Talvez você esteja contando os dias para sua próxima viagem. Talvez esperando o expediente acabar. Esquentando a janta no microondas. Ou só esteja mudando de canal na televisão enquanto o sono não chega.
Talvez você esteja deitando na cama com o celular na mão rolando o seu feed infinito de notícias pra baixo e resolveu clicar nesse link despretensioso. Quem sabe você esteja dando uma chance pra esse texto porque algum amigo te recomendou ou marcou você nos comentários.
Com alguma sorte eu prendi sua atenção até aqui. Mas você também pode ter discordado de mim desde o primeiro parágrafo, achado tudo isso um papo furado danado e já está olhando pra saber se esse texto é muito longo.
É possível que você só esteja esperando chegar nos comentários pra me xingar, pra perguntar o que fizeram com o PdH ou pra falar o quanto esse texto mudou a sua vida.
Eu não sei. E poderia passar o texto inteiro apenas pensando nas possibilidades que te levaram a estar aqui, agora, justamente porque as possibilidades são infinitas. Por outro lado, mesmo sabendo disso, passei quatro parágrafos apenas imaginado as hipóteses. E sabe por que fiz isso? Porque é delicioso.
Andei pensando bastante ultimamente no quanto a vida é imprevisível e estranha e o quanto é bom que ela seja assim. Tenho pensando bastante como posso fazer para aproveitar melhor meu tempo, minha vida, minha idade. Acontece que por mais que de vez em quando a gente chegue a algumas conclusões legais a respeito disso tudo, sempre acabamos voltando para questões práticas e imediatistas do tipo: preciso ser mais produtivo, preciso aproveitar melhor o meu tempo livre, preciso fazer algo de útil da vida, algo bem feito.
Não me entenda mal. Pensar a respeito dessas questões é importante e útil. Eu gosto e costumo pensar assim também. Não é a toa que publicamos diversos desses textos por aqui e tampouco que Alberto Brandão é, provavelmente, o meu autor preferido do PdH – tem texto novo dele na home, já viu?
Mas hoje decidi dar uma trégua e fazer algo diferente. Dessa vez só quero te convidar para analisar brevemente o que temos feito nessa nossa caminhada pela Terra. Te convidar para reparar nos detalhes, nas coisas simples, nas tarefas repetitivas e o quanto existe de beleza nisso tudo.
Foi então que me recomendaram este vídeo e resolvi unir o útil ao agradável. Compartilho com vocês além da produção audiovisual, a tradução para português do que está sendo dito, afinal, o vídeo não tem legenda. Tá tudo ali, na sequência. É surpreendente, revigorante e libertador.
No fim das contas, esteja convidado para responder a pergunta-título desse artigo: você está vivendo ou gastando seu tempo de vida?
Coloque o fono de ouvido, clique em HD, tela cheia e play!
"Na vida após a morte você revive todas as suas experiências, mas dessa vez com os eventos reorganizados segundo uma nova ordem: os momentos que compartilham uma mesma qualidade são agrupados.
Você gasta dois meses dirigindo na rua da sua casa, sete meses fazendo sexo. Você dorme por trinta anos sem abrir os olhos. Por cinco meses seguidos você folheia revistas sentado no vaso sanitário. Você sente toda a sua dor de uma única vez. Todas as intensas vinte e sete horas de dor. Ossos quebrados, acidentes de carro, cortes de papel, partos. Uma vez que você passa por isso, está livre de agonia para o resto da sua vida após a morte.
Mas isso não quer dizer que será sempre agradável.
Você passa seis dias cortando as unhas. Quinze meses procurando por itens perdidos. Dezoito meses em filas. Dois anos entediado. Seja olhando pela janela do ônibus ou sentado num terminal de aeroporto. Um ano lendo livros.
Seus olhos doem, você se coça, porque você não toma banho até que chegue a maratona de dois mil dias tomando banho. Duas semanas tentando entender o que acontece quando você morre. Um minuto percebendo que seu corpo está caindo. Setenta e sete horas confuso. Uma hora percebendo que você esqueceu o nome de alguém. Três semanas percebendo que você está errado. Dois dias mentindo. Seis semanas esperando o semáforo abrir. Sete horas vomitando. Catorze minutos experimentando a alegria verdadeira.
Três meses lavando roupa. Quinze horas escrevendo sua assinatura. Dois dias amarrando cadarços. Sessenta e sete dias com o coração partido.
Cinco semanas dirigindo perdido. Três dias escolhendo restaurantes. Cinquenta e um dias decidindo o que vestir. Nove dias fingindo entender o que está sendo dito. Duas semanas contando dinheiro. Dezoito dias parado na frente da geladeira. Trinta e quatro dias sentindo saudades.
Seis meses assistindo comerciais. Quatro semanas sentados pensando se você não poderia estar fazendo algo melhor com o seu tempo. Três anos mastigando. Cinco dias fechando botões e zípers. Quatro minutos pensando o que seria da sua vida se você tivesse mudado a ordem dos acontecimentos.
Nessa parte da vida após a morte, você imagina alguma coisa parecida com a sua vida na Terra e o pensamento é feliz. Uma vida onde os episódios são divididos em minúsculos pedaços fáceis de engolir, onde os momentos não duram tanto, onde se experimenta a alegria de saltar de um lado pro outro como uma criança pulando na areia quente."
publicado em 26 de Janeiro de 2016, 19:32