Começou lá em outubro. Ainda era 2016, o ano que insistiu em não terminar. Jogos em dias intercalados, quando não são em dias dias seguidos, combinando viagens loooongas entre eles.

82 jogos. Isso aí: O-I-T-E-N-T-A-E-D-O-I-S.

E aqui chegamos: a fase decisiva da NBA começa neste final de semana.

Respiro? Esquece. A maratona segue, feito um viciado em Netflix. O menu traz um dos anos mais espetaculares da história. O que temos de tão relevante neste ano? Russell Westbrook derrubou um recorde da temporada 1961-1962 do também armador Oscar Robertson ao enfileirar 42 triple doubles (Dígitos duplos para três fundamentos em uma partida. Normalmente pontos, assistências e rebotes).  Uau.

Mas, calma. Não é só.

James Harden (ídolo de estilo deste que escreve e também do editor da casa Jader Pires) é outro que botou a bola debaixo do braço para dar aulas de como fazer uma equipe de basquete funcionar. Das mãos dele caem outra barreira do inimaginável, anotando 2.000 pontos e assistindo os companheiros para outros 2.000 pontos. Ele é o primeiro a conseguir fazer isso tudo, servindo os companheiros 900 vezes e ainda pegando mais de 600 em uma única temporada.

Sacou o que está rolando?

Sim, a história desenrola-se frente nossos olhos.

Os dois aí das linhas de cima disputam cabeça a cabeça o prêmio de Most Valuable Player (MVP), o grande jogador da temporada. Mas, assim, a coisa vai bem mais além.

Para aqueles que não acompanharam tão de perto a temporada regular e não sabem como a coisa se desenrola a partir daqui, aí vão pequenas ponderações: São 15 equipes de cada metade americana (Costa Leste e Costa Oeste). Classificam-se 8 de cada lado. E aí o pega para capar se define em séries de melhor de 7, onde o primeiro pega o oitavo, o segundo enfrenta o sétimo e assim vai. De 8 para 4 de cada costa, para então a definição dos campeões regionais, que se enfrentam na grande final, unindo novamente o país.

Então são esses 16 sobreviventes e, mais especificamente, sobre os 8 confrontos que falamos no segundo quarto.

Pega o Gatorade e dá uma secada no suor da testa com a toalha. É que vou arriscar desenhar umas jogadas logo na sequência.
 

1. Costa Oeste, onde a bola corre e a mãe não vê

"MVP! MVP! MVP!"

Golden State Warriors (67-15) x Portland Trail Blazers (41-41)

Esse é o sonho de 10 entre 10 torcedores de Curry para este ano

Favoritaça, a equipe da Califórnia tem o carrossel humano de Stephen Curry, Klay Thompson, Draymond Green e Kevin Durant para deixar os adversários tontos e é, pelo terceiro ano seguido, a melhor equipe da temporada regular.

O banco deu uma esvaziada para abrir espaço para a chegada do cracaço Durant, mais odiado em Oklahoma que o Messi em Madri (ou o Cristiano Ronaldo na Catalunha). Ainda assim, a defesa mostra-se sólida. Melhor ataque (115,9) da liga, o Golden State segue uma máquina de fazer os adversários correrem sem destino. Pelo lado da capital hipster dos EUA, a grande perda para o confronto é o pivô bósnio Jusuf Nurkic, que acabou de chegar, mas está fora da rodada decisiva por contusão.

A bela dupla de armadores Damian Lillard e C. J. McCollum faz um dos jogos mais ligeiros e habilidosos fora do garrafão. Mas é justamente a falta de um grandão pontuador e marcador como Nurkic que torna o sonho de eliminar o Golden State numa aventura tão longe de parecer real. Para quem está longe de NBA há tempos, aí vai um confronto ligeiro o suficiente para prendê-lo na cadeira.

Chute: Warriors, 4×0

San Antonio Spurs (61-21) x Memphis Grizzlies (43-39)

LaMarcus Aldridge é peça feita sob encomenda para o Spurs

E o Spurs vai mais uma vez para o playoff. Chega mais uma vez sem fazer alarde. No banco, mais uma vez o fantástico (e sarcástico) Gregg Popovich. Desnecessário dizer que mais uma vez a equipe texana vai chegar longe e dificultar a vida de todo mundo?

Amigos, esta é a primeira lição para um novato na NBA: Nunca brinque com o Spurs. O que faz o jogo aqui ser interessante é que o Memphis tem lá algumas das características que podem chatear os órfãos do eterno Tim Duncan. Sem passar sustos, a equipe da terra de Elvis Presley tem uma defesa extremamente sólida, a terceira melhor da NBA (100 de média), justamente contra a segunda melhor, o Spurs (98,1).

Tem tudo para ser um confronto mais físico, mais duro, mais lento e, talvez, mais faltoso que o duelo anterior. E nada disso supõe que seja pior. Os irmãos Pau e Marc Gasol se enfrentam nos garrafões. Enquanto Kawhi Leonard, um calado assassino do Texas, carrega números que o colocaram, para muitos, na disputa por ser o MVP da temporada.

Chute: Spurs, 4×2

Houston Rockets (55-27) x Oklahoma City Thunder (47-35)

Maestro James, o Rocketão da Massa e a obsessão pela bola de 3 pontos

Ok, aqui vamos para o embate direto entre os dois monstros imparáveis da temporada, que abrem o texto. Quis o universo, entre todas as falcatruas que ele nos tem armado ultimamente, que pudéssemos assistir até 7 duelos diretos entre os pistoleiros de maior calibre do Oeste nesta temporada 2016-17: James Harden e Russell Westbrook.

Harden tem ao seu lado snipers de elite (Lou Williams, Eric Gordon, Trevor Ariza e Ryan Anderson), que quebrou o recorde de tentativa de arremessos da linha dos três pontos na história da NBA. E, claro, uma imensidade delas caem: mais de 1.000, o novo recorde da liga. Harden é o camisa 10 de um ataque tão liso quanto leve de assistir (são 115,3 pontos por jogo, o segundo melhor entre os 30 times).

Do outro lado, Westbrook, o cavaleiro solitário que foi abandonado no meio de Oklahoma por Kevin Durant para realizar uma temporada de almanaque: média de triple doubles (31,6 pontos, 10,4 assistências e 10,7 rebotes) e uma violência física de fazer corar. Sabe aquela coisa de ver um artista no auge? Então, temos dois deles com agenda lotada. E é um contra o outro.

Palpite: Rockets, 4 x 1

Los Angeles Clippers (51-31) x Utah Jazz (51-31)

"Alguém pediu uma assistência?"

Vem aí no horizonte outra marca indelével dos anos 1990: o Utah Jazz. Com a melhor defesa da NBA (o Jazz cede 96,8 pontos por jogo e também é a que menos possibilita assistências, 20,1 por jogo), a equipe de Utah parece ter sido desenhada para parar o Clippers, que segue absolutamente dependente do pai da profissão Chris Paul, a definição do armador que cuida da bola e distribui quando e como o time precisa. Mas sabe aquele momento em que a montanha russa que está subindo?

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Pois, não é o time de LA quem está lá, mas os mórmons de Utah.

Olho em Gordon Hayward, mas também no pivozão francês Rudy Gobert, sujeito que leva jeito de se tornar o grande personagem defensivo nesta série. Ainda assim, nada disso garante vida fácil para o Jazz, um time jovem o suficiente, que pode sentir a pressão da hora do playoff.

Ainda assim, se precisar apostar, é com eles que eu fico.

Palpite: Jazz, 4×2

2. Costa Leste tem menos holofote. E um favorito ao título

King James busca o bicampeonato no Cavs

Boston Celtics (53-29) x Chicago Bulls (41-41)

A dura missão de parar Isaiah Thomas

No Leste, apenas um jogador chegou a ser considerado- por curto período, é verdade –  no nível de excelência de um MVP. Isaiah Thomas, o pequenino serelepe de Boston e sua capacidade de ser decisivo no quarto e último período de jogo.

Com seus 1,73 m (a ficha fala 1,75 m, o que, dizem, é mentira), Thomas carrega a segunda melhor média de pontos da temporada (29,1 pontos por jogo), atrás apenas de Westbrook. Tamanho gigantismo foi capaz de beliscar a primeira posição na classificação geral no Leste, algo que parecia desde sempre desenhada para o Cleveland Cavaliers, de Lebron, o atual campeão. Do outro lado, os tradicionais Bulls, equipe que precisou vencer em casa na última rodada para chegar aos playoffs.

As possibilidades de escapar da organizadíssima equipe de Boston – algo como um Corinthians de Tite – reside em uma certa mania dos Bulls em não se renderem fácil para os melhores times (12 vitórias e 9 derrotas contra os 8 melhores da liga toda) e apanhar feito criancinhas dos piores times da liga (13 vitórias e 10 derrotas contra os 8 piores). Jimmy Butler (23,9 pontos por jogo) viu a eterna franquia de Michael Jordan e seus números melhorarem com a ausência do craque em final de carreira Dwyane Wade.

A ironia é que Wade está de volta ao time titular, o que os números sugerem uma diminuição nas chances de Chicago seguir adiante. Camisa, por vezes, iguala disputas desiguais. É aí que vive a esperança. E nos finais de jogo on fire de Butler.

Palpite: Celtics, 4×2

Cleveland Cavaliers (51-31) x Indiana Pacers (42-40)

Ok, Lebron James e o elenco mais caro da NBA eram para posarem lá do alto no Leste, indiscutivelmente o lado mais fraco da liga. São quatro derrotas seguidas no momento de definição da tabela e uma posição roubada pelo eterno Celtics. Mas não parece ser necessário nenhum sinal de alarmismo.

Os Cavs podem perfeitamente voltar a funcionar. E rápido. James sabe de cor o caminho das finais da NBA e, digam o que quiserem (até que ele anda e juiz nenhum marca), mas ninguém se mostrou tão dominante numa série final como o camisa 23 de Ohio. A incrível reviravolta após estar perdendo a série por 3×1 para o Warriors deve ser lembrada antes de achar que Cleveland pode fraquejar. Indiana, por sua vez, montou um elenco interessante, cheio de alternativas para a estrela Paul George brilhar noite atrás de noite.

A entrega é que não saiu feito a encomenda. Os Pacers vão precisar de George em noites especiais (como no mais recente duelo com Lebron, com duas prorrogações, num intenso lá e cá entre os dois). Mas em série de 7 jogos, vai ser muito complicado para George segurar na costas Kyrie Irving, Kevin Love e todo o caríssimo, estrelado e experiente banco dos Cavs.

Se o camisa 13 dos Pacers conseguir algo garante desde já o nome eternizado nas 500 Milhas de Indianápolis. E merece carreata com o Corpo de Bombeiros e a chave da cidade.

Palpite: Cavs, 4×1
 

Toronto Raptors (51-31) x Milwaukee Bucks (42-40)

O Raptors, de Lowry, tenta desesperadamente fazer valer o investimento

O time do rapper Drake e único representante canadense está novamente bem colocado na tabela. O elenco está recheado de ótimas opções, mas segue na história da franquia a pecha de dar aquela derrapada na hora que o bicho pega.

Serge Ibaka chegou para conseguir abrir um pouco a quadra, já que o Toronto tem uma dificuldade enorme em derrubar a bola de longa distância. Kyle Lowry e DeMar DeRozan vindo de trás, Valančiūnas e Ibaka mais perto da tabela. Com o free agent vindo para Lowry, os Raptors apostam todas suas fichas no playoff deste ano.

E a “amarelada” pode surgir novamente nas mãos do Bucks. Mais jovem, mais atléticos e com um possível futuro brilhante pela frente, o Milwaukee tem tudo para ser um páreo duro na melhor de 7. Comparado a Lebron quando jovem, Giannis Antetokounmpo carrega as esperanças da equipe do Midwest.

E vai ser uma maravilha ver o ala de 22 anos de novo em playoffs. E ainda vamos ouvir muito sobre ele…

Palpite: Bucks, 4×3
 

Washington Wizards (49-33) x Atlanta Hawks (43-39)

A aposta do Wizards na dupla John Wall e Bradley Beal começa a se pagar. Uma coisa a equipe da capital federal pode ter certeza: Tem uma das duplas de armadores mais promissoras da liga (somados eles garantem 46 pontos por jogo).

Novamente all-star, Wall, com média de impressionantes 10,7 assistências por jogo, se mantém como a grande ameaça aos Hawks. Atlanta, aliás, chega sem muita coisa definida, além da recém promovida à titularidade de Dennis Schroder e Tim Hardaway no backcourt. Responsáveis por fazer o time da Georgia funcionar no ataque, mas também por brecar a fúria de Wall e Beal.

Pode ser muito trabalho junto. Prestes a entrar numa fase de transição e após perder Kyle Korver e Al Horford, Atlanta vai centrar jogo cada vez mais em Paul Millsap, um dos mais completos alas-pivôs da atualidade, o que não é pouco, diga-se. Só não deve ser o suficiente.

Palpite: Wizards, 4×1

Então, já sabe: Se tiver planejando abrir uma cerveja para ver a bola subir, é só chamar.

sitepdh

Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.