Também morre quem atira

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O vídeo acima foi publicado ontem e já tem mais de 1 milhão de views, acompanhados de milhares de compartilhamentos nas redes sociais.

Comemoramos o bandido caído no chão, como se um pouco de justiça tivesse perfurado nossa sociedade, da mesma forma que as balas perfuraram o corpo do bandido.

Num deslize, só conseguimos identificar o mal no outro. Como se a violência fosse parte integrante do indivíduo que praticou, e não um problema nosso, criado por todos nós, todos os dias.

Tenho a nítida impressão de que meia dúzia de espancamentos somados a uma semana passando fome seriam suficientes para que eu assaltasse qualquer pessoa. Qualquer pessoa.

Depois de alguns assaltos com justificativas que diminuíssem a culpa – para comprar comida, para alimentar os filhos, para não morrer – minha consciência já teria menos força e eu provavelmente ficaria bem confortável em almejar vôos maiores. Não seria absurdo dizer que, em poucos meses, já imerso num mundo em que roubar é algo perfeitamente válido, eu estaria assaltando para me vestir bem, ter luxo e comprar um carro.

Não sei se o policial agiu corretamente, se devia ter atirado ou apenas dado voz de prisão. O ponto mais grave passa longe disso.

O mais preocupante é nossa comemoração, é não termos — na maioria dos casos, e eu me incluo nessa — sensibilidade para entender o mundo do outro e o cenário em que nós todos estamos imersos.

Ingênuo pensar que um pouco da violência morre junto com cada bandido morto.

Não é questão de dar um abraço e encher o meliante de regalias, mas de reconhecer que o sangue derramado no asfalto merece reflexão, não aplausos.


publicado em 14 de Outubro de 2013, 12:39
Eduardoamuri

Eduardo Amuri

Autor do livro Dinheiro Sem Medo. Se interessa por nossa relação com o dinheiro e busca entender como a inteligência financeira pode ser utilizada para transformar nossas vidas. Além dos projetos relacionados à finanças, cuida também da gestão dO lugar.


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