Vivemos em tempos ridículos. Hoje em dia, grupos de pessoas suscetíveis a ofensas organizam-se facilmente e com isso prejudicam a sociedade toda com seu senso estético apurado como o sabor do chuchu.
Este post foi motivado principalmente pela decisão (idiota) de um grupo de publicitários que pediu para tirar do ar uma propaganda de cerveja que mostrava uma mulher gostosa. Vamos por partes.
Nos tempos idos
Anos atrás, antes dos conselhos publicitários recheados por emos, homos e metros, ninguém se preocupava em não ofender um grupo ou outro. Analisando hoje as propagandas de 30, 40 anos atrás se percebe como o mundo mudou. Peças como esta abaixo, que fala de uma suposta falta de talento automobilístico feminino, são claramente equivocadas factualmente, embora perfeitamente adequadas.
Como todas as seguradoras sabem, mulheres dirigem melhor e se envolvem menos em acidentes de trânsito. No entanto, quem comprava o carro e cuidava de sua manutenção era o homem, afinal a mulher era “do lar”. Portanto, trata-se de uma peça bem posicionada para o público.
Há pouco tempo
Com a guerra das cervejas, que rolou ali pelos anos 1990, cada marca começou a apelar mais e mais. Eventualmente, todo comercial de cerveja tinha uma cara de transmissão de carnaval. Ou seja, um monte de gente bonita dançando música ruim. Felizmente, o que ficou para a história (YouTube) são os melhorzinhos, como este com a Daniela Mercury cantando e dançando (música ruim, claro).
Para aumentar o retorno e se focar nos grandes consumidores de cerveja os publicitários fizeram o óbvio. Colocaram homens normais e mulheres gostosas contracenando. O marco é a série do baixinho da Kaiser, que encenou uma retomada nostálgica anos atrás.
Link YouTube | Danielle Winnits com ciúme…
Daí para a fórmula “mulher-gostosa-quase-pelada + cerveja gelada” foi um pulo.
Veja esta da Skol, em que uma moça deveras bem ajeitada mostra os seios para “curar” um paciente:
O nascimento do politicamente correto
À medida em que a comunicação ia se fragmentadando, fazia-se necessário regular a forma com que as marcas se expunham para não quebrar regras. Uma das diferenças do mercado publicitário brasileiro para o norte-americano, por exemplo, é nunca citar o concorrente. Nem em comparações.
Link YouTube | Pepsi X Coca-Cola, uma briga constante por lá
No entanto, a grande força atrás do politicamente correto são os grupos de pressão. Ou lobbies, se você preferir. Grupos como “Grupo Gay da Bahia”, “Bancada rural” ou outros do tipo passaram a pressionar veículos de mídia e empresas para que não os ofendessem ou os excluíssem.
Em alguns casos isso faz muito sentido. Hoje em dia simplesmente não dá para sair por aí dizendo “Quem não compra XPTO é viado”, “XPTO tem tudo para você não fazer trabalho de negro” e “Não seja judeu e compre uma joia da XPTO para sua mulher”.
Pessoalmente, sou contra usar termos como “afrodescendente” e outros, simplesmente por que via de regra não dizem nada. No caso, nem todos os povos africanos são negros e, se o primeiro Homo Sapiens apareceu na Etiópia, todos os seres humanos são afrodescendentes em última análise.
Em outros, fica evidente o medinho de empresas (e publicitários) de se meterem no caminho de qualquer grupo de pressão. Tempos atrás um anúncio da Ford voltado para homossexuais foi tirado do ar por pressão de religiosos. Nem precisou de conselho ou advogados, bastou algumas cartas e pronto. Outdoors e peças no lixo.
Em vez de respeito, medo. O que é pior? O que causa mais distanciamento?
Mais recentemente, um aplicativo da Pepsi Max dava dicas de como pegar mulher. Legal. Só que algumas mulherzinhas se ofenderam e pressionaram a empresa a tirar a brincadeira do ar e a se desculpar. Fosse eu, não tirava do ar e ainda publicava uma atualização com cantadas mais grotescas.
Limites da liberdade de expressão
Por outro lado, é preciso entender parte do ponto de vista dos defensores do politicamente correto. Eventualmente o comunicador perde a linha e merece sim ser defenestrado.
Esta tirinha do mestre Angeli é um bom caso. Superficialmente, ela trata de violência doméstica. Objetivamente, é uma piada de humor negro bem executada e mal compreendida, como percebe-se pela reação ao caso.
Cá entre nós, humor negro que não ofende ninguém é afrodescendente e não merece nosso respeito.
Para André Dahmer, o fodástico autor do Malvados (que já entrevistamos aqui), o limite absoluto é quando a publicação põe em risco a vida do autor. Nas suas palavras:
“Allan Sieber (outro cartunistas deveras recomendável), ao ser perguntado sobre o mesmo tema, disse que o limite dele era fazer charges sobre Maomé, pois correria o risco de ser assassinado. Eis aqui um bom limite”
A questão, também apontada por Dahmer, é que no Brasil existe uma vasta área cinza. Teoricamente, o direito a livre expressão é garantido pela Constituição, mas a justiça funciona de forma diferente. Por exemplo, pode-se falar de lançamentos editoriais, inclusive criticando-os, mas não se pode denunciar uma empresa por plagiar traduções de clássicos, como ocorreu recentemente com o blog Não Gosto de Plágio.
Combatendo a mulherzinhação do mundo
Link YouTube | George Carlin metendo o pau nos ambientalistas
Entendemos que a ridícula emasculação do homem (e da mulher) só pode ser combatida de uma forma. Só uma.
Ridicularização.
Como a ideia central de todo o pensamento “politicamente correto” é evitar ao máximo a exclusão de qualquer um e ofender jamais, vamos tirar sarro de tudo e de todos, inclusive de nós mesmos. É uma abordagem meio Team America, uma obra-prima do humor negro (dos criadores de South Park) que não respeita nada nem ninguém.
Nosso modelo de tiração de sarro precisa ser a resposta dos israelenses à campanha de criação de cartuns anti-semitas. Na ocasião, os caras disseram que os próprios judeus saberiam fazer as piadas mais ofensivas, racistas e engraçadas falando mal deles mesmos. Nada mau, na minha opinião.
Que tal montagens de mulheres gostosas anunciando os produtos mais improváveis? É fácil, pegue uma foto de mulher gostosa qualquer, crie um slogan absolutamente sexista ou ofensivo para algum produto qualquer. Qualquer um mesmo.
Pode ser a marca do PapodeHomem, a coluna do Dr. Drinks, do Dr. Love, algo da minha loja, um objeto inventado ou popular. Sei lá. Seja criativo, gostamos disso.
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Os melhores – de acordo com nossos critérios preconceituosos, sexistas, absolutamente incorretos e bem humorados – serão homenageados em um post mais adiante, com direito a prêmio fodástico e tudo, se Darwin quiser.
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