Sempre fico bastante pensativo quando alguém me pergunta “mas você tem certeza disso?”, se referindo a uma pequena grande decisão.
Um pouco porque acabo percebendo que o único ponto comum a todas as minhas pequenas grandes decisões é que não tinha muita certeza a respeito de nenhuma delas, e outro pouco porque acabo me lembrando de todos as encruzilhadas em que já me meti.
Me refiro a esses impasses como “pequenas grandes decisões” porque, embora sejam movimentos que em teoria afetam apenas a minha vida, eles não são banais. Eles vão moldar a história que vou contar pra alguém daqui 5 ou 10 anos. Aceitar um emprego, começar um namoro, terminar um namoro, mudar de casa, comprar uma casa, demitir alguém.
Lembrar dos impasses me relaxa. E relaxa não porque me acho sábio, confio no destino ou qualquer coisa do tipo. Relaxa porque, para mim, essas escolhas são apostas, e de certa forma já me conformei que é assim que as pequenas grandes decisões funcionam: você pondera, repensa, conversa, percebe que a sensação de dúvida não vai sumir, respira fundo e dá o passo. Se for esperar certeza inquestionável, a gente nunca sai do lugar.
Hoje estou tomando uma dessas decisões.
Não seguirei como sócio e diretor financeiro do Papo de Homem em 2017.
O começo da história
A história é longa e cheia de curvas, mas é uma história bem feliz.
Começou com essa mensagem no Twitter:
Era novembro de 2010, eu morava na Irlanda e foi difícil explicar ao amigo que estava do meu lado o motivo de eu ter ficado tão feliz com a mensagem. “Ele trabalha no Papo de Homem, eu leio o Papo de Homem diariamente há quase 3 anos. Muito incrível ele ter um convite para me fazer, né? Já mandei uns 8 textos pra lá, não aceitaram nenhum”.
Ele não achou grande coisa.
Já eu estava eufórico, mesmo sem saber detalhes do convite. Respondi a mensagem, mas o Gustavo sumiu completamente.
Mandei e-mail no gustavo@papodehomem.com.br, sem resposta, mandei no endereço pessoal dele, sem resposta, mandei mensagem na caixa de comentário do PdH, sem resposta.
(A partir daqui a história começa a ficar meio estranha)
Como ser pentelho, muito pentelho
Fiquei bem indignado com o sumiço e resolvi abandonar toda a etiqueta.
Era impensável ter recebido um contato da minha empresa preferida e não ter feito esse contato render.
Arrumei o endereço do blog da namorada do Gustavo, a Isabella, e li ele inteiro, atrás de algum gancho que me possibilitasse criar algum tipo de contato. Achei um post dela falando do TEDx Amazônia. Opa… Eu tinha um blog pequeno e tinha feito um post sobre um TEDx no Marrocos…
Resolvi ir na cara de pau mesmo.
Ela não me respondeu e continuei agindo feito um fã de boy band, tentando contato de todos os jeitos. Por conta de todo o desespero, fiquei conhecido como “o chato do Marrocos”.
Resolvi dar meu último tiro. Um e-mail direto pro posts@papodehomem.com.br, contando o que tinha acontecido, declarando toda minha tietagem.
Dessa vez funcionou, Guilherme respondeu. Alguns e-mails se seguiram até que meu texto sobre a viagem foi publicado. Deu certo, rendeu bem, comecei a escreveu com certa regularidade.
Senta que lá vem mais história
Fiquei mais próximo das pessoas, dos editores, dos funcionários.
Comecei a relatar minha insatisfação profissional em um tópico na Cabana, projeto que tinha relação bem próxima com o PdH.
Comentei por lá meu desejo de, talvez um dia, largar a computação e trabalhar, de alguma forma, mais próximo de pessoas (e menos próximo das linhas de código). Na época, lembro de abrir uma pasta no computador chamado Plano 2014, onde coletava referências e tomava coragem para, talvez, dalí 2 anos, pedir demissão do emprego que me pagava um belíssimo salário para montar algo meu.
Num caos desgraçado, tudo correu mais rápido do que eu imaginava e pedi demissão em meados de 2012, com a ideia da consultoria financeira bem engatilhada.
Fiz minhas movimentações, adaptei aqui e alí, refinei o projeto, testei com amigos, testei com funcionários do próprio PdH, passei a fazer a gestão financeira da própria Cabana.
O tempo foi passando e no final de 2012 o PdH enfrentou uma crise financeira das boas, daquelas de deixar sem dormir.
O João – diretor financeiro da época, salvador da pátria, parceiraço – morava em Belo Horizonte e cuidava de tudo à distância, mas não estava dando certo. A empresa crescia, o tamanho dos projetos aumentava. Tudo ficava mais difícil.
No pico da crise rolou o convite para assumir a operação.
Finanças, projetos, tecnologia, RH.
Faxina também, vez ou outra.
Aceitei de cara.
Alegria, gastrite e aventura
Foram 4 anos entupidos de altos e baixos. Muitos e muitos dias de trabalho, algumas madrugadas em claro, algumas contratações, algumas demissões, projetos bem implementados, projetos horríveis, discussões, churrascos, épocas de muito dinheiro, épocas de pouquíssimo dinheiro.
Minha sexta-feira ficou menos falante, porque enquanto os amigos se encontravam pra falar mal do trabalho, eu não tinha o que falar.
Passei a dividir meu tempo entre o PdH, O Lugar e o projeto com as finanças, que agora já se dividia em consultorias individuais, grupos e palestras.
Que tempo gostoso.
Matamos baratas, mudamos de sede, criamos nossa plataforma de publicação do zero, tocamos reforma.
Fizemos inúmeros cachorros-quente sem nenhum motivo, só pra sentar e bater papo.
Comemoramos meses bons, perdemos o sono juntos em meses horríveis.
Foram os melhores anos da minha vida, não tenho a menor dúvida.
E o Gustavo e a Isabella passaram a me responder e-mails e mensagens, fui padrinho de casamento deles.
O problemão
Meu sonho era, de alguma forma, oferecer ferramentas para que a gente cultivasse uma relação mais saudável com o dinheiro. Por debaixo de todas as roupagens que o projeto assumiu nesses anos todos – consultoria individual, livro, vídeo, consultoria em grupo, palestra, workshop – esse era o núcleo.
Tudo vem caminhando bem, mas eu não estou conseguindo gerenciar as três empresas (PdH, O Lugar, Amuri) da maneira que deveria. Minhas tarefas estão passando batido, me sinto sem conseguir botar o pé com força em nenhuma delas.
Não tenho conseguido atender nem 30% da demanda de consultoria que surge, lancei um livro que não dei conta de divulgar, comecei séries de textos que não consegui continuar, criei um aplicativo e não coloquei no mercado por falta de tempo.
Durante o último ano, acho que testei todas as configurações de trabalho possíveis: uma vez por semana, duas, três, todo dia, home office, me preocupando muito, me preocupando menos, delegando muito, delegando pouco e em todas elas, sem exceção, cedo ou tarde, o PdH surge como a parte mais importante da minha vida, a prioridade, a que me consome mais atenção e estômago.
O PdH nunca é “mais um cliente de consultoria”, porque sou apaixonado pela empresa e devo a ela uma parte gigantesca de todas as transformações que ocorreram na minha vida durante os últimos 5 ou 6 anos. É uma relação absurdamente emocional.
Com o PdH sendo prioridade, todo o resto, obviamente, deixa de ser, e isso passa a ser um baita problema.
Estamos buscando um novo gestor financeiro
Estamos buscando alguém para coordenar as finanças do Papo de Homem.
Não é necessário formação acadêmica específica, mas é necessário experiência sólida com os pontos listados aqui:
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Gestão: As questões financeiras perpassam todos os setores da empresa. É fundamental que o candidato consiga lidar bem com situações cabeludas, para além das planilhas. Gerenciar pessoas e conflitos, respirar quando o teto está caindo, enfim;
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Facilidade com a organização de projetos: A vaga envolve trabalhar diretamente com nossa equipe de projetos e conteúdo. É necessário que o candidato tenha uma visão bastante analítica, para lançar um olhar pé no chão sobre os cronogramas, prazos e custos. A turma aqui é bem criativa, se deixar eles inventam um foguete, a vida não é lá muito fácil;
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Muita facilidade com números: É chato olhar pra planilha e pra aplicativo financeiro? É, mas tem hora que não tem jeito. Organizar nosso fluxo de caixa é um trabalho de malabarista (vendemos projetos que nos pagam depois de cento e vinte dias) e precisa ser feito com primor, caso contrário vira um caos;
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Muito jogo de cintura – parceiros, clientes, agências, donos da empresa. Cada hora é um tipo de interação diferente, tem que ser bom com gente.
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Paixão por conteúdo bem feito: O escopo da posição não envolve a produção de conteúdo, mas precisa gostar pra segurar a bronca de lidar com isso o dia todo;
Qual o momento da empresa hoje?
Aqui a convocação que fizemos para a recente contratação de dois executivos de negócios. Lá contamos em mais detalhes a trajetória dos últimos dez anos, os projetos atuais que mais nos orgulham, como funcionamos e para onde estamos indo.
Nós estamos em Perdizes (SP, capital), e a vaga é presencial. A carga horária é flexível, embora seja fundamental que o PdH seja a atividade profissional central do candidato.
Aliás, sobre o horário, vale uma ressalva. Buscamos operar de maneira empresa enxuta e eficiente, sem esfolar ninguém. Nos esforçamos ao máximo para gerar conteúdo benéfico, não faria sentido nenhum não termos uma preocupação extrema com a qualidade de vida dos que trabalham por aqui.
Como a seleção vai funcionar?
Eu vou conduzir a busca e a seleção. Serão uma série de entrevistas com quórum bem variado. Algumas feitas por mim, pelo Guilherme, pelo Felipe, outras pelo Jader, pelo Luciano, pelos estagiários, pelo Cambi, pela Higa, enfim, por todos que hoje se dedicam a empresa.
Queremos alguém achar que faça sentido e que tenha, no mínimo, o mesmo tesão que eu pra conduzir as coisas por aqui.
Se você gostaria de se candidatar, mande um e-mail para amuri@papodehomem.com.br, com seu currículo e dois ou três parágrafos de apresentação. A apresentação é indispensável, independente de quão incrível seja seu currículo.
A ideia é que essa pessoa assuma em novembro, e trabalhe junto comigo até o fim do ano.
Muito obrigado, de coração
Eu conseguiria escrever um texto do tamanho desse para cada pessoa que trabalha (ou trabalhou) por aqui, e provavelmente choraria meio balde cada vez que apertasse no botão “publicar”. Não consigo nem mensurar o quanto a proximidade com o PdH impactou minha vida.
Daria para fazer uma lista dos momentos emblemáticos: grandes negócios, grandes decepções, a mudança de casa, a criação do novo site, as demissões, as contratações.
Mas também daria para listar os momentos bobos e igualmente importantes, como quando o Cambi me ensinou a instalar uma tomada, ou quando precisávamos passar o cabo de rede pela casa e não tínhamos passa-fio, então fizemos uma bolota de durepox e arremessamos pelo telhado, ou quando o Jader berra “é memo?!”, com voz mais fina que a da Tetê Espindola em “Escrito nas estrelas”, ou quando o Luciano grita “UHU” sem nenhum grande motivo, na hora de dar oi ou dar tchau, instantes antes de dizer “comam seus vegetais”. Vocês são a base da empresa.
Dá um alívio desgraçado quando o Felipe diz “cara, fica tranquilo que eu sou escoteiro” (mesmo quando caiu um tempestade e o teto está, literalmente, despencando) e brota uma energia sabe-se lá de onde, quando o Guilherme propõe a criação de dezesseis foguetes em 4 semanas. Vou sentir uma falta imensa disso tudo.
Higa, na minha cabeça você continuará tendo 23 anos eternamente.
Marcela, Breno, sou fã incondicional de vocês. Brenão.
Bruno, agradecimentos sem fim pela paciência, sem palavras para o tanto de coisa que andou absurdamente melhor por conta da sua presença.
Carol, Phellipe, Rica, sejam imensamente bem-vindos (aos dois do comercial, cuidem do Felipe, não deixem ele ter um ataque do coração).
Ismael, Franco, muito obrigado por tudo, em especial pelas bolas quadradas que vocês nos ajudaram a colocar pro gol nos últimos anos.
Lygia, obrigado pelo chacoalhão que você deu na empresa, estávamos precisando. Siga pedalando.
Gitti, Fábio, obrigado por todo o apoio e parceria até aqui.
Moniquinha, devo a sua comida uma parte da dificuldade que tenho em abaixar meu tempo nas corridas.
Clint, continue acreditando que você cabe em qualquer lugar.
Sigo escrevendo por aqui com certa regularidade mas, especialmente, sigo disponível e desejando que a mais e mais pessoas participem e se beneficiem dessa rede incrível.
De novo, muito obrigado.
Seguimos.
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