O profº drº Adriano Beiras pesquisa gênero, masculinidades e violência de gênero há cerca de 15 anos. Ele é referência em trabalhos sobre homens autores de violências e tem liderado o mapeamento nacional para identificar iniciativas de trabalho voltadas a estes homens.
Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina disponibiliza mapeamento nacional das iniciativas, programas ou grupos para reabilitação de homens que tenham cometido violência contra mulheres
Ano passado nós lançamos pelo Instituto PdH, em parceria com o professor Adriano e o Instituto Avon, um mapeamento com mais de 50 iniciativas listadas. Era o maior disponível até então.
Agora foram listadas 312 iniciativas — desde grupos reflexivos a outros programas — que estão em funcionamento atualmente, mesmo com a pandemia.
Clique aqui para encontrar uma iniciativa na sua cidade:
Essas iniciativas são parte de programas de enfrentamento à violência contra mulheres e meninas. O objetivo, de maneira geral, é produzir reflexão e evitar que autores de violências de menor risco a vítima (ameaças, agressões verbais, lesões corporais leves) reincidam e entrem então na espiral crescente de violência.
Por exemplo: se um homem, que foi denunciado por agressão passa a frequentar um grupo reflexivo como medida protetiva, a intenção é garantir que ele não só respeite a medida, como garantir que ele não volte aos comportamentos violentos, interrompendo assim a espiral crescente de violência que, nos piores casos, resulta na morte de uma mulher.
Quer ver um desses grupos funcionando?
Esse mini documentário mostra como funciona, na prática, um grupo para homens autores de violência.
Participaram desse mapeamento os pesquisadores Ms. Daniel Fauth Martins e Michelle de Souza Gomes Hugill (CEVID/SC), assim como o Grupo de Pesquisa Margens, o Departamento de Psicologia/UFSC e o COCEVID (Colégio de Coordenadores da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Poder Judiciário Brasileiro).
Neste artigo você encontra diretrizes mínimas para garantir o bom trabalho destes grupos que estão atuando online por conta da pandemia.
É possível participar voluntariamente de um grupo para homens autores de violência?
Muitos dos grupos para homens autores de violência funcionam em convênio com o sistema judicial, amparando as sentenças aplicadas a Lei Maria da Penha.
Supondo que um homem se vê reagindo com atitudes violentas, mesmo sem estar respondendo a nenhuma denúncia, ele pode procurar um grupo voluntariamente?
"Ele pode procurar voluntariamente. Na realidade os grupos não são feitos só no judiciários, ele não feitos em CREAS (Centros de Referência de Assistência Social), a partir de centros comunitários em alguns estados, a partir do Ministério Público, Polícia Civil ou em ONGs. Em alguns destes locais é possível você procurar e participar destes grupos."
Se uma pessoa identifica que tende a usar a violência para resolver conflitos, procurar um grupo voluntariamente é uma atitude necessária para passar por um processo de mudança, quebrando o paradigma de que quem está ali é um monstro. É uma pessoa que não reconhece o erro, se responsabiliza por ele e busca não repetí-lo.
Um dos grandes desafios para quem está trabalhando com masculinidades…
É reunir as informações que muitas vezes estão pulverizadas.
Nos últimos anos vemos (ou pelo menos temos pistas) de diversas iniciativas pequenas que surgiram com o propósito de transformação das masculinidades, de promoção de equidade e de fazer florescer uma sociedade mais equilibrada e saudável para todos.
Mas entre centenas de pequenas iniciativas (que muitas vezes são independentes) é difícil montar um panorama completo dessa movimentação e até mesmo fazer pontes, ligando quem oferece o serviço a quem o procura.
Pequenas iniciativas não ganham visibilidade e se perdem no oceano de conteúdos que os mecanismo de busca não priorizam.
Em entrevista prévia, segundo o Profº Drº Beiras, uma pequena parte destas iniciativas não estão trabalhando de maneira adequada para que o resultado — produzir reflexão e evitar a reincidência da violência — seja efetivo.
"Têm trabalhos que são inadequados, não é a maioria, mas têm trabalhos que acabam sendo pontuais, reunindo muitos homens fazendo isso em um tom exclusivamente educativo de palestras e de aulas, ou sem um caráter analítico de gênero, masculinidades e empatia relacional com as mulheres."
Ainda segundo Beiras, estabelecer essa listagem é um passo chave para entender o cenário nacional, articular as iniciativas, definir critérios e até mesmo capacitar profissionais:
"Percebe-se que houve um aumento de ações no âmbito público depois da Lei Maria da Penha e muitos dos últimos grupos que a gente observava surgiram nos três últimos anos.
Sabendo dessa necessidade de ação com o Tribunal de Justiça, nós decidimos fazer juntos um mapeamento exaustivo nacional pra, então, definir critérios e recomendações mínimas no trabalho com homens autores de violência."
Nós agradecemos ao professor Adriano e toda sua equipe por esse trabalho maravilhoso. Que seja inspiração para continuarmos avançando na mudança.
Para se aprofundar ainda mais:
– Leia a entrevista completa com o professor e pesquisador Adriano Beiras, clicando aqui.
– Baixe nosso e-book "Como falar com homens sobre violência contra mulheres", acesse esse link.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.