O método científico não é perfeito. Ao contrário da homeopatia, entretanto, que é um tipo de fé que se faz passar por medicina, a ciência tem o mérito de sempre reconhecer sua ignorância e de sempre se perguntar: "será que estou errada?"
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O Ministério da Saúde adverte: homeopatia não é remédio
De certo modo, a homeopatia é pior que o alcool, o tabaco, o açúcar.
Porque o governo já faz um excelente trabalho informando à população que alcool, tabaco, açúcar, fazem mal. (Daí em diante, consome essas substâncias quem quer.)
Por outro lado, o governo faz um péssimo trabalho em informar à população que todas as chamadas "terapias alternativas" não são medicina, mas fé.
(Se qualquer tipo de medicina alternativa tivesse comprovação empírica de sua eficácia, deixaria de ser "alternativa" e seria apenas "medicina".)
Se a pessoa acredita em homeopatia como acredita na sua religião, seja ela Virgem Maria, Ganesha ou Xangô, cabe respeitar. Fé não se discute: o ser humano está sempre em busca de uma conexão transcendental, e, por isso, precisa de religião.
Mas cresci em uma casa de pessoas cultas, pai e mãe formados por universidades federais, onde remédios homeopáticos eram tratados como se fossem somente mais um tipo de remédio, como se uma cápsula de homeopatia e um Dorflex fossem equivalentes.
Nada contra quem faz quimioterapia e também reza para o santo (é sempre bom maximizarmos nossas chances!) justamente porque essas duas esferas não se confundem: ninguém reza para o santo achando que isso substitui a necessidade de quimioterapia.
Já a homeopatia pertence não ao conjunto dos remédios, das terapias e das cirurgias, mas ao conjunto das promessas ao santo, das rezas à virgem maria e dos trabalhos aos orixás.
Ao se disfarçar de medicina, ela confunde a fronteira entre as práticas médicas e religiosas, e faz com que muitas pessoas tomem água diluída em água achando que estão se medicando.
E isso mata.
(Na Folha de São Paulo, Hélio Schwartsman conta as histórias de algumas vítimas fatais da homeopatia— talvez até Steve Jobs. São tantas pessoas que morreram por causa da homeopatia que existe um site só para juntar todas as histórias. Por exemplo, aqui estão três crianças que morreram porque os pais escolheram tratá-las com homeopatia: nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália. Esse artigo acadêmico, no Journal of Law, Medicine & Ethics, trata da questão: Morte por homeopatia. Em 2016, o governo norte-americano decidiu que a homeopatia não funciona e que as embalagens precisam avisar isso. Todos os links em inglês, menos os dois primeiros. )
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Minha humilde proposta ao governo: que os frascos de homeopatia, assim como os maços de cigarro, também viessem com avisos e fotos informativos.
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Objeção: "Homeopatia funciona! Eu tomei e melhorei!"
Em discussões sobre homeopatia, essa é uma objeção comum.
Quando respondo que isso não prova nada, as pessoas se ofendem, como se estivesse sugerindo que estão mentindo.
Não estou, não: essa é uma questão muito maior que elas ou que a homeopatia.
É uma questão que diz respeito ao próprio conceito de ciência.
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Se você tinha uma dor, tomou homeopatia e a dor desapareceu, isso não quer dizer que a homeopatia curou a sua dor.
Não, eu não estou duvidando de você: eu acredito que você tomou homeopatia e a dor passou.
A questão é que, a partir desse único caso, não temos como estabelecer uma relação de causalidade.
Ou seja, só porque uma coisa (tomar a homeopatia) veio antes da outra (o fim da dor) não quer dizer que a primeira coisa causou a segunda.
É possível que a dor teria passado de qualquer jeito.
É possível que a dor teria passado mais rápido sem ter tomado a homeopatia.
Sua dor passar depois de tomar homeopatia é considerado "evidência anedótica" porque se refere apenas a um caso e porque não houve comparação com outros casos.
(Como se diz em inglês, "the plural of anecdote is not data".)
Para podermos afirmar que qualquer substância funciona para resolver uma condição específica, é preciso fazer um teste em circunstâncias controladas.
Algo assim:
Eu pego novecentas pessoas que tenham o problema X mais ou menos do mesmo jeito, da mesma magnitude, etc.
Divido as pessoas em três grupos de 300, fazendo uma série de chatíssimas correções e ajustes estatísticos para garantir que os grupos sejam o mais iguais possíveis.
Então, para um dos grupos de 300, eu dou o remédio que estou testando.
Para outro grupo de 300, a homeopatia, que também quero testar.
Para o terceiro grupo, o placebo, ou seja, algo que parece remédio mas não é nada. (Esse é o importantíssimo grupo de controle.)
Esses testes são duplo-cego: ou seja, nem as pessoas administrando os testes, nem as pessoas participando dos testes sabem quem está em qual grupo.
(Senão, poderiam haver distorções, nem que apenas o olhar de pena da enfermeira para as pessoas do grupo que ela sabe que estão tomando placebo, etc.)
Aí, observa-se o que vai acontecer.
Invariavelmente, algumas pessoas do grupo de controle, que tomaram somente o placebo, vão melhorar.
Isso acontece porque:
1) ou essas pessoas melhorariam de qualquer jeito.
2) ou essas pessoas melhoraram porque achar que estão tomando remédio faz com que algumas pessoas se curem — o chamado "efeito placebo".
(Ninguém sabe como o efeito placebo funciona. Uma hipótese é que funciona por autossugestão — esse Ted Talk é um exemplo — mas, dado que ele também funciona em animais, é duvidoso que seja apenas isso. Três links sobre esse debate, e mais um artigo científico. Todos os links em inglês, menos o primeiro.)
Para que possamos dizer que a homeopatia funciona para resolver essa condição específica, mais pessoas do grupo que tomou homeopatia precisam melhorar do que do grupo que tomou o placebo.
Porque, digamos, se 100 pessoas melhoraram tomando homeopatia mas 150 melhoraram com o placebo, então, não é a homeopatia que funciona, é o placebo.
Todos os remédios científicos que tomamos passaram por diversos testes iguais a esses: é possível demonstrar que todos eles resolvem as moléstias que deveriam resolver em números significativamente maiores que o placebo.
A homeopatia nunca conseguiu ganhar do placebo: ocasionalmente, apenas empata.
Então, a explicação mais provável é que, literalmente, tomar homeopatia e tomar o placebo, na melhor das hipóteses, dá na mesma.
As pessoas que tomaram homeopatia e melhoraram… são as pessoas que provavelmente teriam melhorado sem tomar nada.
É assim que funciona o método científico.
É por isso que a sua história de vida ("tomei homeopatia e melhorei"), verdadeira como ela certamente é, não prova nada.
(Na Superinteressante, um cientista compilou resultados de dezenas de testes sobre a eficácia da homeopatia em relação a 68 doenças, em português. Aqui está a lista completa dos estudos duplo-cego cientificamente controlados nos quais a eficácia da homeopatia foi comprovada, em inglês. )
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Objeção: "Ou homeopatia é nada, ou mata! Decida-se!"
Outra objeção comum que surge nos comentários de textos como esse:
"Uma hora, você diz que homeopatia não é nada. Outra, que mata. Oras, a medicina tradicional é que causa efeitos colaterais e mata!"
A homeopatia mata porque é nada.
A homeopatia mata aquelas pessoas que deveriam estar se medicando, mas tomam homeopatia (ou seja, nada) achando que estão se medicando e, por isso, morrem de condições que seriam facilmente tratáveis.
Qualquer substância que tenha de fato um composto ativo causa um efeito: o efeito pode ser indesejado ou não, dependendo da intenção da pessoa que tomou.
Já a homeopatia, diga-se a bem da verdade, nunca causou nenhum efeito colateral, mas isso é só porque ela nunca causou nenhum efeito: como homeopatia não tem composto ativo, é só água diluída em água, ela não causa nada.
A luta para que os medicamentos sejam mais seguros e não causem efeitos colaterais indesejados é muito importante.
Outra luta muito importante é para que frascos de água que não têm efeito algum não possam ser vendidos como se fossem medicamentos.
São duas lutas bem diferentes, e ambas muito importantes.
A homeopatia não deve ser cassada, proibida, extinta:
Ela deve apenas ser rotulada corretamente.
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E se a ciência tiver respondido as perguntas certas de maneira errada?
Na Prisão Conhecimento, eu falo sobre a enorme importância de sempre nos perguntarmos: "e se eu estiver errada?"
Então, quando escrevo sobre homeopatia, alguém sempre pergunta:
"Me espantou um texto tão peremptório contra a homeopatia de uma pessoa que exalta que deveríamos nos questionar se estamos erradas!"
Mas a questão é justamente essa: a ciência (na qual está incluída a medicina dita tradicional) sempre se pergunta se está errada. O nome disso é "método científico" e foi uma das grandes invenções coletivas da humanidade.
A revolução científica não foi uma revolução do conhecimento. Conhecimento todo mundo sempre teve. A humanidade sempre acumulou conhecimento. Sempre existiram reis, imperadores, magos, curandeiros, charlatães que se afirmavam donos de um conhecimento hermético, esóterico e exclusivo sobre a terra, Deus, o universo.
A revolução científica foi uma revolução da ignorância. O primeiro passo no caminho que nos levou a descobrir a penicilina e a pisar na Lua foi reconhecermos a extensão da nossa ignorância. Nossa grande descoberta foi descobrir a extensão de tudo o que não sabíamos.
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Hoje, o tratamento consagrado para o câncer é a quimioterapia.
Mas, também hoje, existem milhares de cientistas em todo o mundo fazendo novas pesquisas para avaliar a eficácia da quimioterapia, questionar seus benefícios, encontrar alternativas.
Em alguns anos, de tanto a medicina se perguntar se está errada, pode ser que a quimioterapia desapareça, por ter mais malefícios comprovados que benefícios potenciais; pode ser que a quimioterapia se aperfeiçoe, ao eliminar alguns malefícios e potencializar alguns benefícios; pode ser que a quimioterapia continue existindo, mas suplantada por algum novo tratamento mais eficiente que hoje nem podemos imaginar.
Sem a contínua pergunta "e se estivermos erradas?", sem o contínuo reconhecimento de nossa própria ignorância, nada disso seria possível. Aliás, sem séculos e séculos de pessoas inteligentes se perguntando "e se estivermos erradas?" e encarando de frente sua ignorância, nunca teríamos nem mesmo chegado ao ponto de termos quimioterapia — ou penicilina, ou raios X, ou anestesia.
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E se a ciência tiver respondido as perguntas erradas?
A ciência não é perfeita, completa, insuspeitável: por definição, ela é um projeto em andamento, sempre se autocorrigindo e se reinventando, sempre forçando os limites de sua própria ignorância.
O método científico, enquanto ideologia, é limitado pelas perguntas que fazemos, e essas perguntas, por seu lado, são culturais, e dependem de nossos preconceitos e prioridades, interesses econômicos e valores morais.
(Uma ideologia é o conjunto de ideias, saberes, preconceitos, etc, que nos permite interagir com as outras pessoas e fazer sentido da realidade: são as lentes através das quais percebemos o mundo.)
Por exemplo, uma sociedade que valoriza a beleza física e uma outra que valoriza a santidade da vida vão se utilizar rigorosamente do mesmo conhecimento genético para responder perguntas radicalmente diferentes: a primeira vai tentar mexer no código genético para acabar com rugas e a segunda, para manter o cérebro vivo, mesmo se pouco funcional.
Nenhuma dessas duas empreitadas científicas é por definição mais ou menos científica: tudo depende das nossas prioridades.
Caso uma sociedade decida que sua prioridade é chegar à lua, a ciência pode fornecer uma resposta à pergunta, "como chegar à lua", mas ela não tem como fornecer as prioridades éticas e culturais (por definição, a-científicas) que fazem com que essa sociedade considere mais importante investir recursos humanos e financeiros em chegar à lua do que, digamos, explorar o fundo dos oceanos ou acabar com a fome.
A ciência tem como responder nossas perguntas, mas não como fornecer essas perguntas: para isso, temos as ciências humanas, as artes, as religiões.
Porque, com as perguntas erradas, o método científico pode facilmente se converter em eugenia racial e bombas nucleares.
(Dizer que ciência é uma ideologia não é uma crítica, e também não é um elogio. É um fato: não teria como ela não ser uma ideologia. Desenvolvo esse argumento mais a fundo na Prisão Religião. Uma das características das pessoas cuja ideologia dominante é o método científico é negar veementemente que o método científico seja uma ideologia. Essa é uma discussão antiga na filosofia da ciência: para quem quiser uma rápida introdução ao debate, recomendo esse link, em inglês e, para quem quiser se aprofundar, recomendo o delicioso e revolucionário livro "A estrutura das revoluções científicas", de Thomas Kuhn.)
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A homeopatia enquanto encantamento
O problema da homeopatia é justamente o fato de ela ser conceitualmente incapaz de sobreviver a pergunta "e se eu estiver errada?"
A fé é pura palavra: se a terapeuta homeopata se perguntar…
"E se eu estiver errada? E se eu estiver apenas receitando água diluída em água?"
…a própria articulação da dúvida já quebra o encanto.
Não é à toa que os feitiços de Harry Potter dependem da perfeita pronúncia de complicados nomes em latim, ou que o quarto evangelho começa dizendo: "no princípio era o Verbo, e Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (Almeida Revisada) ou "no começo Aquele que é a Palavra já existia. Ele estava com Deus e Ele era Deus" (Nova Tradução na Linguagem de Hoje, NTLH).
O padre que se pergunta, uma única vez…
"E se eu estiver errado? E se Deus não existir?"
… já não acredita mais em Deus, mesmo se a resposta à sua dúvida for um ansioso:
"Não, não, que loucura, claro que Deus existe!"
Pois a fé, por definição, é a inexistência dessa dúvida.
A fé sobrevive à dúvida nas pessoas leigas, não nas profissionais: dá para ir rezar na igreja ou se tratar na clínica homeopática tendo dúvidas sobre a existência de Deus ou sobre eficácia da homeopatia, mas não dá para cultivar essas dúvidas e ser padre ou homeopata.
A diferença entre ciência e fé é essa: a cientista que questiona o próprio paradigma da ciência é uma boa cientista, o padre que questiona a existência de Deus é uma fraude.
Aliás, questionar os paradigmas da ciência é a condição mesma de existência da ciência; sem isso, ela não tem como mudar de paradigma e progredir. (De novo, por favor, leiam a "A estrutura das revoluções científicas", de Thomas Kuhn.)
Então, quando escrevo um texto criticando a homeopatia por se disfarçar de ciência, tenho sempre em mente a questão do "e se eu estiver errada?".
Colocando a minha crítica em outras palavras, estou criticando uma prática-religiosa-conceitualmente-proibida-de-se-perguntar-se-está-errada por se disfarçar em participante de um método-filosófico-conceitualmente-obrigado-a-sempre-se-perguntar-se-está-errado.
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O futuro da homeopatia
Há mais de cem anos, cientistas tentam comprovar a eficácia da homeopatia.
Muitas pessoas sonham em realizar essa façanha e não temos razão para duvidar de seu esforço e de sua boa-fé, pois os incentivos são grandes: quem primeiro conseguir ganhará o Nobel de Medicina, será imortalizada nos anais da ciência e, ainda por cima, ficará rica.
(Rica mesmo: o milionário cético James Randi tem um desafio público, em aberto há anos, onde ele oferece um milhão de dólares para a primeira pessoa que comprovar a eficácia da homeopatia em um teste científico duplo-cego. Assista aqui uma Ted Talk de Randi falando sobre homeopatia, com tradução ao português.)
Você pode argumentar que a "grande indústria farmacêutica" tem interesse que a homeopatia nunca seja comprovada. Eu responderia que "claro que sim", mas que ela também não tem como impedir que dezenas de milhares de cientistas por todo mundo conduzam suas pesquisas de forma autônoma e independente.
Então, se a homeopatia for comprovável, ela será comprovada e, então, passará a se chamar somente "medicina".
Até lá, enquanto esperamos sentadas, o único benefício comprovado da homeopatia é que as terapeutas homeopatas em geral passam mais tempo com as pacientes, são mais empáticas, ouvem mais, do que as médicas tradicionais. Por isso, uma visita à terapeuta homeopata pode fazer com que as pacientes se sintam ouvidas e acolhidas, e, em consequência, que se sintam bem ou melhor, e pessoas que se sentem bem tendem a ser mais resilientes, ter mais imunidade e reagir melhor a tratamentos, quaisquer tratamentos.
(Podemos afirmar tudo isso graças a pesquisas científicas, aliás.)
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Sincretismo médico à brasileira
Então, se queremos maximizar nossas chances, talvez o melhor método seja:
1. Rezar o rosário, fazer promessas para o santo, repetir o nome do Buda, etc;
(A fé consola, alivia, às vezes até cura: também sabemos disso graças a pesquisas científicas.)
2. Passar uma hora com a terapeuta homeopata e sair se sentindo bem, ouvida e acolhida;
(Mas jogar fora a água diluída em água que ela lhe der. Ou tomar. Dá na mesma.)
3. Passar dez minutos com uma médica tradicional estressada e arrogante que mal vai olhar pra você, mas vai te receitar algum remédio que é a culminação de milênios de sabedoria humana coletiva, de cumulativos processos de tentativa-e-erro, de sistemáticos questionamentos de nossas certezas.
(Esse você toma.)
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Links para saber mais
— Prisão Religião, meu texto sobre a fragilidade de nossas ideologias (inclusive a ciência).
— Prisão Conhecimento, meu texto sobre a fragilidade de nossas certezas (inclusive a ciência).
— Os grilhões da homeopatia (coluna de Hélio Schwartsman, na Folha de São Paulo, sobre algumas vítimas fatais da homeopatia e também contando um pouco da história desse método, em português.)
— Agora é oficial: homeopatia não funciona (na Superinteressante, os resultados detalhados de um estudo que testou a eficácia da homeopatia em relação a 68 doenças, em português.)
— Qual é o mal na homeopatia? (histórias de pessoas que a homeopatia matou, em inglês.)
— Cura pelo 'pensamento mágico' foi fatal para Steve Jobs, diz biógrafo (em português.)
— Campanha "Homeopatia: é feita de nada", onde cientistas do mundo inteiro tomaram uma overdose de remédios homeopáticos para demonstrar que não tinham efeito algum (em português.)
— Em um link relacionado, céticos belgas tentam cometer suicídio em massa com overdose de homeopatia. Não conseguiram. (em inglês.)
— Lista completa dos estudos duplo-cego cientificamente controlados nos quais a eficácia da homeopatia foi comprovada. (em inglês)
— Morte por homeopatia (artigo acadêmico publicado no "The Journal of Law, Medicine & Ethics", em inglês.)
— Três crianças que morreram porque os pais escolheram tratá-las com homeopatia: nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália (em inglês.)
— Cético oferece um milhão de dólares por prova de que a homeopatia funciona (em inglês.)
— Em 2016, o governo norte-americano determinou que homeopatia não funciona e que os rótulos precisam avisar isso. (em inglês.)
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Apêndice: A descoberta da ignorância
O capítulo 14 do excelente Sapiens: Uma breve história da humanidade, de Yuval Noah Harari, "A descoberta da ignorância", traz uma excelente discussão sobre a origem, os méritos e as limitações do método científico. Dois trechos:
"[A] ciência moderna difere de todas as tradições de conhecimento anteriores em três aspectos cruciais:
a. A disposição para admitir ignorância: a ciência moderna se baseia na sentença latina ignoramus – “nós não sabemos”. Presume que não sabemos tudo. O que é ainda mais crucial, aceita que as coisas que achamos que sabemos podem se mostrar equivocadas à medida que adquirimos mais conhecimento. Nenhum conceito, ideia ou teoria é sagrado e inquestionável.
b. O lugar central da observação e da matemática: tendo admitido a ignorância, a ciência moderna almeja obter novos conhecimentos e o faz reunindo observações e então usando ferramentas matemáticas para relacionar essas observações em teorias abrangentes.
c. A aquisição de novas capacidades: a ciência moderna não se contenta em criar teorias. Usa essas teorias para adquirir novas capacidades e, em particular, para desenvolver novas tecnologias.
A Revolução Científica não foi uma revolução do conhecimento. Foi, acima de tudo, uma revolução da ignorância. A grande descoberta que deu início à Revolução Científica foi a descoberta de que os humanos não têm as respostas para suas perguntas mais importantes.
A ciência de nossos dias é uma tradição de conhecimento peculiar, visto que admite abertamente a ignorância coletiva a respeito da maioria das questões importantes. Darwin nunca afirmou ser “O Último dos Biólogos” e ter decifrado o enigma da vida de uma vez por todas. Depois de séculos de pesquisas científicas, os biólogos admitem que ainda não têm uma boa explicação para como o cérebro gera consciência. Os físicos admitem que não sabem o que causou o Big Bang, ou como conciliar a mecânica quântica com a Teoria Geral da Relatividade."
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"A ciência é incapaz de estabelecer suas próprias prioridades. Também é incapaz de determinar o que fazer com suas descobertas. Por exemplo, de uma perspectiva puramente científica, não está claro o que devemos fazer com nossa compreensão cada vez maior da genética. Devemos usar esse conhecimento para curar o câncer, para criar uma raça de super-homens geneticamente modificados ou para criar vacas leiteiras com úberes extragrandes? É óbvio que um governo liberal, um governo comunista, um governo nazista e uma corporação capitalista usariam a mesma descoberta científica com objetivos completamente diferentes, e não há nenhuma razão científica para preferir um uso em detrimento de outro.
Em suma, a pesquisa científica só pode florescer se aliada a alguma religião ou ideologia. A ideologia justifica os custos da pesquisa. Em troca, a ideologia influencia a agenda científica e determina o que fazer com as descobertas. Daí decorre que para compreender como a humanidade chegou a Alamogordo e à Lua – e não a uma série de destinos alternativos – não é suficiente fazer um levantamento das conquistas de físicos, biólogos e sociólogos. Precisamos levar em consideração as forças ideológicas, políticas e econômicas que definem a física, a biologia e a sociologia, empurrando-as em certas direções e negligenciando outras."
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imersão "as prisões"
as próximas imersões "as prisões" vão acontecer em areias, SP (3-5fev2017), e em viamão, RS (17-19fev2017), e já estamos quase lotadas.
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Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.