Deu no G1 e ganhou a internet nos últimos dias: Marco Antônio fez uma festa de batizado após descobrir que seu filho é um homem transgênero. Na festa, o rapaz ganhou de seu pai e de sua família um bolo com o nome social que escolheu: Miguel. 

Bolo de batizado tinha nome social escolhido pelo jovem (Foto: Miguel Rosário/ Arquivo Pessoal)

Assim, Miguel logo trocou a apreensão do contar pela alegria do acolhimento que recebeu. Sentimento que ainda veio a virar surpresa, quando viu a festa e o bolo em seu nome, feitos com tamanho zelo. “Sabe quando você está tão feliz que parece que apaga da sua memória? Eu lembro que eu passei o dia todo rindo. Eu só ria”, lembrou o jovem a equipe do G1. 

O pai também explicou a reportagem qual a motivação para a confraternização: 

“Porque batizado? Porque estava nascendo um Miguel na família. O Miguel chegou na família. Era um bolo de aceitação, de apoio. […] Se a própria família não apoiar, quem vai apoiar?”, disse Marco.

Gesto singelo, mas de profunda importância. Uma das etapas mais importantes do processo de transição é a resposta da família. A aceitação que uma notícia de tamanha magnitude causa em um círculo tão íntimo e importante para a pessoa. Encontrar amor e afeto como o Miguel encontrou é uma barreira à menos em um caminho cheio delas frente à sociedade.

Atitudes como a de Marco Antônio mudam não só a realidade de seu filho, mas podem servir como referência para inúmeras outras famílias. 

Quando a notícia chegou a redação, não demorou para que alguém se lembrasse de um dos textos mais populares da história do PapodeHomem, no qual a monja Jetsunma Tenzin Palmo, em uma poderosa fala, questiona e aponta a diferença entre o amor genuíno e o amor romântico

Trechos do vídeo já até se tornaram virais no Facebook, chegando a pessoas e páginas que nem conhecem o PapodeHomem ou O Lugar. 

"O apego diz: eu te amo, por isso eu quero que você me faça feliz. E o amor genuíno diz: eu te amo, por isso quero que você seja feliz. Se isso me incluir, ótimo! Se não me incluir, eu só quero a sua felicidade."

"Sabe, o apego é como segurar com bastante força. Mas o amor genuíno é como segurar com muita gentileza, nutrindo, mas deixando que as coisas fluam. Não é ficar preso com força. Porém é muito difícil para as pessoas entenderem isso, porque elas pensam que quanto mais elas se agarram a alguém, mais isso demonstra que elas se importam com o outro."

"Qualquer tipo de relacionamento no qual imaginamos que poderemos ser preenchidos pelo outro será certamente muito complicado."

 

"Quanto mais agarrarmos o outro com força, mais nós sofreremos."

—Jetsunma Tenzin Palmo

 

Leia também  O que aprendi em 10 anos guardando rancor

É um belo exemplo do que a Tenzin Palmo fala. Abrindo mão das aparências, dos vinte e quatro anos, tal qual a idade que Miguel já viveu, chamando e enxergando o filho de determinada maneira, com certo jeito, Marco Antonio abriu mão de suas amarras e prisões para aceitar seu filho como ele é.

Com dificuldade, ainda se acostumando as mudanças, mas tentando. Seguindo junto de Miguel. Seguindo amando Miguel. E isso, no fim, é o mais importante, não? 

Mecenas: Natura Homem

Natura Homem acredita que existem tantas maneiras de exercer as masculinidades — e a paternidade — quanto o número de homens que existem no mundo. 

Abrir espaço para acolher nossos filhos é uma maneira afetuosa de apoiá-los na busca pela felicidade, mas também de olharmos para dentro e aprender coisas novas no lugar de ficarmos presos a verdades antigas.

Seja homem? Seja você. Por inteiro. Natura Homem celebra todas as maneiras de ser homem

Bruno Pinho

Estagiário do PapodeHomem e estudante de jornalismo.