Aconteceu contigo e comigo. Também com o Sinhozinho Malta e, dizem, aconteceu até com a Grazi Massafera. A “traição e cornitude” é o assunto dos assuntos, o mais universal dos temas, o miolo das nossas desesperanças e pequenas vendettas.

Nessa confusão toda, nos tornamos meninos e meninas de nossas próprias emoções e ilusões e ficamos desprotegidos para o mundo, mas no ponto certo de sermos embalados pelos braços do criador e por belas canções.

corno

O Gustavo Gitti já contou tudo o que você queria saber sobre traição, o Luciano Ribeiro enumerou cinco passos para ser corno, o Frederico Mattos discorreu em profundidade sobre a aura do corno manso. A Carolina Dini pediu para nunca contar ao amigo que ele é corno e eu mesmo já me aventurei a dar pitacos no chifre alheio quando a Kristen Stewart, que traiu seu namorado e meu amigo Robert Pattinson, quase editou o PapodeHomem por um tempo.

Dói e foi feito pra doer.

Amigo meu e do Robert Pattinson, o Fred Fagundes foi mais longe e quis deixar sangrar. Há um ano — olha só que coincidência gostosa — o ex-dono da internet publicou aqui com a gente “Os 10 maiores sambas de amor (ou apenas músicas para você sentir o chifre sendo arrancado com um alicate)”, momento em que ele derrama em nossos ouvidos as mais finas melodias do estilo que reúne alegria e tristeza nas mesmas notas. Um post lindo e muito recomendado.

“Poxa, mas já tem bastante disso e você vai repetir tudo de novo, Jader?”. Quantas vezes você acha que já levou chifre, amigo?

Tenho aqui cinco canções sobre fossa e dor de corno e chifre e fim dos tempos e do amor como conhecemos. Minha ideia é conseguir contar porque eu gostaria de ter escrito cada uma delas:

“Depois do Prazer”

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Tô fazendo amor
Com outra pessoa
Mas meu coração
Vai ser pra sempre seu

Ela é latina, é sangue quente, é a mais malandra das letras já escritas sem saber que raios se estava escrevendo. Ela tem um canto manhoso e você se compadece pelo cantor. Mas há de se perceber que ele traiu, que ele pede o perdão da alma, já que o corpo só faz. Daí, você se compadece é da pessoa traída!

“Por que você fez isso com ela, cara”. E, nesse caldeirão de escolhas e lembranças, a música já te ganhou. Nada como culpa e medo e tesão para dar uma bela agitada nessa segurança monótona da vida.

Eu queria muito ter botado isso no papel, ter sido esse sádico ingênuo cheio de movimentos errados e arrependimentos e, ainda assim, capaz de fazer abrir qualquer ferida esquecida.

“Chão de Estrelas”

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Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de ‘doirado’
Palhaço das perdidas ilusões

Que canção, minha gente, que canção! Ela foi embora e nada mais tem graça. Como se não bastasse, estamos falando de um miserável que mora no morro do Salgueiro na década de 30, um homem de fina observação que consegue enxergar, quando a lua bate no teto furado do barraco e vai chapiscando a terra de luz, um chão de estrelas onde ela pisava distraída.

Chega que até arrepia.

Eu queria ter tido, em algum momento de coçar na testa, a delicadeza de escrever algo como a letra dessa canção, inocente à beça, fantasiosa até o talo. Queria ter visto feriado nacional nas nossas roupas, a festa de trapos, resumido tudo a cabrocha, luar e violão. Eita, saudade!

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“Eu vou tirar você desse lugar”

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Eu quero que você não pense em nada triste
Pois quando o amor existe
Não existe tempo pra sofrer

Meu deus, é o sonho dos sonhos! Tirar uma mulher da vida da vida que ela leva. A entrega máxima, aprender na marra que todo o preconceito é burro e que tudo vale a pena quando a alma não é pequena. O nosso Odair José queria levar a para casa uma prostituta. Ela já teve muitos homens, cobra por seus serviços sexuais, tem toda a má fama que línguas estúpidas poderiam proferir e propagar.

E ele foi lá, de despiu de qualquer amarra social e assim o fez. Que coisa linda.

Só de ter o peito para entrar nessa e desse jeito, já invejo o compositor da canção. Simples, direta e que não se interessa com que os outros vão pensar.

“Nervos de aço”

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Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor
Nos braços de um outro qualquer

Essa música, melhor cantada na voz do Paulinho da Viola (qualquer canção cantada pelo Paulinho fica melhor na voz do Paulinho), é do gaúcho Lupicínio Rodrigues. Segundo o Fred Fagundes, ele escreveu a canção após ver sua ex-mulher com outro homem. Escreveu tudo lá mesmo, no bar e entregou as palavras a ela. Logo depois, foi-se embora.

Claro que eu queria, em momento de fúria e frustração, canalizar toda a dor e desespero em um guardanapo usado, em folha sem menor valia e botar, ali, esse tapa na cara dos mais finos. Ter a coragem de desabafar em vez de engolir a seco a amargura, mas não em forma de briga ou bagunça, mas em uma linda canção que até hoje derrama lágrimas.

E ainda encontrou em seu caminho a voz do Paulinho.

“No Toca-Fita do Meu Carro”

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Olha esse começo, ouve esse teclado, esse baixo, a bateria. Repara só na interpretação desse cara logo no começo, a aflição amorosa com que ele sai lembrando. Coloca isso tudo no visual. Um abandonado dentro de seu carro, a garrafa de cachaça da noite anterior dançando no chão do banco do passageiro (pelo amor de deus, não vai beber e dirigir), o cinzeiro (sim, nesse visual tem de ser um carro daquela época que tinha cinzeiro) cheio de bitucas, algum penduricalho chacoalhando tristonho no retrovisor, o choro copioso.

Ele treme a voz enquanto canta, a canção ( e a dor dele) não tem fim, vai pro fade out. Puta que o pariu, ele mexe no porta-luvas e encontra o lencinho com o nome dela junto ao dele. Escuta esse teclado, escuta esse baixo.

Estamos falando de Bartô Galeno e igual ele não haverá jamais.

Agora é hora de chifre trocado. O que não falta é canção que faz doer, que fala abertamente das mazelas de uma traição e canções de amor que deixam qualquer coração sensível em frangalhos. Coloque a sua aqui nos comentários e, caso se sinta a vontade, pode desabafar sobre seus dissabores amorosos.

Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados