Sobre dinâmicas saudáveis e atritos em nossa comunidade

Nas últimas semanas nossa comunidade sofreu um baque. A fagulha foi a discussão no texto O senhorio do desapego(atualmente fora do ar), do Alex Castro.

A discussão, inicialmente focada no tema minimalismo, se degringolou de forma bastante rápida. O Alex teve parte do texto mal-interpretada e recebeu críticas bastante agressivas, às quais respondeu de maneira irônica, colocando ainda mais lenha na fogueira. Em dois tempos a conversa se transformou em uma arena de combate. Agressões, ofensas, ironias, perguntas, críticas e confusão se misturando a ânimos pra lá de agitados. Comentários foram apagados, gerando imensa dúvida à respeito de quais foram os critérios exatos para definir o que seria apagado ou não. A conversa seguiu até se tornar insustentável.

Por fim, restou um bocado de ruído, raiva e frustração, em diferentes medidas.

Em meio ao caos, recebi esse email do Tiago Xavier:

Como colaborador e, até pouco tempo, interlocutor direto de alguns membros da equipe do PdH, venho manifestar meu espanto e tristeza com o episódio da sumária e indiscriminada eliminação dos comentários deste post.
Mais do que espaço para exploração, entendia que o PdH se afirmava como comunidade. E essa noção de comunidade foi ferida de morte.
Não acompanhei o desenrolar dos fatos desde o início. É claro que muitos comentários não passavam de ofensas. Mas não todos. E alguns trouxeram temas que estavam sim relacionados com o texto.
Lembro-me do comentário de um leitor (salvo engano se chama Wagner) que trouxe uma reflexão interessante sobre a relação pessoa/personagem. Embora deixasse clara a contradição, estava longe de ser ofensivo.
Além disso, a partir do mote central do texto (troca de coisa/apego às coisas por tempo), muitos comentários questionaram o mandamento de otimização da eficiência da troca (limitá-la aos estrangeiros). Por mais que fosse realmente inconfessável, não era assunto alheio ao texto.
Nesse contexto, a comunidade PdH poderia afirmar a própria autopoiese, oferecendo a experiência de que o próprio espaço e um destacado autor passassem pelo mesmo processo de exploração que corretamente propõe aos seus leitores. Isso iria além de um mero pedido de desculpas e exigiria coragem para exposição. No final, o espaço, o autor e os comentaristas ganhariam em legitimidade e em valor.
Seria mais um desapego e um passo ao minimalismo no sentido que o comentarista Jorge L. Santos apontou logo abaixo.
É a perda dessa oportunidade que me entristece. Embora se possa defender a moderação de comentários para não tirar a atenção do texto (que, excetuando a exposição da troca coisa - tempo, oferece nada aos seus leitores), acho que não se considerou o valor da comunidade.
Assim, e pegando uma construção do próprio texto, "trocar a liberdade da comunidade pela proteção ao autor: poucas trocas são tão insensatas".

Não há muito o que dizer, sua constatação faz sentido. Nenhum autor deve ser tratado como especial. Ninguém deve.

Resta a nós dizer que houve uma imensa cagada – sintomática de uma certa falta de atenção ao lidar com a comunidade em ocasiões recentes. Em especial, eu errei feio. Deveria ter sido mais atento e ter dado maior prioridade ao alinhamento entre a equipe, eliminando os problemas pela raiz, imediatamente.

Por falta de alinhamento claro, nos trombamos de maneira desastrosa.

Cabe ressaltar que o problema não é o Alex Castro, que segue escrevendo excelentes textos e entendeu seu equívoco, ou qualquer um dos editores, Jader e Luciano, que seguem matando a pau em seu trabalho. Atritos e dinâmicas pouco saudáveis, naturais em meio a tantas conversas, já estavam surgindo em outras discussões. Esse caso foi apenas o estopim.

Peço desculpas a todos que se frustraram no episódio, pela péssima condução.

Agora nos cabe escancarar o problema, como sempre fazemos, e pedir ajuda de vocês para melhorar a qualidade do espaço. Vamos lá.

O que você pode fazer para ajudar?

A casa, o espaço, é de vocês. Nos ajudem a cultivá-lo, com a mão na massa
A casa, o espaço, é de vocês. Nos ajudem a cultivá-lo, com a mão na massa

Entenda o gigantesco vão entre as interpretações presentes num diálogo e dê mais crédito aos interlocutores. Em suma, nem sempre a sua intenção é o que chega ao outro lado, assim como a sua interpretação do que volta como resposta não necessariamente corresponde à intenção original da outra ponta. Quando estamos cara a cara, os ruídos diminuem. Mas a comunicação não-corpórea da web torna o processo mais sensível e exposto a tensões.

As falas não estão acompanhadas de fatores como linguagem corporal(postura, movimento da cabeça, movimentos da face, olhar, gestos...) e inflexão da voz, aos quais são atribuídos algo como 80% a 93% da comunicação, por alguns estudiosos da área. Seja qual for a % mais adequada, é comum vermos conversas via web se desenrolarem desse modo:

Link YouTube

Portanto, pedimos que você:

1. responda reto, honesto

2. evite ironias e sarcasmo – via de regra, são camadas desnecessárias para a comunicação

3. positive comentários de qualidade, para fazer com que a discussão se auto-regule

4. procure responder os comentários de qualidade, deixando de lado comentários agressivos, rasos ou inócuos

5. negative comentários agressivos, ofensivos ou desrespeitosos

6. negative comentários irônicos e sarcásticos que afetem negativamente a discussão

7. respire; às vezes o DISQUS(nosso sistema de comentários) falha de maneiras bizarras, mas buscamos resolver assim que possível

Em suma, se aproprie do espaço. Trate a casa como sendo também sua.

Como lidamos com os comentários?

1. Estimulamos o respeito mútuo, por meio do exemplo, que deve cascatear por toda a comunidade. Quando nosso exemplo falhar(eu mesmo derrapo às vezes), nos puxem a orelha.

2. Deixamos claro que ofensas pessoais e comentários desrespeitosos são sumariamente mal-vistos

3. Tais comentários, de acordo com a gravidade, podem ser editados e/ou apagados

4. Como o time editorial é minúsculo e os comentários não são pré-moderados, deixamos a comunidade se auto-regular votando negativamente e positivamente

5. Apagar comentários tende a ser uma atitude extrema; via de regra, vamos chamar a atenção publicamente e pedir uma mudança de postura, com tranquilidade e confiando no bom-senso coletivo

6. Em último e extremíssimo caso, após repetidos comentários apagados, avisos e uma contínua postura danosa para a comunidade, o usuário pode ir para a lista negra e ser impedido de participar

O que realmente desencorajamos?

1. Ataques, ofensas, desrespeito – fomentam o mesmo, em dobro ou triplo

2. Comentários mal-redigidos ou sem qualquer lógica – antes de publicar, releia ;)

3. Ironia e sarcasmo com fins agressivos – plantam péssimas sementes

Quando notarem qualquer uma das três ocorrências acima, reforço o pedido para que as negativem, como demonstrado abaixo:

xxx
Exemplo de voto contra que dei, por considerar o comentário pouco produtivo para a discussão

* * *

A equipe de editores do PdH tem duas pessoas em tempo integral – Jader e Luciano – e mais um à distância, em tempo parcial, o Alex. Somos pequenos, humanos e falhos. Fazemos o que fazemos de coração, na raça. Toda ajuda e apoio de vocês é pra lá de bem-vinda. Pedimos desculpas pelas confusões recentes e prometemos retomar o eixo. Deixo especial agradecimento a todos que nos criticaram e demandaram uma atitude pública.

Aguardamos as críticas e questões para seguir o papo nos comentários. Grande abraço a todos!

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publicado em 09 de Maio de 2013, 06:30
File

Guilherme Nascimento Valadares

Editor-chefe do PapodeHomem, co-fundador d'o lugar. Membro do Comitê #ElesporElas, da ONU Mulheres. Professor do programa CEB (Cultivating Emotional Balance). Oferece cursos de equilíbrio emocional.


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