Playlists para ouvir não ouvindo

Existe um movimento justo – e, inclusive, apoiado – questionando o perdido hábito de ouvir música. E o ouvir em questão é analisar cada verso, acorde e sequência pré-definida de faixas, fazendo valer o conceito introduzido dentro do álbum. Deve-se esse saudosismo, acredito, à uma certa perda daquela cerimônia de descoberta de uma banda ou toda atitude necessária para curtir um som.

Ficou fácil ouvir música. E tudo que fica fácil traz junto um chato que diz ser melhor quando era difícil.

É claro que existe uma poesia diferenciada no vinil. Todo ato de compra ou empréstimo do disco seguido da concentração exigida para ouvi-lo com fones de ouvido e sentado em frente à vitrola, por exemplo, era excelente. Como, de maneira dosada, ainda realmente é. Há uma certa valorização do trabalho, um prestígio ao artista e à produção.

O mesmo vale para a música da rádio gravada na fita. Pause/rec entre as faixas e torcida para aquela vinheta insuportável do programa no meio da música não surgisse para prejudicar. Por se tratar de um trabalho de gravação artesanal e tão cuidadoso, tinha um amplo valor duplo: sentimental e de exclusividade.

Jack White, o mais novo embaixador oficial do vinil
Jack White, o mais novo embaixador oficial do vinil

Fazer uma lista para ocasiões é uma arte tão antiga quanto a música. Acontece que existem dois formatos de trilha: a de tributos e para momentos. Quando você decide criar algo que homenageia, sei lá, solistas, riffs de guitarra ou viradas de bateria, certamente não vai agradar todos. Por mais que seja explícita a preferência do autor, sempre haverá comentários sobre a inadmissível falta de algo.

Já a trilha de momentos, bom, essa é mais eficaz por um motivo simples: representar o puro e claro estado de espírito do seu criador. As cancões escolhidas não são apenas as preferenciais. São parte de uma fantasia criada para conseguir sentir-se no ambiente. Faz-se o papel do receptor da lista para comprovar a eficácia das músicas e ordem. Dificílimo, pois é justamente a surpresa e expectativa da próxima faixa que gera a sensibilidade do conforto.

As trilhas sonoras – ou playlists, como preferir – que não precisam de uma densidade significativa, cateanovelosística ou filosófica. São músicas que, dentro de uma ordem lógica, possuem como proeza o simples fato de inspirar-lhe.

Para exemplificar a teoria, criamos algo para você ouvir em momentos que não dependem nem um pouco da sua concentração nas caixas de som. O enredo é dentro de um encontro amoroso e a programação é dividida em 7 atos: convite; preparar-se para o coito; dizer dizendo e fazer fazendo; mordidas; umidificando; after shaggin e saudade.

Questão: Mas sr. Fagundes, se as músicas possuem letras convidativas, não é necessário atenção total?
Resposta: Não, gafanhoto filho do Winamp.

A música deve trabalhar penetrando o estado da alma de maneira intrínseca e sobrenatural. Não me faça tentar explicar o intangível. O barato da arte é justamente esse toque que nos deixa com cara de bobo pela emoção proporcionada. A pessoa pode estar redigindo um relatório, lavando o carro ou separando o feijão. Se a música for executada, ela estará fazendo a sua parte.

Convite

É possível que você deva seu nascimento a um momento que ele criou pros seus pais
É possível que você deva seu nascimento a um momento que ele criou pros seus pais

É necessário um certo egoísmo para fazer essa playlist. É preciso representar o seu desejo. E, sem vergonha, não é hora pra esconder que Roberto Carlos é o maior de todos.

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Preparar-se para o coito

Eis que no meio da noite, entre o perigoso horário do fim da novela das 9 e a Grande Família (perigoso porque: se em quinze minutos depois disso nada acontecer, nada mais acontecerá), o telefone toca e acontece o seguinte diálogo:

— Alô?

— Oi, sou…

É ela.

— Ah, oi.

— Me busca e vamos sair hoje?

Dancinha da vitória.

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Dizer dizendo e fazer fazendo

Pro carro. Pra você dirigir. Pra ela ouvir. Pois pra bom entendedor meia verdade em formato de playlist serve.

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Mordidas

Já dizia Nelson Rodrigues:

“Não existe amor sem mordidas.”

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Umidificando

Se a calcinha trouxe benefícios às mulheres, bem mais trouxe para os homens. Trilha para umidifica-la em coito.

Pois tirar a calcinha equivale à vitória sobre a última barreira. É derrubar uma segura e bem postada defesa italiana com um gol de cabeça.

No segundo pau.

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After shaggin

Não ligue a TV, não pegue o celular, não se mova. Escute a respiração ao fundo da música.

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Saudades

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Há de saber cultivar a saudade. É uma lei da natureza, corno. Então deseje-a enquanto bebe.

Porque de saudade a cachaça é feita, mas por amor consumida.

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* * *

Acontece que evoluímos. Ficou fácil ouvir música. Ouvir, compartilhar e até criar sua própria música. Isso incomodou quem sempre valorizou os pequenos sacrifícios. Pequenos e valiosos, pois, para quem deseja mergulhar no âmago de uma arte, nada mais indicado que a concentração para faze-lo com sucesso. Só que nem todo mundo quer fazer isso.

Às vezes só queremos curtir. E há uma particularidade da música que não deve ser reduzida: a do seu singelo e denso poder de companhia e ambientação.

Tá ouvindo?

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publicado em 29 de Setembro de 2013, 21:02
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Fred Fagundes

Fred Fagundes é gremista, gaúcho e bagual reprodutor. Já foi office boy, operador de CPD e diagramador de jornal. Considera futebol cultura. É maragato, jornalista e dono das melhores vagas em estacionamentos. Autor do "Top10Basf". Twitter: @fagundes.


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