Neste domingo vai ao ar a premiação do Oscar. Cate Blanchett, Eddie Redmayne, Brie Larson, di Caprio, Charlotte Rampling, Saoirse Ronan, Matt Damon, Bryan Cranston e Michael Fassbender estarão lá, concorrendo aos prêmios mais disputados da noite.

Vamos ligar a televisão na TNT e desabilitar a função de tradução simultânea pra poder de fato ouvir o que se passa e torcer pelos nossos favoritos. Tudo normal, tudo comum. Só mais uma festa do Oscar.

Mas talvez a coisa não seja bem assim pra todo mundo. Pelo menos não para John Oliver, apresentador do programa Last Week Tonight Show, da HBO estadunidense. Isso porque ele se deu conta de um problema sistêmico que, agora, não vai parar de incomodá-lo: a brancura caucasiana de Hollywood.

Estética do Oscar: é quase isso

No Emmy Awards de 2015, tivemos o privilégio de ver Viola Davis ganhar o prêmio de melhor atriz. Seu discurso da vitória foi iluminador pra mim e pra muitos outros, que replicaram o vídeo em suas timelines, mas só consigo pensar que deve ter sido bem óbvio para negras e negros que a ouviram: não há como ganhar prêmios por papeis que não existem.

O chamado de Davis foi claramente um pedido não só por papeis de personagens negros, mas pelo emprego de atrizes e atores negros em papeis cuja marca étnica não precisa estar presente. Pela abundância de roteiristas como Shonda Rhimes e Peter Nowalk, de atores como Halle Berry, Kerry Washington e ela mesma em Hollywood.

Agora, às vésperas do Oscar 2016, John Oliver parece ter explicitado algo que também era um tanto quanto óbvio, embora passasse longe de nossos brancos sonhos: esses papeis, meus amigos, já existem. Só que, número um: eles estão sendo interpretados por atores caucasianos. Número dois: não é só a etnia negra que está sendo preterida em favor da caucasiana, mas também a asiática, indiana, egípcia e qualquer outra que, bem, não seja a caucasiana.

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No programa, o apresentador corrobora seus argumentos com filmes clássicos de anos anteriores. Estamos falando de Jake Gyllenhaal, galã de olhos azuis que assumiu o papel de… princípe da Pérsia; do filme Êxodo, de Ridley Scott, que é estrelado por Christian Bale e incontáveis outros machões caucasianos pra interpretar homens egípcios – país que fica, ahã, na África –; de Tom Cruise, que interpretou o último samurai; de Marlon Brando, Meryl Streep, Audrey Hepburn e outros talentosos caucasianos que poderiam ter ficado fora dessa.

Ou seja, não só essas pessoas não têm lugar nos papeis cuja etnia não está marcada, mas não têm os papeis que representam sua própria etnia. Ao invés disso, nós, espectadores, ficamos assistindo a releituras de blackface absolutamente ridículas e que não fazem o menor sentido ou ao Tom Cruise sendo o último samurai.

O mais impressionante é que estávamos de boa, tranquilos, assistindo à cerimônia do Oscar no sofá de casa, sem nem perceber o absurdo da situação.

Valeu por essa, John Oliver. Obrigada, Viola Davis.

Marcela Campos

Tão encantada com as possibilidades da vida que tem um pézinho aqui e outro acolá – é professora de crianças e adolescentes, mas formada em Jornalismo pela USP. Nunca tem preguiça de bater um papo bom.