Vamos fazer um exercício rápido. Imaginemos um bar e observemos esse universo. Olhemos as mesas.

O que você vê?

Provavelmente teremos botecos diferentes na cabeça, por mais aproximados que sejam nossos mundos, mas garrafas e copos serão unanimidade e vão dividir espaço com porções de coxinhas, croquetes, pasteizinhos e amendoins. Independente do estilo e das pessoas sentadas ou em pé, nessa mistura toda de gente a cerveja há de estar por ali em grande quantidade.

Bar sempre terá cara de bar

Puxe pela memória, o maior lubrificante social já posto em mesa figurando em nossas recordações e prosperando conforme nossa juventude, também prosperava. Você provavelmente começou sua vida cervejeira tomando aquelas cervejas baratas, trocando moedinhas por latas e acumulando histórias malucas. Quem não erra nessa vida, certo? Mas as coisa mudam, os bares também, assim como as nossas intenções e vontades. Você, assim como tantos outros, foi percebendo que o líquido dourado não servia apenas para alegrar e soltar. A coisa era boa mesmo, gostosa. E o mais importante, você foi descobrindo que ela juntava demais os amigos.

E daí a deliciosa prática de se sentar no bar e varar a madrugada entre conversas e risadas, as melhores noitadas de nossas vidas. Se antes qualquer uma servia, agora começamos a escolher com maior parcimônia o que vamos beber. É chegada a hora de saber o que beber. 

Chegou o momento de você aprender a beber direito, não?

A cerveja agora começa a tomar um outro papel. Trate bem os seus amigos e trate bem a sua cerveja. Aqui embaixo, um pequeno guia pra gente avançar e aprender o mínimo sobre como tomar uma boa cerveja.

O Primeiro Gole: do que é feita essa cerveja?

Antes de mudar de opinião ou sair provando tudo por aí, vamos aprender o básico. Um roteiro rápido para sobreviver em uma reunião que o assunto da rodada vai ser a cerveja.

É tipo receita de bolo. Vamos aos ingredientes:

Água: É o ingrediente em maior proporção, essencial. Quando temos uma água boa, começamos bem. Hoje existe tecnologia para ter um padrão de água. Mas em diversos países isso muda bastante.

Malte: Quando falamos malte, estamos nos referindo aos grãos que são usados na receita. Estes grãos sofrem um processo de malteação, que é o grão ser umedecido e germinar, depois secar e torrar. Esse processo ativa a produção de enzimas que vai ajudar, mais à frente, na fermentação.

Responsável por diversas características da cerveja, como cor, aroma, amargor, sabor, corpo etc. Uma cerveja, quando chamada de puro malte, é aquela que foi feita com 100% malte de cevada e sem cereais não maltados e xaropes.

Lúpulo: Usado para dar aroma e amargor, ainda é pouco conhecido. No Brasil não há plantio significativo de lúpulo e, se quiser fazer cerveja por aqui, é preciso importar esta planta. Além de dar equilíbrio e “temperar” a cerveja, faz bem para saúde com seus antioxidantes naturais.

Leveduras: Se existe algo aqui que trabalha pela cerveja, essa criatura é a levedura. O famoso fermento é o responsável por comer os açúcares que têm no malte e transformar em álcool e gás carbônico. Ou seja, nada disso é adicionado! Essas substâncias são resultado da transformação do líquido.

Adjuntos: São considerados todos os outros ingredientes, naturais ou não. Temos hoje muitas cervejarias usando frutas, raízes, nozes e até flores.

O Segundo Gole: Qual tipo eu posso escolher?

Podemos classificar a cerveja de diversas formas, mas para simplificar, vamos por tipo de fermentação: LAGER e ALE.

Existem mais de 150 estilos diferentes de cerveja, que estão dentro dessas duas grandes famílias. O modo de preparo geralmente é igual, muda depois que você escolhe qual tipo de fermentação vai querer. De acordo com o resultado final que o mestre cervejeiro quer.

ALE (pronúncia êiol): As cervejas do tipo ALE são produzidas com uma levedura que trabalha com temperatura maior e tem, como uma de suas características, ter cervejas com mais aroma e sabores que foram formados durante a fermentação, com um perfil bastante complexo.

Leia também  Como aproveitar um dia de folga

Estilos conhecidos são IPA, Weiss, Stout, Saison e Witbier. Essas são as cervejas que conhecemos e fabricamos desde sempre.

LAGER (pronúncia Láguer): As cervejas do tipo Lager são produzidas com baixa fermentação, em geral, o paladar nesta família é mais leve e as cervejas são mais carbonatadas. Esta cerveja é bastante difícil de ser bem produzida, apesar de ser a mais bebida no mundo.

Os estilos mais conhecidos são: Helles, Bock, Schwarzbier, Vienna, Malzebier, Pilsen, American Light Lager.

O Terceiro Gole: Modo de usar

Cerveja é uma daquelas coisas que a gente leva a sério porque está nos itens cativos no entretenimento. Mas nem sempre estamos em casa ou temos toda a infraestrutura para seguir um ritual. Para alguns estilos de cerveja, podemos ter diferentes copos, mas a cerveja do dia a dia, do boteco, do bar da esquina e da sua casa, podem ser os copos calderetas e americanos, já conhecidos. Não apela tomando no copão de plástico, existem motivos bem plausíveis para escolher o copo certo, o principal sendo que o plástico influi no sabor da cerveja, enquanto o vidro é inerente ao líquido.

Na terra do sol escaldante a cerveja é gelada. Só cuidado para não gelar muito e, por favor, não deixe ela congelar. Cervejas também têm sabor e por isso precisam ser apreciadas. Dê goles menores e mais lentos para perceber seus atributos. Preste atenção à graduação alcoólica da cerveja, que muda de um estilo para o outro. Nem toda cerveja tem 4,5% de álcool e isso faz diferença ao longo do churrasco.

A cor âmbar da garrafa tem os seus porquês. O vidro marrom não deixa o líquido tão exposto ao sol, então, guarde sua cerveja longe da luz. 

O Quarto Gole: Servindo a cerveja

Com colarinho ou sem colarinho?

Não sei o porquê de a coitada da espuma ser tão discutida. Ela acontece, gente! Vamos ao que realmente importa.

Comece devagar e comece com o copo limpo. Comece prestando atenção para não bater a garrafa no copo, não despejar de muito lá de cima (atenção quem tem braço comprido!). Se espumar muito, angule o copo para a cerveja cair nas suas paredes. Talvez você não goste tanto da textura da espuma na sua boca, mas ela ajuda a manter o gás carbônico e, assim, a cerveja não ficar “choca”. Além do mais, ela ajuda a segurar a temperatura.

A carbonatação é algo lindo, bicho! Deixe sua espuma viver!

Mas o importante é a sua experiência. Antes de mais nada, seja feliz!

A Saideira

Mesmo com esse monte de pequenos rituais, você vai naturalmente se acostumar e buscar pelas palavras chaves que a cerveja tem. Aprendendo mais sobre o assunto, fica fácil escolher. Não estou aqui para dizer o que você tem que beber, mas sim com o que se preocupar e como fazer direitinho, caso veja sentido.

Neste mundo grandão, o importante é a cerveja ser essa bebida social tão ampla. A gente se vê no bar.

Ou aqui embaixo, nos comentários.

Nota: esse texto faz parte da coleção "23 dias para um homem melhor". Você pode ver a lista com todos os artigos já publicados aqui.

Para ler mais sobre cerveja:

Guia de coloração da cerveja

A história da cerveja

Como fazer uma degustação de cerveja

Qual a temperatura ideal para beber cada cerveja

Copos de cerveja para ir além do velho copo americano de boteco

14 cervejas para descobrir como agradar seu paladar

28 curiosidades sobre a cerveja

Mecenas: Adriática

A lendária cerveja puro malte de Ponta Grossa – PR foi relançada, mas apenas em alguns (poucos) bares do Brasil. Feita pelo alemão Henrique Thielen em 1893, a Adriática é uma das primeiras cervejarias do Brasil. 

Bia Amorim

Formada em Hotelaria e pós-graduada em Gastronomia, com especialização em Sommelier de Cervejas. Está no Twitter (<a>@biasamorim</a>) e Instagram (<a href="http://instagram.com/biasommelier">@biasommelier</a>)