Em março, o primeiro caso de coronavírus chegou ao Brasil. Nós do PdH ficamos atentos aos desenrolares dos outros países para tentar entender como lidar com a situação aqui. Além das inumeráveis vítimas do vírus, Notícias da Ásia e Europa, já apontavam uma tragédia: o aumento da violência contra mulheres no ambiente domiciliar. 

A China, que começou a enfrentar a pandemia em novembro e, em fevereiro, já registrava 3 vezes mais casos de violência doméstica, comparada ao mesmo período do ano anterior. 

A pandemia de coronavírus é um momento diferente de todas as coisas que já vivemos. No entanto, para aqueles que mergulham nos estudos de violência contra as mulheres, não é novidade que em situações de crises ou desastre aumentem os casos de violência contra mulheres e meninas.

Dentre os vários motivos — que podem ser entendidos mais a fundo neste documento aqui —, estão o crescimento dos problemas financeiros; o aumento das tensões em casa e os obstáculos adicionais para denunciar ou sair de casa.

De mãos dadas com o Instituto Avon — que pesquisa violência contra as mulheres e tem reunido ativistas para promover a equidade — nós começamos a nos movimentar para elaborar uma campanha que dialogasse com homens e mulheres para promover mais segurança e bem-estar para todos durante a pandemia. 

Para transmitir esta mensagem, contamos com o trabalho maravilhoso da ilustradora Bruna Bandeira, da página Imagine e Desenhe.

Aqui vai uma lista com os principais pontos:

1. "Eu não sou um homem que cometeu violência, mas quero ajudar. O que posso fazer?"

2. Como posso dar suporte estando longe?

3. Quais são as características de um relacionamento abusivo?

4. O que é o ciclo da violência?

5. Como usar a comunicação não-violenta para reduzir conflitos?

6. Como saber se alguém que eu conheço está sofrendo violência?

7. É possível pedir ajuda sem falar uma palavra?

8. "Vamos pensar em um plano, só por precaução?"

9. Como conversar com crianças sobre violência doméstica?

10. Como superar hesitações e oferecer ajuda?

Porque falar sobre violência contra meninas e mulheres aqui no PdH?

Resumindo, porque a violência contra as mulheres é um problema de todas e todos. Nós PdH estamos em uma jornada contínua em busca de uma sociedade mais justa e equilibrada. Acreditamos que combater as desigualdades transforma o mundo num lugar mais seguro e harmonioso  para todos.

Os homens são os que mais matam e também os que mais morrem. A "caixa do Homem", aquela visão de como um "macho" deve agir, é também uma prisão que tantas vezes causa feridas nos próprios homens e nas pessoas a sua volta. 

Quem tiver interesse em mergulhar nas dores dos homens pode assistir ao nosso documentário “O silêncio dos Homens”.

Alguns dados sobre violência contra mulheres

A violência de gênero contra mulheres tem características específicas que pedem nossa atenção e nossa transformação:

  • 7 em cada 10 assassinatos e tentativa de assassinato de mulheres são cometidos pelo atual ou ex companheiros.
  • 1 a cada 3 destes crimes acontecem na casa da própria vítima.
  • Os feminicídios são cometidos principalmente durante os finais de semana, quando o período de convivência em família aumenta. (O que aumenta ainda mais a preocupação com o contexto do isolamento social)

Em 2019 lançamos nosso e-book “Como conversar com homens sobre violência contra as mulheres?” entendendo que esta conversa também é nossa e que nós homens não só podemos, como devemos fazer parte desta busca por relacionamentos mais saudáveis.

Trazer a conversa e o enfrentamento às violências de gênero aqui pro PdH é um convite para que os homens sejam parte desta transformação de 3 formas:

  • Para que homens, pais, irmão, filhos, amigos, companheiros, possam dar suporte para às mulheres a sua volta que precisam de ajuda, 
  • Para que todos nós, juntos, possamos desnaturalizar atitudes do dia-a-dia que reforçam o comportamento masculino violento, autoritário, impulsivo e, então, construir referências e valorização do cuidado de si e dos outros.
  • Para que homens que tenham cometido violências contra suas companheiras possam reconhecer o erro, assumir a responsabilidade, interromper o ciclo de violência e buscar a transformação.

“Cada vez mais é visível um consenso de que é fundamental intervir em homens autores de violência contra mulheres, à parte dos serviços já dedicados às vítimas. Dada a complexidade da temática, é necessário atuar em diferentes frentes, de forma a contemplar todos os envolvidos/as”  –  pontua Adriano Beiras, professor do departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e colaborador do Instituto NOOS.

"Eu não sou um homem que cometeu violência, mas quero ajudar. O que posso fazer?"

Vamos apresentar aqui os principais posts da campanha convivência. Para saber mais sobre cada tema, clique no post e leia o conteúdo completo.  

Passando as setas pro lado que você vai encontrar algumas dicas importantes para ser parte da transformação. Se tiver interesse em entender ainda mais sobre como atuar para o fim das violências contra mulheres, dê uma olhada no nosso e-book.

Leia também  #PrimeiroAssédio: não dá pra esquecer

Outro ponto importante é que homens consigam conversar entre si, incentivando a responsabilização e transformação. 

Como posso dar suporte se estou longe?

O objetivo principal da campanha foi informar e acolher. Fazer com que as mulheres em situação de isolamento e violência saibam que sua vida importa, que elas têm com quem contar, que podem pedir ajuda e que haverá para onde correr.

Aqui estão reunidas as principais formas de fazer denúncia ou receber acolhimento.

 

Quais são as características de um relacionamento abusivo?

A violência de gênero não é só a agressão física. Ela começa com agressões verbais e psicológicas que, muitas vezes, são vistos como "normais" ou "coisa de casal". Essas "pequenas coisas" dão início ao que a gente chama de ciclo da violência que, infelizmente, vai se tornando mais grave e mais físico com o passar do tempo.

Identificar um relacionamento abusivo é uma forma de interromper o ciclo da violência ainda no começo.

Se você é um cara e se identificou com alguma característica de um parceiro abusivo, entenda também sua responsabilidade em rever estes aspectos do seu comportamento para cultivar relações mais saudáveis. 

Como usar a comunicação não-violenta para reduzir conflitos?

Também preparamos algumas dicas de comunicação não-violenta que podem ajudar homens e mulheres a diminuírem as tensões da relação.

O que é o ciclo da violência?

É muito comum que as pessoas se questionem — e até demonstrem indignação — quando veem alguém amam em uma relação abusiva: "Porque ela atura isso? Porque não larga dele?"

Os motivos podem ser vários: filhos, insegurança financeira, auto-responsabilização pelos problemas, medo, ameaças e, também, as promessas e momentos bons que a fazem acreditar na mudança.

 “O fato desse companheiro não ser uma pessoa má o tempo todo faz com que ela acredite que o comportamento agressivo pode mudar.”  — explica a psicóloga Leonora Walker.

O ciclo da violência nos ajuda a entender como muitas mulheres seguem, por anos, em relações assim.

Entre no post para entender melhor como a dinâmica — tensionamento, violência e lua-de-mel — funciona.

É possível pedir ajuda sem falar uma palavra?

Em alguns contextos as mulheres não conseguem pedir ajuda ligando ou falando para alguém por estarem com o homem autor da agressão por perto. Nestes casos existem algumas opções de pedir por ajuda veladamente.

Uma delas e o whatsapp da Amiga Virtual: (11) 94494 – 2415

"Vamos pensar em um plano, só por precaução?"

Se oferecer para, junto da pessoa que pode estar em perigo, pensar em um plano tem duas funções: 

1) mostrar que ela tem apoio e formas de sair daquela situação

2) fazer com que ela, ao elaborar o plano, se dê conta do nível de risco que corre o que pode incentivá-la a buscar por segurança o mais rápido possível

 

Como conversar com crianças sobre violência doméstica?

A violência pode atingir as crianças direta ou indiretamente. Por isso, também separamos algumas informações sobre como dialogar com crianças em caso de violência.

 

Como superar hesitações e oferecer ajuda?

Muitas vezes temos receios de falar com a pessoa e oferecer ajuda. Faz sentido hesitar. Para entender melhor como e quando ajudar, sem se omitir, separamos algumas perguntas importantes a se fazer.

 

 * * *

Com esta campanha, fizemos esforços para falar de alguns pontos-chave para que homens e mulheres atuem juntos em busca de um mundo mais pacífico, em que mulheres e meninas possam estar em segurança dentro de casa. Nem de longe podemos dizer que esgotamos o assunto ou que apresentamos todas as respostas. Juntamos e espalhamos importantes pontos de partida.

Reunimos o conteúdo da campanha aqui no nosso portal para que todas estas informações possam ser encontradas por todos e todas que delas precisarem, seja agora, durante a pandemia, ou em qualquer outro momento. 

O cuidado com a vida das nossas amigas, irmãs, mães, tias, filhas, avós, companheiras é responsabilidade de todos e todas. 

Conte para gente, aqui nos comentários, sobre que outros pontos vocês gostariam de ter mais informações. 

Gabriella Feola

Editora do Papo de Homem e autora do livro <a href="https://www.amazon.com.br/Amulherar-se-repert%C3%B3rio-constru%C3%A7%C3%A3o-sexualidade-feminina-ebook/dp/B07GBSNST1">Amulherar-se" </a>. Atualmente também sou mestranda da ECA USP