18 folks para esquecer a imensa bad trip chamada 2016

O ano mais intenso - e maluco - foi salvo, óbvio, pela música.

2016 foi um turbilhão. 

Tanto barulho, insanidade, embaraço, caroço e via esburacada que nem dá para começar. 

É tanta coisa para falar que prefiro nem dizer nada.

Vejamos o lado bom. O lado ótimo, na verdade. Até este dezembro que já está empacotando as malas para ir embora, nunca tinha tido a sensação de que tinha passado por 365 dias tão bonitos e especiais para a música. 

Era julho e a Pitchfork já se perguntava: Is 2016 Music's Biggest Year In Decades?

Todo mês uma nova pedrada. Do rap ao pop. Do rock ao folk. De 15 em 15 dias, um novo amor. 

Estes aqui são meus 18 amores no folk das últimas quatro estações. São todas canções lançadas nos últimos 12 meses. 

As regras são claras: nenhum artista repetido e nada de ranking. Não tem contagem regressiva nem melhor ou pior. Parecido como já havia feito aqui e aqui, lembra?

Ah, a playlist completa você encontra aqui.

Vamos lá?

1. Bon Iver - "29 #Stafford APTS"

 

Justin Vernon lançou, mais uma vez, um dos discos do ano. 22, A Million é muito sintetizador, muito auto-tune, muitas picapes e muito saxofone para pouco ou quase nenhum folk. 

A faixa acima é o único lembrete de que ele já foi um cara (triste) com um violão preso numa cabine de caça no meio de Wisconsin. 

2. Radiohead - "The Numbers" 

 

Ed O'Brien e Thom Yorke esqueceram as guitarras em casa. Sobraram uns violões surrados. Jonny Greenwood decidiu trazer na bagagem toda sua categoria como maestro. Longe da guitarra, ele teve espaço suficiente para brilhar definitivamente como o grande cara do disco.

Se gostou desta aqui, vai direto na fonte onde eles foram beber: Nick Drake. 

3. Andy Shauf - "The Magician"

 

Mais um canadense no folk. Que novidade, né? Shauf aprendeu tudinho com a fase vivendo-na-Escócia-com-Linda-McCartney do Paul do início dos anos 1970, já com coração partido pelo fim dos Beatles.

Foi bem difícil um som apenas de The Party. Saudosistas e fãs dos Fab Four vão ser agarrados de cara.

4. Damien Jurado - "Cinco de Tomorrow"

 

Precisa dizer que tem altas referências psicodélicas no som deste cara de Seattle?

Jurado tem uma das carreiras mais bem talhadas no underground americano, aquela coisa de showzinho minúsculo e van de cidade em cidade. Aqui ele segue firme na linha dos discos anteriores, com o violão de cordas de nylon sumido entre paredes e mais paredes de ruídos, reverbs, algum fuzz e quetais.

5. Kevin Morby - "I Have Been To The Mountain"

 

O ex-baixista do Woods - voltaremos a falar deles logo menos - agora é um rapaz crescido. Deixou o Kansas, mora em Nova York (no hipster Brooklin) e escreve altas canções folk.

Aquela velha história dylanesca da rapaziada do Midwest yankee que vai ser caipira na cidade grande. Singing Saw é o disco folk mais absurdo do ano. A canção título só foi substituída aos 45 do segundo tempo.

E, talvez, até me arrependa... 

6. Steve Gunn - "Ancient Jules"

 

Honrando lindamente a tradição de guitarristas do folk rock. É riff atrás de um riff, que é engolido por um outro riff. O Steve Gunn está sempre passeando com os maiores nomes do gênero em turnê por aí.

Vale a atenção.

7. Cass McCombs - "Opposite House"

 

Pega o vinho, puxa a cadeira e acende um cigarro. Conversa bem demais com o Jurado, alterando o violão desgastado pela guitarra dedilhada. Canção das mais bem produzidas da playlist.

Na conta do chá para abraçar a voz de Cass.

8. Woods - "Morning Light"

 

Eu avisei, lembra? Kevin Morby decidiu voar sozinho, o que não quer dizer que o Woods não chegue lá sem ele. Vocal em falsete, slide, um colchão eterno de teclados e ecos. Apresenta esta para aquele seu tio fã de rock sessentista.

Vai rolar.

9. Whitney - "Golden Days"

 

Max Kakacek e Julien Ehrlich uniram forças para fazer do Whitney uma experiência bonitona. Se o folk está - com razão - muitas vezes associado à melancolia, o Whitney faz questão de dizer há que lá fora também faz sol. Kakacek é dono de uma porção de arpejos, solos, slides e dedilhados dos mais ricos.

Bate uma Califórnia anos 60 na Chicago sempre geladíssima do Whitney, a terra natal da banda. The Band de sobra nos arranjos. Álbum que bateu e ficou. Grandão.

10. Kacy & Clayton - "Springtime Of The Year"

 
Dei de cara com a dupla numa dessas playlists do Spotify que mais erram do que acertam. Algoritmo não é certeza de que vai bater no coração. 

Tem um tanto de Joni Mitchell na voz da Kacy que é inegável. Mas o disco é acessível, direto, simples e zero criptografado. É primavera, gente!

11. Wilco - "If I Ever Was A Child"

 

Schmilco é certamente o disco menos arrojado do Wilco desde A.M., a estreia, em 1995. O que tratando-se de Wilco ainda quer dizer uma porção de camadas e instrumentos que mandam e desmandam sem necessariamente andar unidos.

É uma volta boa ao alt-country de duas décadas atrás, deixando Nels Cline menos aceso e dando todo espaço do mundo para Jeff Tweedy recontar sua infância, sussurrar com calma. Normal American Kids, que abre o décimo trabalho de estúdio da banda, é outro salto no passado do vocalista, um cartão de visitas do americano médio, o cara que acabou elegendo Donald Trump.

Opa, olha 2016 aí...

12. Margo Price - "Hands Of Time"

 

Um dos discos que acabou selecionado em variadas listas de melhores do ano, mas que chegou ao meu Spotify pela indicação de um caro amigo. Daqueles que ouve um violão e já te chama pelo Facebook. É a definição mais clara de folk rock clássico.

Da letra - um passeio pelo Meio-Oeste agrário cheio de autorreferências - até o último acorde no tecladinho.

13. Angel Olsen - "Those Were The Days"

 

Ok. Ela abandonou o folk, é preciso dizer. Tem um tantão de Patti Smith pelo álbum todo. Neste som, ela parece soar como um encontro mágico de Fiona Apple com a banda de Bill Callahan.

O vocal econômico, sofrido e doloroso, que passa o cimento para unir os pedaços soltos pelos instrumentos.

14. Mutual Benefit - "Getting Gone"

 

De tempos para cá, proliferou pelo folk a ideia de criar um nome fictício para um projeto de um artista solo. Aqui quem manda ver é o texano Jordan Lee. Austin segue como celeiro dos mais ricos para a música americana dos anos 2010.

O benefício é mútuo.

15. Hiss Golden Messenger - "Say It Like You Mean It"

 

Se foi sem querer, MC Taylor merece um prêmio. Mas o quanto há do Dylan de New Morning, Self Portrait e Street Legal por aqui não é pouco. Sabe lá se não foi justamente o encontro geográfico da canção americana proposto pelo dono do Nobel 2016 que faz tudo soar tão parecido.

Lá na década de 1970, Dylan foi passear pelo soul e descer rumo ao sul dos Estados Unidos. O Hiss Golden Messenger já nasceu por lá, encravado na Carolina do Norte.

Aí é aquilo: suingue, um saxofone que vai e volta e voz rachada. 10/10.

16. Andrew Bird - "Capsized" 

 

Andrew Bird é tão sublime como instrumentista, compositor e produtor que não havia motivos para não imaginá-lo com um Beck da rabeca, um Paul McCartney que perambula na nossa frente.

Bem, e não é que aqui ele usa tudo que o folk lhe deu para dar empacotar tudo em um arranjo rítmico justamente no maior estilo... Beck? 

17. Fruit Bats - "Absolute Loser"

 

Desde 1997 na estrada, o grupo de Chicago brinca aqui de George Harrison dos dias de Living In A Material World. 

E não faz feio de maneira nenhuma.

18. Matt Kivel (feat. Robin Pecknold) - "Permanence"

 

Sabe-se lá o que será do novo - e já prometido - disco do Fleet Foxes. Aqui está o vocalista Robin Pecknold, tímido, para ressurgir num de seus poucos registros dos últimos anos. O Matt Kivel montou um disco que foi o mais recente a fazer o coração folkista palpitar.

Quem gosta de Sufjan Stevens que dê o play.

A lista completa

Claro, você pode chegar aqui e dar o play pra rolar tudo de uma só vez. Tô facilitando seu resto de 2016, hein.

 

Até 2017, amigos.

That's all, folks!


publicado em 09 de Dezembro de 2016, 00:00
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Rafael Nardini

Torcedor de arquibancada, vegetariano e vive de escrever. Cobriu eleições, Olimpíadas e crê que Kendrick Lamar é o Bob Dylan da era 2010-2020.


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