Aqui estamos com a nossa querida coluna Ignição de novo, prontos pra tentar novos desafios que chacoalhem um pouco as coisas pra nós.
Semana passada tivemos um desafio de ir ao ar livre, reconectar-se com a natureza e amigos para restabelecer as energias. Foi algo que eu mesmo experimentei uma vez, ando louco pra fazer e, não à toa, trouxe pra vocês.
Dessa vez, acho que podemos tentar algo mais fácil de iniciar agora mesmo e ver o que aprendemos no caminho.
Vamo lá?
Prática da semana: conheça o porteiro (ou o tio da banca de revistas, do açougue, o garçom, etc)
Como falado outras vezes, uma das reclamações mais recorrentes que ouvimos em comentários, e-mails e até na coluna Mentoria PdH, são variações de "eu me sinto sozinho".
Algumas outras vezes tangenciamos essa questão, como no Ignição "Converse com alguém sobre seus hábitos nocivos" ou no "Peça ajuda".
No "Converse com alguém sobre seus hábitos nocivos", falo sobre isso bem diretamente:
Uma das nossas apostas é que há, nos homens, uma solidão generalizada (eu arriscaria dizer que não só nos homens, mas isso é assunto pra uma outra conversa).
Eles podem não estar sozinhos no sentido literal da palavra, mas estão, sim, isolados. Mesmo quando têm uma vida agitada, sucesso e relacionamentos, há uma falta de profundidade nessas relações.
Essa questão do isolamento é o que vamos atacar um pouco hoje.
Podemos não notar, mas todos os dias tomamos pequenas decisões que nos afastam das pessoas, constroem muros sutis que vão se tornando cada vez mais difíceis de serem transpostos. Por exemplo, quando esbarramos um vizinho no corredor do prédio e não o cumprimentamos, quando no elevador desviamos o olhar e evitamos qualquer contato o mais rápido possível. Quando as pessoas nos olham e vamos passando sem manifestar qualquer interesse mínimo, como que sinalizando sempre "por favor, me deixe em paz".
Às vezes, colocamos até um pouco mais de energia nisso, como quando frequentamos um curso e saímos de lá evitando qualquer olhar, sem travar nenhuma conversa e sem ter pego o WhatsApp de ninguém para seguir o contato.
Esses gestos somados criam uma vida de isolamento. Quando olhamos pra trás, vemos como sinalizamos, dia após dia, que queremos ser deixados em paz—às vezes queremos mesmo e tudo bem e, se esse é o seu caso, então essa prática não é pra você. Mas se você não é essa pessoa que prefere se isolar, então, um problema se instaura e a solidão (e não solitude) toma conta. Com o tempo, algo em você de repente passa a precisar de nutrição.
O que proponho hoje é um exercício de abertura por meio da escuta.
A prática de hoje é conscientemente manifestar interesse e conversar com as pessoas com quem esbarramos em atividades cotidianas, como o porteiro, o açougueiro, o garçom… enfim, aquelas pessoas que estão ali todos os dias mas que, por hábito, tratamos apenas de maneira funcional.
Pergunte seus nomes, trate-as como o que elas são: muito mais do que alguém que está ali apenas para serví-lo. Sinta se há abertura e, se houver, pergunte um pouco mais. Pergunte como está o dia, se as vendas estão indo bem, onde moram, como é a rotina, como é cuidar daquele lugar… você vai se surpreender com a quantidade de histórias incríveis que estavam ali apenas esperando para serem ouvidas.
Tente também notar as emoções por trás das histórias. Ela parece ter raiva? Está ressentida com o que conta? Parece cansada? Talvez está feliz? Ela sorri? Tudo isso pode virar mais insumo pra conversa seguir adiante.
Com o tempo, isso deve ajudar a reduzir ou pelo menos torná-lo mais autoconsciente dos seus padrões de fechamento. Você vai ter aprendido a travar diálogos, a conhecer as histórias das pessoas, a ouvir e se posicionar de maneira mais aberta, facilitando com que outras pessoas também se sintam dispostas a se aproximar de você.
Há chances de, quando menos esperar, você ser como aqueles tios que conhecem todos no bairro, cumprimentando e conversando o caminho inteiro do mercado até em casa.
Não sei vocês, mas é exatamente quem eu um dia pretendo ser. 😉
"Uma pessoa capaz de ouvir os seres em seus mundos é alguém que vive em um universo vasto, repleto de novidades e riquezas ainda não descobertas. Ela sabe que todos os que se aproximam podem oferecer infinitas possibilidades e esta acaba se tornando a dimensão de seu próprio mundo." —Pedacinho do artigo "Ouvir além das palavras: o que é e como fazer"
Depois, voltem aqui e contem como foi a experiência. Deu certo? Como você se sentiu?
Ou você travou? Não conseguiu seguir a conversa? Ficou com vergonha? Se sentiu bobo? Isso tudo vale ouro e faz parte da prática. A ideia da coluna não é apenas acertar, mas a gente começar a conversar sobre como a gente se sente diante dos nossos obstáculos.
E, claro, se já é algo que você faz, venha contar aqui também. 🙂
Aguardo vocês nos comentários!
* * *
O que é a coluna Ignição?
Resumindo: queremos iniciar processos de transformação por meio de ações práticas.
Aqui no Papo de Homem temos trocentos textos filosofentos falando de tudo. Agora, vamos pra outra abordagem.
Menos papo, mais ação.
Você está perdido e não sabe o que fazer da vida?
Aqui vamos oferecer um ponto de partida, ações simples que você possa usar como um aquecimento, que coloque seus "músculos" no ponto para você gradativamente começar a lidar com seus problemas de frente.
Como funciona?
Toda semana vamos sugerir ações práticas acessíveis, para que você possa sair da inércia.
Depois, pedimos que venham aqui no artigo e relatem, em detalhes, como foi a experiência. Vale qualquer coisa, inclusive e principalmente, se der tudo errado, pois é nessas horas que a gente precisa de apoio e a coisa de termos uma comunidade mais vai fazer sentido. Nos colocando em movimento vamos começar a descobrir irmãos, amigos, enfim, parceiros de transformação.
Com o tempo, vamos cultivar uma rede de parceiros, dispostos a transformar suas vidas e também conversarem sobre o processo todo como uma forma de se incentivarem e se apoiarem.
A Ignição é incrível, onde encontro os experimentos anteriores?
Muito fácil! Basta entrar na coleção Ignição.
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