Nunca me esqueço de quando eu, menino de tudo, prestes a entrar na faculdade, estava numa aula de geografia do cursinho quando perguntaram ao professor:
"Se você pudesse escolher qualquer época da história pra viver, qual escolheria?"
Observando aquilo, como bom vestibulando, ativei as sinapses. Naquela época da vida, você fica condicionado a tentar responder a qualquer pergunta da maneira mais rápida e completa possível – ainda acredito que essa robotização toda não vale a pena, mas segue o jogo.
Quando eu ainda estava na metade da linha de raciocínio, me imaginando na Atenas de Platão, na nova Roma de Constantino, no feudalismo, na Revolução Francesa, na belle epoque, na corrida espacial, o professor prontamente respondeu:
"Hoje!"
A resposta veio tão rápido e de maneira tão óbvia que parecia que ele já tinha respondido a tal pergunta mil vezes antes. Não era o caso. Fiquei indignado. Como poderia o professor não ter pelo menos refletido um pouco? Feito as simulações que eu estava fazendo na minha cabeça?
No fim da aula, arrisquei perder o intervalo, mas puxei assunto. E foi então que ele me disse que estávamos vivendo a crista da onda da nossa história recente no planeta. Ele explicou que apesar dos imensos problemas que ainda enfrentamos, nada se compara ao que já passamos e que em nenhum outro momento histórico tivemos tanto conforto, conhecimento e qualidade de vida quanto temos atualmente.
Ele me perguntou em que outra época poderíamos viver tanto tempo? Viajado tão rápido? Conhecido tantas pessoas tão diferentes entre si? Em que outro momentos pudemos aproveitar tanto a tecnologia pro nosso próprio prazer? Quando pudemos compartilhar tanto conhecimento? Ter tanto tempo livre pro nosso lazer? Na média, independente de classes sociais, raça, gênero, idade, nacionalidade, todos os seres humanos do planeta estavam melhor.
Guardo aquilo comigo até hoje e a cada problema que me deparo, me obrigo a lembrar o quanto devo ser grato por viver hoje e não, sei lá, 100 anos atrás. E quando fatos de escala global como o BRExit acontecem, penso comigo que seria um bom exercício para todos fazer o mesmo que eu.
A polêmica saída do Reino Unido da União Européia rolou. Nós explicamos, fizemos piada, repercutimos, opinamos, compramos libras e até passamos a acreditar que estamos entendendo alguma coisa da situação toda. Mas basta ampliar um pouquinho o horizonte para perceber o tamanho da insignificância dessa mudança – que está sendo considerada a mais importante dos últimos anos – e de outras.
Portanto, hoje, se você me permitir, queria te convidar para fazer esse exercício comigo. E relaxar.
No vídeo a seguir você não verá muita coisa além da mudança das fronteiras políticas no mapa da Europa desde 1100 até 2012. Mas basta um pouquinho de imaginação para se dar conta de que nossos problemas e preocupações definitivamente não são os maiores do mundo. Nem hoje, nem nunca.
É claro que, com um pouquinho de má vontade, você pode usar o mesmo vídeo como ponto de partida de uma reflexão pessimista. De como somos insignificantes no espaço-tempo ou de como a humanidade paga caro por suas guerras etc, etc.
Mas, assim como tudo na vida, espero que você escolha fazer disso um trampolim para alegrar o seu dia e ser grato por viver na melhor época da história junto comigo.
Afinal, tá um dia lindo lá fora.
publicado em 02 de Julho de 2016, 12:30