Vivemos numa cultura de desejos. O responsável é um sujeito chamado Edward Bernays. Bernays usou a psicanálise do seu tio Freud para fazer as mulheres fumarem e mudar a nossa sociedade.
Foi no primeiro episódio do documentário The Century of the Self, produzido pela BBC e Adam Curtis, que eu descobri mais sobre a genialidade do sobrinho de Sigmund Freud. Edward Bernays era um garoto prodígio: já aos 26 anos era consultor do presidente dos Estados Unidos na propaganda de guerra.
Com o final da guerra, Bernays resolveu utilizar seu talento em manipulação de massas também em tempos de paz. Em vez de ser consultor para o governo em assuntos políticos, decidiu oferecer serviços às grandes corporações e bancos que precisavam modificar os hábitos de consumo da população americana.
Como a tecnologia da indústria de produção de massa permitia uma oferta de produtos nunca antes vista, alguma coisa devia ser feita para evitar a crise econômica. Afinal, no começo do século passado as pessoas compravam produtos baseados em necessidade: sapato novo era necessário quando o velho ficava com um furo que não tinha mais conserto.
A chave para despertar um crescimento na curva de demanda era o inconsciente que estava sendo descoberto por Sigmund Freud e os psicanalistas. Não vou estragar o prazer de assistir ao documentário inteiro, mas Bernays faz mágica para inspirar o consumo. Só que nem sempre isso é feito com técnicas do bem: Bernays e sua equipe sabiam que para fazer as pessoas comprarem mais era necessário cutucar nossas inseguranças sobre aparência e personalidade.
No filme Clube da Luta, adaptação da obra de Chuck Palahniuk. tem uma frase que revela como a fraqueza de identidade permite decisões irracionais em nosso hábito de consumo, nos aprisionando na Matrix da classe média:
“Eu olhava os catálogos [da Ikea, empresa de móveis] e me perguntava que tipo de jogo de jantar me define como pessoa?”
Claro que é bom poder comprar coisas boas e de qualidade. Se vestir legal, curtir o lifestyle massa que é um dos vários temas comuns que amarra a comunidade saco-roxo. Só precisamos de sempre ter o filtro ligado pra não deixar a mídia começar a definir nossa personalidade e auto-estima baseada em nosso consumo.
Para o cartoon acima, me inspirei no estilo visual do Matthew Inman, do . A idéia do fluxograma de sapatos é da . Sou também fã das sacadas do Leandro Caracciolo, do , e do André Dahmer, dos .
Mas eu sou total amador de primeira viagem: é a primeira vez que faço desenhos para ilustrar um texto. Ainda estou pegando a manha. Curtiram? Agradeço se puderem me recomendar outros artistas legais como eles.
*Esse problema de consumir coisas que a gente não precisa é a ponta do iceberg, e está conectada com problemas ainda maiores de sustentabilidade, em especial as toxinas e o lixo que produzimos (vide “A história das coisas”).
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