propôs o trabalho que envolvia nudez para montar o varal, eu fiquei pensando como seria porque sou uma pessoa tímida muitas vezes. E, na época, mesmo conhecendo-o muito pouco, não me senti tímida. Fiquei bem à vontade até, como se não estivesse fazendo nada de diferente. Nem mesmo me senti em uma sessão de fotos.

Senti tranquilidade mesmo, sempre muito respeitada, em nenhum momento houve desconforto. Uma experiência que agregou muito, é sempre muito bom ser fotografada pelo Ramon.

Nua é a forma como vim ao mundo, como eu realmente sou, sem marcas de roupas, preços, expectativas, apenas o eu da maneira mais simples. Como tímida que sou, me sinto muito bem quando posso ficar da maneira que mais me transparece, uma ninfa da floresta.

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publicado em 19 de Novembro de 2018, 12:54
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Isis Viana

20 anos, estudante de tudo o que a vida pode oferecer. Feminista, aspirante a modelo nas horas vagas.


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