Conversa sobre suicídio e luto emociona durante exibição de O silêncio dos Homens

Na roda de conversa após a exibição do documentário, um desabafo sobre o suicídio, trouxe à tona lágrimas e a necessidade de falar sobre o tema.

Depois da estreia nacional do nosso documentário "O silêncio dos homens", recebemos vários comentários e respostas da galera que exibiu e que assistiu o filme e uma delas, traz a tona um tema que não podemos deixar de abordar: o suicídio entre os homens.

Foram tantas mensagens carinhosas do público — dos que nos acompanham há anos e dos que acabaram de conhecer o PdH — que mal demos conta de responder e de acompanhar todo mundo. Mais uma vez, só temos a agradecer a todos os que abraçaram esse movimento com a gente, ajudando a quebrar parte do silêncio.

Uma das mensagens que encheu nossos olhos de lágrimas veio do Estúdio Nu, que fez uma exibição com roda de conversa em São Paulo. Eles filmaram a conversa entre a galera depois do filme, e compartilharam conosco um depoimento que emocionou a todos que estavam na roda.

Enquanto um dos homens da roda contava sobre como ele tenta usar o humor pra escapar dos questionamentos sobre o porquê ele não gosta de futebol, uma das mulheres da roda questionou como, muitas vezes, esse humor acaba encobrindo outros sentimentos mais profundos: dos amigos que cresceram rindo e "se zuando", um deles se suicidou há poucas semanas.

 

"Pra eles, teoricamente, me respeitarem eles me chamavam de 'baranga', só que é assim, é aquela masculinidade tóxica... são aquelas brincadeiras que se você está lá é até engraçado.

Mas ai um deles se suicidou, eu fui no funeral dele terça-feira. E era uma pessoa assim, tipo "macho", sabe?

A família dele tinha uma chácara, ai compraram um pônei, em três dias ele construiu um celeiro, ele mesmo cavou o buraco... Sabe aquele pessoa que falava "Não, eu faço!". 

Ele teve um câncer, melhorou do câncer mas, do nada, a namorada terminou com ele. Ele não aceitando a situação, sei lá porque, ele se matou. 

É engraçado que no funeral nenhum deles chorava, nenhum. Eles não se abraçavam, eles não choravam, eles só ficavam lá falando:

-Quando eu morrer, eu vou bater no Chila...

Eles ainda tinham uma reação violenta. Ninguém teve a coragem de falar 'Cara, você tá mal?'

(...)

Ai eles ficavam sentados do lado de fora do cemitério bebendo uísque,  porque é isso que um "macho" faz quando está triste, bebe uísque.(...) E tremiam, todo mundo tremendo, mas ninguém derrubou uma lágrima."

Desde o nosso primeiro documentário "Precisamos falar com os homens", já estamos chamando atenção para este dado: os homens cometem 4xs mais suicídios que as mulheres, apesar de receberem menos diagnóstico de depressão.

Homens também tendem a pedir menos ajuda. Essa foi basicamente a premissa que nos deu a ignição para fazer "O silêncio dos homens": a dificuldade masculina de se expressar. De acordo com a pesquisa que realizamos em conjunto com o documentário, identificamos que 7 em cada 10 homens não falam sobre seus maiores medos e dúvidas nem mesmo com seus amigos. 

O silêncio faz mal e, em alguns casos — como neste que a nossa espectadora descreveu — ele pode ser letal. Estamos no mês da prevenção do suicídio e acreditamos que trazer o assunto a tona e quebrar o silêncio, pode nos ajudar a encontrar saídas. 

Você tem procurado saber se algum dos seus amigos está precisando de ajuda? Você está disposto a ouvir de verdade quando um brother te procura querendo desabafar? Você mesmo, sente que pode falar com seus amigos sobre seus medos, dores e aflições?

Pensando num modo bem simples de começar a romper os silêncios e compartilhar as dores, que tal tentar puxar uma conversa essa semana com aquele amigo/amiga em quem você confia e realmente tentar contar pelo que você tem passado e o que você tem sentido ultimamente, assim como ouvir dela como estão as coisas bem lá no fundo.

* * * 

Se estiver precisando de ajuda urgente, mas não souber com quer falar, entre em contato como CVV – Centro de Valorização da Vida.

O CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.


publicado em 10 de Setembro de 2019, 15:55
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Gabriella Feola

Editora do Papo de Homem e autora do livro "Amulherar-se" . Atualmente também sou mestranda da ECA USP, pesquisando a comunicação da sexualidade nas redes e curso segunda graduação, em psicologia.


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