Falei em outro texto recente, chamado "O que diabos está acontecendo com o PdH?" sobre nossas últimas iniciativas. Em especial, o surgimento de uma nova coluna, chamada Mentoria PdH, na qual a comunidade do vosso portal surge por lá e ajuda um leitor em sua questão específica. 

Sou suspeito pra falar, mas o que acontece ali é lindo demais. Toda semana dezenas de pessoas vão por lá e oferecem suas histórias de vida e aprendizados no melhor espírito de cooperação. 

Resolvemos, agora, começar um novo experimento um pouco diferente do que normalmente fazemos. Chega de teoria, hora da ação!

O que é a coluna Ignição?

A coluna Mentoria PdH nos alertou para algo que se repete: recebemos muitos e-mails de pessoas que se sentem completamente perdidas e não fazem a menor ideia do que fazer para colocar a vida nos eixos.

Há alguns meses, o sucesso de artigos como o "12 livros úteis para momentos de crise", "Uma carta a quem está perdido e não sabe o que fazer da vida" e "Superando a crise dos vinte e tantos em 3 etapas" parece reforçar essa percepção. 

A insatisfação é uma irmã muito próxima da inércia. Não é raro nossos momentos de maior descontentamento serem também os de maior estagnação. E, num ciclo meio paradoxal de retroalimentação, seguimos inconformados, reclamando de tudo e paralizados, soterrados, sem conseguir (ou mesmo querer) agir.

Sabemos que reclamar não ajuda e, muitas vezes, é uma válvula de escape pra disfarçar problemas muito maiores.

Além disso, muitas vezes, a pessoa que manda um desses e-mails já devorou tudo o que está no site, já leu todos os livros possíveis e imagináveis, já fez mil cursos, já zerou os vídeos de palestras do TED. Então, o que falta?

Bem, meu palpite é que falta ação.

Somos muito teóricos. Achamos que toda essa leitura vai nos transformar. Em alguns casos, acredito, de coração, que há um efeito positivo. Mas só entender não adianta.

O processo de absorção verdadeira raramente vem só com uma leitura ou quando você presta atenção em um vídeo. Pra enraizar é preciso sentir na pele, experimentar, analisar e apontar novas camadas no processo, até trucando o próprio método. Não dar certo e entender as razões é em si um avanço que não surge quando só se lê.

Há também as pessoas que sequer estão no ponto de ler ou de se encher de teoria ou que, por qualquer motivo, essa abordagem não funciona. Tem gente que precisa de um start, pra depois poder ir conversando, descobrindo e conectando pontos. Sabe como é, cada um aprende de um jeito diferente. 🙂

A coluna Ignição é a nossa forma de dar um empurrão. A ideia é reunirmos um grupo de pessoas que querem reorganizar a vida e estão dispostos a experimentar práticas que ajudem a desenvolver aspectos importantes da mente e do corpo que podem ser úteis em diversas esferas da vida.

Esse é o mote da Ignição: iniciar processos de transformação por meio de atividades práticas.

Como funciona?

Muitos lembram com carinho do "23 dias para um homem melhor", quando estruturamos um percurso que contava com um artigo por dia, durante 23 dias, sugerindo práticas para melhorar diversos aspectos da vida.

Na antiga Cabana também tínhamos algo similar. Escrevíamos um texto com considerações importantes e sugeríamos uma atividade. Depois, quem topasse o desafio, ia lá e relatava como aquilo foi útil ou não, o que aprendeu, quais as dificuldades e como conseguiu sair delas. Era super útil, não à toa, o lugar segue mais ou menos com esse formato.

Aqui, não vai ser muito diferente.

Toda quarta-feira vamos sugerir uma atividade prática para você sair da inércia sem pensar. Ação primeiro, conversa depois.

Vamos sugerir algumas observações, indicar leituras e/ou ensinar a fazer a coisa e incentivá-los a botar a mão na massa. 

Depois, pedimos que venham aqui no artigo e relatem, em detalhes, como foi a experiência. Vale qualquer coisa, inclusive e principalmente, se der tudo errado, pois é nessas horas que a gente precisa de apoio e a coisa de termos uma comunidade mais vai fazer sentido. Nos colocando em movimento vamos começar a descobrir irmãos, amigos, enfim, parceiros de transformação.

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Nossa primeira prática: arrumar/manter o quarto arrumado durante uma semana

Prometa que vai fazer melhor que isso. 

Bem simples, não tem muito mistério, né?

Mas vamos detalhar isso um pouco mais.

O que sugiro:

  • Arrumar a cama sempre que acordar;
  • Varrer, passar um pano e tirar o pó dos seus objetos;
  • Organizar estante/escrivaninha e gavetas;
  • Tirar objetos jogados pelo chão que estejam atravancando o caminho;
  • Colocar roupas sujas no cesto e, de preferência, lavá-las;
  • Separar roupas que não usa mais e jogar fora (preferencialmente, doá-las);
  • Separar papéis e outros objetos inúteis para doar ou jogar fora.

Esses dois artigos têm métodos práticos pra se livrar da bagunça, vale a leitura:

Aff, não sou mais adolescente! Por que arrumar o quarto?

Bem, você tem todo direito de achar isso tudo uma bobagem e eu entendo. Sei que parece coisa de adolescente isso de arrumar quarto.

Mas eu já vi gente adulta ser demitida, perder amizades e até ser expulsa do lugar onde morava por causa de bagunça. 

E não é que essas pessoas não saibam arrumar um quarto. É outra parada que falta.

Como no método do Sr. Myiagi, o que está na superfície pode ser bem enganoso.

Nossas ações carregam aspectos ocultos e nos demandam habilidades que, muitas vezes, nem levamos em consideração. Muitas das dificuldades que enfrentamos na vida não costumam vir da nossa falta de habilidade com uma tarefa específica. Disciplina, foco, resiliência, carisma, generosidade, compaixão, empatia… Tudo isso nos evitaria um monte de problemas. Mas onde ou como a gente aprende essas coisas?

Há, sim, métodos milenares, acompanhamento de psicólogos, terapeutas, enfim, todo tipo de ajuda às quais seria melhor recorrer. Porém, nem todo mundo se conecta ou está no ponto de se envolver com essas abordagens.

Tem gente que está precisando de nada mais do que apoio ou mesmo o que estamos nos propondo a dar aqui: um empurrão pra sair da inércia. 

Daí que uma tarefa trivial como arrumar o quarto e mantê-lo desse jeito pode ser uma excelente maneira de desenvolver um certo olhar bastante útil.

De repente, quando você menos espera, não está só organizando suas coisas, está aprendendo a sustentar energia durante um certo período. Afinal, você precisa de um mínimo de disciplina para executar essa tarefa diariamente (acordar e não ter disposição nem pra arrumar a cama pode entrar até pra nossa lista de alarmes de que alguma coisa não está indo muito bem).

Ao arrumar o quarto, você também está automaticamente se posicionando de uma maneira mais organizada e focada, com grandes chances de escoar essa postura pro resto do seu dia. Também evita a fadiga visual e mental de encarar um espaço bagunçado e provavelmente vai ser mais produtivo. 

Aprofundando na tarefa, você vai precisar de um certo nível de desapego pra se livrar das suas tralhas. Vai exercitar a generosidade/compaixão ao pensar em alguém para ajudar doando suas roupas e objetos que não servem mais. Talvez descubra uma certa satisfação em chegar em casa e ver um espaço desobstruído, limpo e acolhedor… ou talvez nada funcione, mas aí você vai ter descoberto um monte sobre a atividade, sobre si próprio e sobre suas qualidades e dificuldades.

Acertar, falhar e conversar sobre tudo isso é a razão de existir dessa coluna. 

Com o tempo, vamos desenvolvendo qualidades que vão ser úteis pra vida inteira.

Não vou me estender muito (até já falei demais, na verdade).

Quem topa o desafio dessa semana? Manifeste-se nos comentários.

Esse é um piloto e, como sempre, dicas e sugestões são bem vindas.

À medida que surgirem os insights, vamos discutindo e tornando esse artigo ainda mais rico.

Abraço e até a semana que vem!

Luciano Ribeiro

Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Você pode assistir no <a>Youtube</a>