Até que ponto a ignorância das pessoas não é reflexo do nosso conhecimento?

Sempre me irritei com a ignorância das pessoas, no sentido estrito da palavra. Não que eu saiba tudo ou tenha a pretensão de saber, mas posso afirmar que jamais ousei tecer algum comentário ou opinião acerca do que desconheço.

Nesta linha, fato é que raríssimas pessoas pelo mundo afora sabem de algo concreto sobre o Brasil – excluindo-se nossos circos-mestres futebol e carnaval, naturalmente. Quando eu me deparava com alguma afirmação errada ou alguma inverdade sobre o meu país, ficava muito puto pela falta de instrução alheia. Além disso, temos o péssimo hábito de pensar que somente nós podemos falar mal das terras tupiniquins.

Contudo, meus caros, criticar é fácil. Complicado é fazer uma auto-análise e decepcionar-se consigo mesmo. Depois de um tempo conversando com estrangeiros das mais diversas partes do mundo, percebi que, apesar do fato de eu ficar irritado ouvindo suas baboseiras e enganos, eu não sabia refutá-los. Dei-me conta de que eu sabia menos ou tampouco quanto eles e, assim, era compelido a ouvir calado o que vomitavam em meus ouvidos.

O mapa do preconceito (como os EUA veem o mundo)

Se alguém me dizia que nossa pátria era essencialmente pobre, eu não sabia apontar quais eram as nossas riquezas. Quando uma pessoa me dizia que imaginava que no Brasil só existiam negros, eu não sabia informar qual era a porcentagem de cada raça vivendo em nosso solo. Ignorância em cadeia!

Além disso, ruíram alguns estereótipos que nós mesmos construímos sobre o povo brasileiro, como por exemplo, o de que os brasileiros são o povo mais extrovertido do mundo. Ledo engano, já que estudos comprovam que o nível de cordialidade do brasileiro não apresenta diferença alguma sobre outros países.

Mas se vocês pensam que essas situações foram o meu fundo de poço intelectivo, estão muito enganados. A minha catarse veio quando eu passei a conhecer pessoas que sabiam mais, muito mais sobre meu país do que eu mesmo. Coisas banais, a respeito de política e economia, que eu deveria saber por me afetarem diretamente, por exemplo.

Depois de alguns – poucos – episódios nesse sentido, percebi que eu não posso exigir que as pessoas saibam mais ou tanto quanto acerca do que eu, teoricamente, deveria saber. Ademais, todos nós temos estereótipos sobre países e lugares que julgamos conhecer quando na verdade não sabemos nada sobre seu povo, costumes, história, crenças.

Tem um cara que eu admiro muito não só pela sua capacidade e inteligência, mas sim também por sua humildade e consciência de que pode, a cada dia, um pouco mais. Em uma de suas citações no livro Conversas que tive comigo, Nelson Mandela tece um brilhante comentário do qual eu comungo e que se pode fazer valer para qualquer interesse pessoal:

“Sou daquelas pessoas que possuem fragmentos de informação superficial sobre diversos assuntos, mas me falta o conhecimento aprofundado da única coisa em que deveria ter me especializado, a saber, a história do meu país e do meu povo.”

Todas essas linhas que escrevo não fazem parte de um artigo sobre patriotismo, e sim um artigo sobre interesses. Eu me sentia ultrajado quando alguém disparava algo babaca e sem respaldo sobre o meu país. Você que está lendo pode se sentir assim quando falam sobre sua profissão, seu estado, sua honra ou seu time de futebol.

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O intuito desse texto é fazer uma observação para que nos dispamos de nossos preconceitos e ideias preconcebidas e abramos nossa mente para o desconhecido. Não há que se falar uma vírgula sobre o que desconhecemos ou erradamente julgamos conhecer.

Este texto tampouco é uma lição de moral, já que a ignorância termina onde está o interesse, a curiosidade. Caso livrar-se de estereótipos e abrir a cabeça não lhe despertem a atenção, o direito é todo seu, meu caro. Acontece que essa postura automaticamente anula a sua permissão para esbravejar com qualquer ignorância alheia acerca de algo que lhe interesse ou seja querido.

Assumir a sua própria ignorância é o primeiro passo para se aprender algo. Deixemos nossa arrogância e vaidade de lado para saborearmos ao menos conteúdos concretos daquilo que gostamos ou julgamos saber.

Engraçado é que, quanto mais aumenta nosso conhecimento, mais evidente fica a nossa ignorância, diria John F. Kennedy. Um brinde ao conhecimento!

Adendo: algumas informações para rebater preconceitos

A quem interessar, alguns dados rápidos sobre a posição do Brasil no cenário mundial, que todos deveriam saber, mas que poucos o fazem (com os devidos links para as fontes):

“Serão 3 horas de informações sobre o Brasil. Deixa eu só preparar seu olho…”

1. O Brasil é o 3º maior exportador agrícola do mundo.

2. O Brasil é o maior exportador de café (desde 1860), suco de laranja (80% das exportações mundiais), açúcar, tabaco, carne bovina, carne de frango, álcool (pelo menos por enquanto!). Ainda, há um prognóstico de que, em 2020, o Brasil deverá ter 44,5% do mercado mundial de carnes.

3. O Brasil é o maior 2º maior exportador de soja e o 3º maior exportador de milho, sendo que em 10 anos deverá ser o maior exportador de soja do mundo.

4. O Brasil é o 4º maior exportador de carne suína.

5. Nos próximos 10 anos, deverá se tornar um dos 3 maiores e mais importantes polos de exportação de software e serviços de tecnologia de informação do mundo.

6. A Embraer é a 3º maior produtora mundial de jatos civis, atrás somente da Airbus e da Boeing.

7. A Vale é a 2º maior mineradora do mundo, a maior produtora de minério de ferro e a segunda maior de níquel.

8. A Usina Hidrelétrica de Itaipu é a maior usina geradora de energia do mundo e a segunda maior empresa de energia do mundo.

9. Com as descobertas do pré-sal, em um futuro próximo o Brasil deverá estar entre os maiores países do mundo em termos de reservas de óleo e gás.

Essas são informações encontradas facilmente na rede, mas que representam basicamente nossa economia e são o motivo de nossa posição de destaque atualmente no cenário mundial. A princípio pode parecer que todo mundo tem uma ideia dessas informações, o que não deixa de ser verdade. Contudo, pouca gente sabe dos valores que possuímos com riqueza de detalhes.

Naturalmente o Brasil ainda tem muito pra evoluir. Seja na educação, seja na segurança pública, no ordenamento tributário ou até mesmo em algo que já somos bons. Mesmo assim, precisamos saber que não somos uma terra de ninguém encostada no canto do planeta, vendo o mundo acontecer e vivendo sob sua sombra.

Alexandre Nunes

Advogado e jogador de poker. Apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes, vindo do interior. Responde por <a>@LeLawyer</a> no Twitter."