O sexo libera endorfina e serotonina no cérebro. Esses neurotransmissores reduzem o estresse e a depressão e, de quebra, ajudam a regular o sono. Só maravilha.

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Trilogia suja de Havana

E, em sua Trilogia Suja de Havana, Pedro Juan Gutierrez já dizia:

Sexo não é para gente escrupulosa. Sexo é intercâmbio de líquidos, de fluidos, de saliva, hálito e cheiros fortes, urina, sêmen, merda, suor, micróbios, bactérias.
Ou não é.
Se é só ternura e espiritualidade etérea, reduz-se a uma paródia estéril do que poderia ser. Nada.

Aparentemente, os caribenhos sabem das coisas. Uma foda bem dada é, certamente, precedida pela entrega. Não basta ficar de pau duro, não é só abrir as pernas. Há que ceder à entrega, precisa do intenso mergulho, da imersão na putaria, no tesão, na busca pelo calor, pelo fogo, pelo júbilo que te deixa bobo.

A gente vai, abraça a coisa toda, esquece o mundo e outras pessoas, quanto mais pensamentos alheios, julgamentos do inconsciente coletivo. Vamos para o tudo ou nada, chafurdamos, uma noite de luxúria, metamorfose e carnaval. É bagunça, selvageria, orgasmos, canseira, dominação, uma quase angústia que nos leva à redenção. É gostoso pra caralho.

O contato, amigo!

Felizes são os homens que querem tirar mulheres da vida dos prostíbulos, que encontram nelas, não uma oportunidade de jorrar, não a hora certa de mandá-la embora, mas sim o contato mais puro e acalentador. Palmas praqueles que se apaixonam por todas e quaisquer mulheres que lhes dão um mínimo de atenção. Vocês sim fazem a vida valer a pena, chafurdam as profundezas das relações humanas e exploram ao máximo essa delícia de ganhar um olhar, de tirar um sorriso, de fantasiar toda uma aproximação das peles, de ansiar a quentura da respiração no cangote, a textura da língua dentro da boca.

O que produz calor e, com afinco, fogo? Fricção. Atrito*
O que produz calor e, com afinco, fogo? Fricção. Atrito*

Sem esse contato, seríamos apenas Adãos e Evas correndo nus e sem o conhecimento da vergonha, mas também com o desconhecimento de ter um ao outro, de perceber que só valeria a pena todo o rolê de um pudesse se colar no outro, mesmo que com duas folhas de parreira entre eles e sem a proteção que vinha lá de cima. Ora bolas, de que vale uma vida de cuidados renascentistas se o melhor de despir uma mulher na idade média era justamente saber que, depois de muitos minutos desenlaçando aqueles vestidos bufantes era encontrar, enfim, o contato dos corpos, o descobrimento (em todos os sentidos que puder imaginar) da pele?
*A gente não quer só gozar, a gente quer inteiro (e não pela metade)

Era pra ser o suprassumo animal, o recorte sempre perfeito de uma vida cheia de maldizeres. Mas não é assim não.

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Depois que a poeira abaixa, logo em seguida da brasa esfriar, nem sempre a coisa anda. Não é dessa maneira que a gente queria, mas se a vida assopra, é porque ela logo vai bater de novo. De quando em quando, a gente se pega na situação inerente do asco pós-coito, aquela mazela que surge depois que o sangue começa a fluir novamente por todo o corpo e não só nas genitálias, uma coisa ruim de se perceber em algum lugar que não se queria estar com uma pessoa que não era exatamente quem você passaria uma madrugada toda batendo um papo.

Nem estou dizendo que a escolha foi erro nosso, que, já que optamos — em alguns momentos — o sexo pelo sexo, nada mais justo que ter que aturar o que vem depois. Não posso dizer, claro, por todo mundo, mas creio que foram pouquíssimas as vezes em que eu fui para o tão desejado sexo com alguma garota que eu não tinha um mínimo de sentimentalidades de carinho, curiosidade e amizade.

Só que o sexo abre muitas portas, mostra muitas caras, evidencia muito de você e da outra pessoa. Somos perversos até os ossos, não se esqueçam disso.

Daí, quando ainda nem percebemos, o toque da pele se transforma em algo incômodo, a voz adentra aos ouvidos de forma mais áspera, as luzes do quarto ficam menos convidativas, a cama parece ter criado pregos. Eis o asco.

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Não. Nem tudo é como a gente quer.

Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados