O mini-documentário que mostra os bastidores do resgate da tragédia de Brumadinho é o primeiro episódio da série Memórias de Brumadinho, sediada no site Memorial das Minas gerais.
Quem apresenta a reportagem é o atleta e comunicador mineiro Gustavo Ziller que, tendo uma relação próxima com os bombeiros, mostra um pouco do cotidiano das pessoas que seguem trabalhando na área onde ocorreu o rompimento da barragem.
O soterramento de Brumadinho pelo mar de lama de rejeitos levanta diversas questões além da responsabilidade estrutural da Vale, do resgate dos corpos da vítimas e da indenização devida às famílias, como bem disse Poliana Zocche. A rotina exaustiva dos bombeiros, dos quais muito tem recebido o salário parcelado, também foi tema de outras reportagens, como esta do El País.
O primeiro episódio de Memórias de Brumadinho não faz referência ao número de mortos, nem às causas do rompimento, como as reportagens tradicionais.
De uma maneira muito pessoal, o mini-doc mostra, com um olhar humano e silencioso, a rotina daqueles que estão vivendo e trabalhando no centro de resgate do Córrego do Feijão, ao lado do mar de lama. Veja o vídeo:
“Não tem como se acostumar com isso”
A frase do Sub Tenente Selmo se repete em mais de uma reportagem, nos lembrando da importância de olhar para o lado humano daqueles profissionais envolvidos. Em outras palavras o que ele está dizendo é que, por mais que se tenha experiência e capacitação técnica para trabalhar em situações de desastres, jamais será possível abafar a dor de lidar com perdas tão grandes.
“Vocês tem atendimento psicológico?”
É o que Ziller pergunta para o Soldado Castelo Branco. Essa pergunta é essencial assim como a resposta do Soldado é cheia de significado.
Sim, há atendimento para a equipe de bombeiros, o suporte é necessário e ajuda, mas também não acaba com o desolação diante do acontecimento. E nem poderia.
Psicólogos estão entre os profissionais mais requisitados para ajudar às famílias das vítimas porque o impacto individual de tamanha tragédia é terrível. Toda estrutura e apoio é necessário, mas, claro, nada irá aplacar a dor, nada irá acabar com o luto.
O tempo para olhar
Se as reportagens aceleradas de televisão e rádio, exigem objetividade, voz clara e nada de emoção e, como diz a repórter Manuela Borges, “tem que estar firme”, o mini-documentário de 20 minutos abre espaço para a subjetividade e nos dá tempo para olhar… Ver… Pensar… Contemplar a extensão da “lama da morte” vista por cima… Refletir sobre o bombeiro que está saindo para almoçar enquanto dois outros chegam com um corpo em um saco.
E isso é essencial.
Falta tempo. Falta tempo para viver o Luto. O show que se monta em cima do desastre mostra parte da realidade, mas também rouba o silêncio que as famílias precisam para velar seus entes amados.
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