André Dahmer, 35, cartunista

Para a segunda entrevista de nossa série de profissões, chamamos André Dahmer, o autor das tirinhas dos Malvados, que já espalhou sua acidez em 4 livros publicados e diversos jornais e revistas.

Além dos Malvados, há várias outras séries igualmente geniais: "Os Proibidões", "Cadernos secretos", "Ziniguistão", "Emir Saad", "Minicômio", "Encontro anual dos donos do mundo", "Apóstolos"...

Sem falar nas pinturas, canecos, camisetas e cinzeiros com a arte de Dahmer.

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1. Qual sua história? Quais suas origens? O que fazia antes de ser cartunista?

Me formei e trabalhei com design por pouco tempo depois de terminar a faculdade, eu sabia que não era a minha praia. Na verdade, sempre tive mais interesse por pintura, ofício um tanto distante do design.

2. Como descobriu que era isso que queria fazer e como chegou onde está?

A questão da carreira nunca foi um problema, uma questão. Eu sempre me movi pela paixão, não pelo dinheiro ou pela posição social. É que aprendi em casa que o trabalho existe para o prazer, não para o sofrer.

Na verdade, a questão da vocação está clara para a maioria das pessoas, mas nem sempre há coragem ou condições para seguir fazendo o que você realmente sabe, gosta e acredita. Isso gera enorme infelicidade e sofrimento em muita gente. É aquele papo que sempre ouvimos por aí: o médico que queria ser músico, o engenheiro que sabia que era pintor...

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3. O que você faz atualmente? Qual sua especialidade? No que você é realmente bom?

Tenho trabalhado com quadrinhos e charges para jornais, portais e revistas. Preparo também uma exposição de pintura para o ano que se avizinha. Também estou fechando um livro de poemas, deve ficar pronto no início de 2010.

Sobre ser realmente bom em algo, pouco me importa. Acho que tudo que você faz com amor e talento acaba por ser reconhecido, mesmo que depois da sua morte. O importante é a motivação verdadeira. Faço meu trabalho pelo prazer de realizar meus sonhos, construir meus universos. Não estou atrás de Olimpo algum e não preciso da unanimidade ou do aval de ninguém.

4. Conte um pouco do seu cotidiano.

A minha vida está toda centrada no trabalho, sempre foi muito importante para mim. Mas não tenho hora marcada para pintar, escrever ou desenhar: quanto menos disciplina, horário e regra, melhor.

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"Você vai morrer de algo que você gosta"

5. Uma história ou uma cena que fez todo o esforço valer a pena.

Não conquistei nada com esforço, ao contrário: sempre me dediquei pouco ao trabalho. Fiz tantas tiras por prazer, acho que o prazer é o motor. Não sinto que foi cansativo ou custoso. Se é pra lembrar de algo, digo que a chegada do primeiro livro é como a chegada do primeiro filho. Foi um momento importante, assumo.

6. O que acontece nessa profissão que ninguém imagina? Aproveite pra quebrar mitos, idealizações ou preconceitos.

Existe um folclore enorme, mas é mais ou menos como trabalhar com engenharia, arquitetura ou contabilidade. Envolve responsabilidade, ética e comprometimento como em qualquer outra profissão.

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7. Quais os erros de outros cartunistas que deixam você com vergonha da profissão?

Não sou ninguém para julgar as faltas dos outros, deixo isso para os que se acham no direito.

8. Mulher: melhor trabalhar ao lado dela, melhor mantê-la longe ou nenhum dos extremos? Como concilia trabalho e relacionamento?

Eu trabalho com a minha e é ótimo, mas é preciso estar atento para que não ocorra desgastes. Mas temos uma relação tranquila e sempre falamos o que deve ser falado com respeito e atenção.

9. Quais são os passos específicos e concretos que um leitor que queira se tornar um cartunista pode tomar agora? Na sua trajetória, quais foram os grandes trampolins, segredos e ajudas essenciais que lhe ajudaram a chegar ao próximo nível?

É preciso talento, amor e coragem. Faltando qualquer uma dessas três coisas, é difícil seguir em frente. No mais, não vejo o trabalho como uma luta eterna pela conquista de novos patamares, não sou um alpinista social.

Nada mais a dizer sobre como trabalhar na área, mas o processo decisivo para o crescimento profissional é o amadurecimento da ética e da forma como você entende o trabalho e as relações de trabalho. É preciso ser mais que competente, é preciso ser grande de espírito.

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10. O que você demorou muito tempo pra aprender e agora pode resumir em poucas palavras?

Que não há formulas seguras, que a vida segue caótica, que o risco é patrão.

11. Quais seus outros interesses, práticas e habilidades? Filosofias, esportes, artes, espiritualidade...

Instrumentode corda, só sei tocar sino. Para além da Arte, tenho interesse por filosofia, história das religiões e matemática.

12. Faça uma pergunta que gostaria muito que alguém que te perguntasse.

Desculpe o mau jeito, mas quanto menos coisas me perguntarem, melhor...

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André Dahmer | Crédito: Marcelo Camelo


publicado em 27 de Outubro de 2009, 09:18
Gustavo gitti julho 2015 200

Gustavo Gitti

Professor de TaKeTiNa, colunista da revista Vida Simples, autor do antigo Não2Não1 e coordenador do lugar. Interessado na transformação pelo ritmo e pelo silêncio. No Twitter, no Instagram e no Facebook. Seu site: www.gustavogitti.com


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