O vídeo abaixo começou a pipocar na minha timeline nos últimos dias. É bem bacaninha, não tem nem dois minutos:
Nele, Thomas Jullien usa de 852 fotos diferentes -- de 852 usuários diferentes no Instagram -- para compor esse mosaico narrativo. Na desrição do vídeo, ele diz que a rede social de fotos é um recurso incrível para (recolher) imagens e que ele tentou criar uma estrutura para aquele caos todo.
Disso, comecei a reparar que a primeira reação das pessoas, ao compartilhar o vídeo (motivo de eu tê-lo visto), foi de reprovação para com as fotos que são produzidas no Instagram, com o entender de que todo mundo que usa o aplicativo tira as mesmas fotos (pés, bicicletas, pôr do sol). Citaram falta de criatividade, a eterna frustração de quem não sabe usar uma câmera de fotos e fica no Instagram se achando o fotógrafo e daí pra mais.
Mas contemos.
No começo do ano, o designer (consultor e palestrante) Brad Frost publicou um outro vídeo -- esse um pouco maior, com pouco mais de vinte minutos -- sobre o ruído na Internet, o calhamaço absurdo de lixo eletrônico e poluição virtual e desrespeito na rede que recebemos, todos os dias, em nossos computadores. Na gravação, o americano trata tudo isso como "bullshit" e fala sobre ser mais respeitoso e tratar apenas do que realmente se quer falar, sem enrolação e sujeira.
Lindo.
Link Vimeo | Um dos vídeos que mais valeram a pena ver esse ano
Quando ele começa a palestra, o Brad nos mostra alguns números alarmantes sobre o crescimento absurdo da produção de conteúdo de dois anos pra cá. Sobre fotos, especificamente, temos esses resultados aqui:
- 4.500.000 fotos são publicadas no Flickr todos os dias;
- 40.000.000 fotos sobem no Instagram a cada 24 horas. Quarenta milhões;
- 300.000.000 de fotos vão parar nos perfis do Facebook por dia.
Bastante, né?
Ele fez o cálculo anual também, comparando com outros períodos do século XX e o começo desse nosso novo milênio:
Em 1930, foram tiradas um bilhão de fotos em todo o ano. daí pra frente, o número sobe:
- 1960 - três bilhões de fotos no ano;
- 1970 - 10 bilhões de fotos;
- 1980 - 25 bilhões;
- 1990 - 67 bilhões;
- 2000 - 86 bilhões de fotos;
- 2012 - foram produzidas 380 bilhões de fotografias em um único ano.
Estamos em um momento de grande era para a mídia de massa. Nunca tanta coisa foi compartilhada e disponível. Com isso, fica fácil cair na descrença e diminuir a criatividade de quem tira uma foto amadoramente em um aplicativo de celular.
Fora a armadilha que é imaginar que alguém, nesse mundo, é criativo.
Estranho seria se, de quarenta milhões de fotos, em um único dia, eu não achasse duas ou cinco ou quinhentas iguais. Isso já acontece em escala ínfima, quando abro o meu Instagram e, em um dia bonito, vejo três, quatro, meia dúzia de fotos do mesmo pôr do sol, sob diferentes óticas.
Se, de 380 bilhões de fotografias, o nosso amigo Thomas não conseguisse montar esse vídeozinho de pouco mais de um minuto, aí sim teríamos algo bem errado.
"As fotos são todas iguais e isso denota que as pessoas tiram sempre fotos iguais?"
Não.
"Essas pessoas não são criativas? "
Não. E nem você é.
"Mas, afinal, as fotos são bonitas? "
Aí já são outros quinhentos. No geral, aglutinadinhas e dançando aquela música manjadinha do The Black Keys, estão bem legais sim.
"Todo mundo tira foto igual no Instagram?"
Todo mundo faz tudo igual a um determinado grupo de pessoas. Maior ou menor o grupo, não importa. Mais do que se imaginar criativo, é pensar ser uma peça única e importante no planeta.
publicado em 27 de Novembro de 2013, 08:00