Em 1995 foi publicada a primeira versão de um dos grandes manuais de edição do audiovisual: Num piscar de olhos, do Walter Murch. A apresentação da obra, feita por ninguém menos que Francis Copolla, é curta e grossa, mas a frase que ele escolhe para iniciar seu texto ("Pensar em Walter Murch me faz sorrir. Não tenho muita certeza do motivo") já dá o tom de um dos pilares que sustentam o mundo do cinema: a emoção.

Lembro que a minha principal busca ao começar a ler esse livro estava baseada em um amontoado de detalhes e questões técnicas. Queria respostas práticas para problemas banais de edição, como o que define um bom corte, por exemplo.

Em um dos primeiros capítulos, ele fala sobre a regra dos seis para explicar essa minha dúvida.

Por muito tempo, a ordem de ouro para uma boa edição era não quebrar a continuidade do espaço, ou seja, não "pular" as pessoas no espaço. 

Para o autor, "O problema desse raciocínio pode ser visto na televisão em qualquer sitcom feito com várias câmeras. Como as câmeras estão gravando simultaneamente, os atores estão sempre "corretos" no que diz respeito à continuidade espacial e à relação de um todo com o outro. Isso não impede que cortes ruins sejam feitos o tempo inteiro"

Walter, portanto, sugere outro critério. Basicamente, um corte ideal obedeceria a essa lista de prioridades:

  1. Emoção (51%)
  2. Enredo (23%)
  3. Ritmo (10%)
  4. Alvo de Imagem (7%)
  5. Plano bidimensional da tela (5%)
  6. Plano tridimensional da tela (4%)

Pra além de todas as diferenças de linguagem existentes entre uma obra para o cinema e para a TV, o que essa regra que coloca a emoção como ponto mais importante me trouxe foi acalentador. Explicou muito do sentimento que eu tinha em relação à debates que listavam melhores e piores séries, daquelas famosas brigas "Você é time How I Met Your Mother ou Friends?", sabe?  

O ponto é que nem só de "questões técnicas" (com todas as ressalvas que vocês puderem me permitir) vive o audiovisual. Por mais que essa seja apenas uma pincelada dentro intermináveis aspectos a serem levados em conta, é um compilado que resume muita coisa. As discussões a respeito de qual filme merece levar a estatueta, ou qual série é a mais bem produzida, só mostram o quanto nos deixamos levar por nossas emoções.

Leia também  Em "Uhuuu!", Cidadão Instigado traz mais estranheza ao pop

E tudo bem, a ideia era essa mesmo.

"O que você quer que o público sinta? Se ele sente exatamente o que você queria durante todo o filme, você fez o máximo que poderia fazer. O que será lembrado não será a edição, a câmera, as atuações ou mesmo o enredo, mas como o público sentiu tudo isso"

Water Murch

Sua série favorita pode não estar nessa lista feita pela Rolling Stone, mas vai continuar sendo a melhor. Isso porque o que torna essa arte perfeita, no fim das contas, é a maneira como ela se comunica com nossas experiências individuais e se traduz no ingrediente especial chamado emoção

(Mas dá uma chance, vai que você encontra aqui sua nova série favorita do mundo?)

1. The Sopranos (1999-2007)

2. The Wire (2002-08)

3. Breaking Bad (2008-13)

4. Mad Men (2007-15)

5. Seinfeld (1989-98)

6. Simpsons (1989-Presente)

7. The Twilight Zone (1959-64)

8. Saturday Night Live (1975-Presente)

9. All in the Family (1971-79)

10. The Daily Show (1996-Presente)

11. Freaks and geeks (1999-2000)

12. Game of Thrones (2011-Presente)

13. Late Night With David (1982-2015)

14. The Larry Sanders Show (1992-98)

15. The West Wing (1999-2006)

16. M*A*S*H (1972-83)

17. Twin Peaks (1990-91)

18. Star Trek (1966-69)

19. Curb Your Enthusiasm (2000- Presente)

20. CHEERS (1982-93)

21. THE OFFICE (U.K., 2001-03)

22. Louie (2010-Presente)

23. Deadwood (2004-06)

24. Friday Night Lights (2006-11)

25. VEEP (2012-Presente)

***

Para ler mais:

 

Carol Rocha

Leonina não praticante. Produziu a série <a> Nossa História Invisível</a>