[Convocação] Estamos em busca de Bom dias com homens e de mais diversidade de corpos e peles

Homens, quebrem essa caixa! Fotógrafos, fotografem mais corpos e tons de pele fora do padrão e nos enviem. A exploração do Bom dia – em torno do nu, sensualidade e sexualidade – segue.

Quase toda semana nos perguntam: "Por que o site se chama papo de homem, esse nome não seria excludente, clube do bolinha demais?" .

Respondo que não. A ideia é desconstruir os limites do que seria um papo de homens. Acreditamos que há vida além de mulher, cerveja e futebol, e dos papéis de gênero usuais. Afinal, papo de homem não é papo de hétero.

Não aspiramos impor que "o diferente é que é legal". Só quebramos as caixinhas de sempre pra mostrar que é ok ser como quisermos. "O diferente também é legal" seria nossa mensagem, mais nada.

Foto do projeto #365nus, por Fernando Schlaepfer

Enxergo nossa jornada editorial ao longo dos anos como um processo bem humano.

Mais do um veículo, somos uma comunidade. Nascemos de uma roda de homens confusos que conversava pelo Yahoo Groups. Não dá pra dizer que dez anos atrás nossa visão já era assim, toda arrumadinha e estruturada, com artigos explicando homens possíveis e propondo amores menos fantasiosos. Começamos querendo ser mais felizes e nos ajudando a sofrer menos, mas cheios de cegueiras.

Por exemplo, nos sentíamos os cavalheiros conscientes e bonitões da bala chita, sem nos dar conta do quão machista e arrogante era a postura de vários dos textos publicados.

Perdi a conta de quantas besteiras falamos ao longo dessa quase década de existência – muitas assinadas por mim. O editorial andava junto com o sangue da comunidade, que ainda pulsa por trás de cada artigo. 

Desse reconhecimento do PdH como um veículo acima de tudo humano, surgiu uma capacidade de nos levar menos a sério e ajustar a rota com mais facilidade. Errar e escutar faz parte de nossa rotina, não é uma vergonha pra nós. É o que pessoas de bom senso fazem todos os dias, acho.

"Se algo faz sentido, podemos experimentar", um dos lemas da casa

Foto do projeto #365nus, por Fernando Schlaepfer

Expandir o olhar do sensual iniciado pela série Bom dia para além da heteronormatividade – termo usado para descrever situações nas quais orientações sexuais diferentes da heterossexual são marginalizadas, ignoradas ou perseguidas por práticas sociais, crenças ou políticas – faz muito sentido.

Pra quem não se lembra, a série começou regida por um olhar bem objetificador, ainda que exploratório e curioso em sua essência (fizemos um google docs compartilhando aspirações do projeto, com todos da casa). Com o passar do tempo, as pauladas recebidas, muito diálogo nos comentários e nas reuniões de pauta, com paciência pra entender que processos são construção e não botões de liga-desliga, com ajuda dos fotógrafos e fôlego incansável do Jader Pires zelando pelo amadurecimento dos ensaios publicados, fomos melhorando.

Dia desses a Marina Borges, mulher feminista fotografada em um Bom dia, narrou essa transformação e nos defendeu em um comentário belíssimo:

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Gay também é homem. E homem hetero pode gostar de ver outros homens, por curiosidade, pra querer saber como são outros corpos e paus que talvez tenha medo de olhar no vestiário, pra superar neuras de uma sociedade falocêntrica – a convicção baseada na ideia de superioridade masculina, na qual o pênis ereto representa o valor significativo fundamental –, que às vezes parece idolatrar rolas e dizer que homem bom é pauzudo, fodedor, ambicioso, de família e de sucesso. Essa noção de masculinidade pode ser aprisionante.

O Bom dia é um espaço pra diversidade. Queremos ser mais acolhedores com outros tons de pele e corpos e orientações sexuais.

Por isso, nossa intenção é que a série cresça. E que nas segundas sejam publicados cada vez mais ensaios de homens, de homens e mulheres negras e também de mulheres e homens com corpos fora do padrão.

Foto do projeto #365nus, por Fernando Schlaepfer

Ninguém é obrigado a gostar de todos. Basta acessar e comentar os que lhe apetecem e ignorar os demais. Não estamos aqui pra colocar cabresto em vocês, só queremos oferecer algo que já poderia estar na mídia há muitíssimo tempo, que talvez só não aconteça ainda por falta de alguém dar o primeiro passo.

Falta, quem sabe, coragem.

Sendo então em prol da democracia e diversidade de corpos, paus, bucetas e peitos, também em defesa dos múltiplos olhares e interpretações para o sensual, fantasias, taras e tesões desse mundão que não acaba mais, abrimos o convite para receber uma enxurrada de ensaios com homens.

Fotógrafos de talento, cliquem. Homens dispostos, se façam fotografar.

O convite vale também para o que mais faltar no Bom dia. Há poucos ensaios com pessoas negras, não-magras, deficientes. Convidadíssimos estejam.

O que avaliar antes de enviar seu "Bom dia" pra nós e como fazer isso?

Bells, fotograda pela Lud Lower
A Bells, da foto acima, relatando como foi sair no Bom dia

Não buscamos ensaios com cara de revista das antigas, com poses engessadas e luzes artificiais. Valorizamos olhares autorais, que possam transformar a relação das pessoas com o nu, sexualidade e sensualidade.

De preferência envie junto com um texto escrito pela pessoa fotografada, que pode incluir aspas também do fotógrafo. Sugerimos isso para dar voz a quem vemos nas imagens e quebrar a noção de que é apenas um pedaço de carne.

Aqui um ótimo exemplo de texto acompanhando o ensaio (também maravilhoso):

E aqui alguns belos ensaios de referência, com ênfase nos de homens:

Bom dia do Wider, fotografado pela Carina Calixto

Entendi. Como sigo agora?

Envie seu trabalho para jader@papodehomem.com.br , anexando as fotos em boa resolução e o artigo a ser publicado.

Jader Pires, escritor, editor da casa e curador dos Bom dias vai te responder assim que possível, caso seu ensaio seja selecionado. Como a fila de trabalho é enorme, às vezes demora bastante. Pedimos paciência e se achar que cabe, pode nos cutucar caso seu e-mail tenha sido esquecido.

Queremos ser também uma plataforma de incentivo para fotógrafos de talento – valorizamos o trabalho em rede, mais colaborativo e horizontal.

Para nós é uma alegria ter a confiança de tantos profissionais incríveis que publicaram suas fotos conosco ao longo dos anos.

Bom dia de Pâmela Alves, fotografa por Camila Cornelsen 

A todos que acompanham, criticam, admiram e de alguma forma contribuíram para a evolução dos Bom dias (alô, mulheres que nos ajudaram a deixar o espaço menos machista e mais inclusivo!), nosso eterno obrigado.

Um enorme abraço, pessoal.


publicado em 09 de Junho de 2016, 13:27
File

Guilherme Nascimento Valadares

Editor-chefe do PapodeHomem, co-fundador d'o lugar. Membro do Comitê #ElesporElas, da ONU Mulheres. Professor do programa CEB (Cultivating Emotional Balance). Oferece cursos de equilíbrio emocional.


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