Comentou uma leitora:

“Tenho amigos que [nunca fazem] um esforço … de vir à minha casa, ou a uma padaria perto da casa deles, que seja. Sempre eu quem tem que se deslocar à casa deles se quiser vê-los. Se não fizer esse deslocamento … não os vejo mais.”

É verdade. Na minha vida, por exemplo:

Tenho amigas que são ótimas pra segurar a minha barra quando meu pai está com câncer, mas jamais sairiam comigo para dançar e badalar (“ai, odeio lugar escuro, apertado, música alta! deus me livre!”).

Tenho amigas que não aguentam um minuto de conversa sobre câncer (“vira essa boca pra lá, falar sobre isso atrai, quero viver!”) mas são as melhores companheiras para sair, dançar, beber, badalar.

Tenho amigas que me visitam sempre, mas que jamais me convidaram para conhecer suas casas (“minha casa é um santuário, sabe? me sinto invadida quando recebo visitas.”)

Tenho amigas que nunca me visitaram (“perdão, Alex, tenho um prazo estourando, tô com a minha filha hoje, não vai dar pra sair”), mas que sempre me recebem em suas casas para dias deliciosos de conversa e co-working.

As pessoas são diferentes. Elas tiveram vidas, experiências, traumas diferentes, e, por isso, agem, oferecem, precisam de coisas diferentes.

Nada contra passarmos a vida esperando pela mítica amiga perfeita que vai sair para dançar conosco na sexta e nos acompanhar na quimioterapia do pai na segunda. (De novo, pautadas por nossos traumas e experiências, agimos como precisamos e como podemos.)

Em minha vida, porém, essa atitude fazia de mim uma pessoa amarga e solitária, sempre esperando mais das pessoas do que podiam oferecer, sempre me frustrando, sempre pulando de amiga em amiga em busca da amiga ideal.

Hoje, me sinto grato e privilegiado de poder ser o recipiente daquilo de melhor que as pessoas querem e podem me oferecer.

Uma amiga que seja a amiga perfeita para passar um dia na praia é uma amiga perfeita para chamar para passar o dia na praia.

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Não espero que também seja a amiga que cozinha comigo, com quem converso sobre Doctor Who, que adora rodas de chorinho.

Minha maior fonte de sofrimento eram minhas expectativas sobre o comportamento das outras pessoas. Quando consegui diminuí-las ou desligá-las, minha interação social passou a ser muito mais prazeirosa e mais tranquila, menos egoísta e menos autocentrada.

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Substitua “pessoa amiga” por qualquer uma das palavras que usamos para as pessoas com quem temos relacionamentos românticos-sexuais (“marido”, “namorada”, “noivo”, “amante”, etc) e o texto se torna automaticamente sobre relacionamentos não-monogâmicos. Se tem interesse nesse assunto, leia a Prisão Monogamia.

Os encontros "As Prisões"

São instalações artísticas, polifônicas e interativas, improvisadas e colaborativas, onde praticamos escutatória e atenção, generosidade e cuidado, e exploramos os limites e possibilidades da comunicação cotidiana: o que falamos?, como falamos?, por que falamos?

O nome vem de uma série de textos que estou escrevendo desde 2002, tentando mapear todas as Prisões cognitivas que acorrentam nosso pensamento: Verdade, Dinheiro, Trabalho, Privilégio, Monogamia, Religião, Obediência, Sucesso, Conhecimento, Felicidade, Autossuficiência,  Patriotismo, e a maior de todas, Eu.

Os encontros, realizados por todo o Brasil desde 2013, reúnem de dez a trinta pessoas, duram de um a cinco dias e são sempre diferentes, imprevisíveis, únicos.

Neles, enquanto discutíamos "As Prisões", os Exercícios de Atenção foram criados, gestados, aperfeiçoados, em um processo colaborativo com as pessoas participantes. Hoje, os encontros servem para praticarmos esses exercícios e para inventarmos juntas os próximos, em um processo que só poderia acontecer presencialmente, olho no olho e lágrima no suor.

Ninguém é obrigada a falar: toda fala é voluntária.

Ninguém é obrigada a pagar: todo pagamento é voluntário.

Para saber quando serão os próximos, visite minha página de eventos.

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Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // esse é um texto de ficção. // veja minha <a title=quem sou eu