Todo dia, nessa grande rede de computadores, vejo alguma personalidade sofrendo acusações, falsas ou verdadeiras, sérias ou fúteis, feitas por pessoas de boa ou de má-fé, e, quaisquer que sejam as alternativas, quase sempre reagindo de maneira a piorar ainda mais a situação.

Qualquer artista ou intelectual que tenha qualquer notoriedade será, pelo menos uma vez, alvo de reclamações ou ataques.

Existem as acusadoras-indignadas-atiradoras-de-pedras-profissionais, que todo dia juntam seu grupinho para atacar alguém. Existem as pessoas-com-queixas-verdadeiras-e-profundas, queixas que só agora, felizmente, estão podendo ser articuladas e ventiladas.

Para o alvo, é dolorosamente difícil distinguir um grupo do outro.

Até que porque, assim que as pessoas-com-queixas-verdadeiras se manifestam, mesmo que da maneira mais deliberada e comedida possível, as atiradoras-de-pedra-profissionais aparecerão logo depois para atiçar os ânimos e garantir que a situação saia rapidamente de controle.

Para a pessoa-sendo-criticada, parece que o mundo inteiro está em cima dela, parece que todo mundo sabe, parece que todo mundo está falando a respeito. Essa sensação avassaladora gera uma ansiedade irresistível por falar algo, se manifestar, se defender, contar seu lado da história.

Mas, depois que a fúria se instalou, depois que a situação saiu de controle, qualquer manifestação, de quaisquer um dos lados, será recebida defensivamente, será mal-interpretada, será atacada. Tudo colocará lenha na fogueira e aumentará a duração da crise.

A melhor opção quase sempre é a mais difícil: manter o silêncio e esperar a crise passar.

Hoje em dia, todo mundo será atacado mas, justamente por isso, todos os ataques passarão rápido, pois sempre existirão novas tretas surgindo, novas pessoas em quem atirar pedras.

Uma abordagem mais pró-ativa talvez seja encarar todo ataque como uma oportunidade da pessoa pública demonstrar ao seu público quem ela realmente é.

Se conseguir manter a equanimidade enquanto é atacada, pode ajudar o público a perceber o verdadeiro caráter de suas atacantes.

Se responde às críticas com afirmações condescendentes ou racistas, machistas ou classistas, outrofóbicas, enfim, pode ajudar o público a perceber que os ataques eram merecidos.

A verdade é que cada um dos nossos atos é sempre uma oportunidade de sermos a pessoa que escolhermos ser.

Ou, como disse o Buda nas últimas duas das Cinco Lembranças:

“Tudo aquilo que amo ou odeio (objetos, parentes, pessoas amigas e inimigas) também compartilham da mesma natureza impermanente e passageira. Somente as minhas ações são os meus pertences verdadeiros. Não posso fugir às suas consequências. Minhas ações são o chão que fazem o meu caminho.”

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Uma nota importante.

Escrevo publicamente há quase vinte anos. Alguns de meus textos tiveram mais de um milhão de visualizações. Tenho vários livros publicados. Já sofri pelo menos duas campanhas maciças orquestradas contra mim, com direito até a abaixo-assinado. Estou sendo processado por afirmações que fiz na internet.

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Esse texto não se refere a nenhuma treta específica, nem passada, nem presente, nem futura, mas sim a todas as tretas que vi, acompanhei, participei, em todos os lados e posições. Essa é a minha vida também.

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Os encontros "As Prisões"

São instalações artísticas, polifônicas e interativas, improvisadas e colaborativas, onde praticamos escutatória e atenção, generosidade e cuidado, e exploramos os limites e possibilidades da comunicação cotidiana: o que falamos?, como falamos?, por que falamos?

O nome vem de uma série de textos que estou escrevendo desde 2002, tentando mapear todas as Prisões cognitivas que acorrentam nosso pensamento: Verdade, Dinheiro, Trabalho, Privilégio, Monogamia, Religião, Obediência, Sucesso, Conhecimento, Felicidade, Autossuficiência,  Patriotismo, e a maior de todas, Eu.

Os encontros, realizados por todo o Brasil desde 2013, reúnem de dez a trinta pessoas, duram de um a cinco dias e são sempre diferentes, imprevisíveis, únicos.

Neles, enquanto discutíamos "As Prisões", os Exercícios de Atenção foram criados, gestados, aperfeiçoados, em um processo colaborativo com as pessoas participantes. Hoje, os encontros servem para praticarmos esses exercícios e para inventarmos juntas os próximos, em um processo que só poderia acontecer presencialmente, olho no olho e lágrima no suor.

Ninguém é obrigada a falar: toda fala é voluntária.

Ninguém é obrigada a pagar: todo pagamento é voluntário.

Para saber quando serão os próximos, visite minha página de eventos.

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Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // esse é um texto de ficção. // veja minha <a title=quem sou eu