O Ministério da Saúde está começando a campanha nacional de vacinação contra a gripe e estabeleceu uma lista de prioridades de quem deve receber a vacina.

Entenda por que a vacina não é perigosa, saiba o que responder quando receber um email com teorias conspiratórias e veja no calendário oficial quando (ou se) você deverá tomá-la.

Tradução: “Se estiver perto de uma morena dessas, saiba que espirrar não é um bom xaveco!”

1 – A vacina é segura? Como ela é feita?

Antes de tudo: sim, a vacina é segura! São mais de 60 milhões de pessoas já vacinadas, com toda segurança.

O processo de produção da vacina da gripe é bastante lento e trabalhoso. Para que a vacina esteja disponível meses antes do inverno – período necessário para a distribuição e aplicação das doses, bem como a produção da resposta imune pelo corpo – são necessárias reuniões bianuais organizadas pela OMS que determinam quais serão os tipos de Influenza presentes na vacina. No caso desta campanha de vacinação, é o Influenza A H1N1 de origem suína.

Uma vez decidido o vírus, ele é coletado e transformado. A maneira atual de cultivar o influenza para se obter quantidades necessárias para as doses de vacina é inocular o vírus em ovos de galinha embrionados, que são estéreis e permitem que o vírus cresça bem. Assim, a transformação envolve misturar o influenza escolhido com uma linhagem que cresce bem em ovos para aumentar o rendimento. Em todas as etapas, o vírus é isolado e testado para garantir que não há perigo para nossa saúde e a vacina será eficiente.

Depois de crescer o vírus em ovos, ele é purificado e completamente destruído. A vacina é composta apenas de um pedaço do vírus, a proteína Hemaglutinina, que é a parte reconhecida e atacada por nosso sistema imune. Não existe vírus ativo na vacina, por isso ela não pode causar gripe.

Existem, sim, versões de vacina baseadas no vírus atenuado, que inclusive podem proporcionar uma resposta imune melhor, mas são de manipulação muito mais complicada e cara, e não são usadas em campanhas de larga escala.

Link YouTube | Pronunciamento do Ministro da Saúde, José Gomes Temporão

2. Mas e o esqualeno e o mercúrio da vacina? E a síndrome de Guillain-Barré?

Infelizmente, o Influenza A H1N1 não cresce muito bem em ovos, e a produção das doses de vacina foi bem comprometida. Uma maneira de compensar este fato é usar um adjuvante. O adjuvante é um composto que ajuda o corpo a encontrar e reconhecer as proteínas da vacina e produzir uma resposta imune melhor. Usando adjuvantes, apenas uma dose de vacina pode ser suficiente, ao invés das duas normalmente usadas.

O esqualeno contido na vacina é um auxiliar do adjuvante. Ele é um óleo naturalmente presente em nosso corpo, que inclusive faz parte da marca da impressão digital. Em alguns SPAMs anti-vacina, ele aparece como causador de problemas de paralisia em veteranos da Guerra do Golfo, que haviam sido vacinados contra antrax e possuíam anticorpos anti-esqualeno. Hoje em dia, se sabe que não havia esqualeno na vacina que eles receberam, como a própria OMS explica.

Já o mercúrio é utilizado como conservante. Ele está presente na vacina como timerosal, que contém metade do seu peso em mercúrio, o que dá a quantidade 1,25 a 25 μg por dose, menos do que a dose diária máxima permitida. O mercúrio presente na vacina é o etil mercúrio, que não se acumula no corpo e é rapidamente metabolizado e retirado, ao contrário da forma nociva, o metil mercúrio. E nenhum dos dois está associado ao autismo.

Guillain-Barré é uma doença auto-imune de diagnóstico bem complicado, que recebeu uma enorme atenção depois da campanha de vacinação dos Estados Unidos em 1976, e muitos dos casos diagnosticados podiam estar despercebidos antes da cobertura que a mídia deu. Considerando que todos os casos foram diagnosticados corretamente, e causados pela vacina (o que não foi comprovado até hoje, nem refutado), foram 10 casos por milhão de vacinados, 25 deles fatais. A gripe mata cerca de 1 pessoa em mil contaminados, algo muito mais preocupante. A ideia de histeria coletiva é reforçada pela vacinação da Holanda, que distribuiu 1,5 milhão de doses da mesma vacina e não registrou nenhum caso de Guillain-Barré.

3. Quando eu devo receber a vacina? Por que as prioridades?

Fonte | Se você está em algum grupo acima, procure um posto de vacinação no período de convocação.

A lista de prioridades é necessária por causa de como o Influenza se espalha. A gripe é transmitida pelo ar e por contato, principalmente durante o inverno, e quem é infectado fica gripado e transmite o vírus durante cerca de uma semana. Para evitar o espalhamento da gripe, não é necessário que todos estejam imunes contra ela, basta que uma parcela da população esteja. De preferência, os mais importantes na transmissão.

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Como o mundo inteiro quer doses de vacina, a produção é insuficiente. Mesmo que o Influenza A H1N1 crescesse bem em ovos e rendesse muitas doses, não existe estrutura capaz de produzir bilhões de doses. Mas, como já vimos, não é preciso vacinar todas as pessoas, apenas alguns grupos.

Por isso o governo está vacinando apenas as pessoas mais suscetíveis e que podem transmitir mais o vírus. É uma questão de conseguir os melhores efeitos com um estoque limitado de vacinas. Assim, ao se vacinar, você se protege e protege os outros.

Daí a importância de começar a vacinação com agentes de saúde, que entram e contato constante com doentes infectados pelo Influenza – e pacientes que se forem infectados podem sofrer muito mais severamente.

As prioridades depois são pessoas com o sistema imune comprometido, crianças bem novas, grávidas, doentes crônicos e idosos. E também as pessoas mais ativas e que transmitem o vírus para mais potenciais alvos. Crianças mais velhas do que 2 anos, por exemplo, desenvolvem sintomas muito menos severos, embora transmitam bastante a doença, por isso foi dada a prioridade aos mais novos.

O motivo de pessoas com mais de 65 anos terem prioridade de receber a vacina contra a gripe comum e não esta se deve à imunidade que eles já possuem. O Influenza humano e o Influenza suíno vêm de uma mesma linhagem que infectou ambos por volta de 1918, e desde então temos trocado vírus algumas vezes. Provavelmente um evento deste ocorreu por volta de 1944, e quem foi infectado pelo vírus suíno naquela época é imune até hoje.

4. Quais são os efeitos colaterais?

Compulsão por milk-shake e calor excessivo no peito é um dos efeitos nas mulheres, Atila?

Os efeitos colaterais da vacina acontecem por conta da nossa resposta imune, já que ela não contém o vírus em si, apenas um pedaço dele. Como muitos dos sintomas da gripe, nossa própria resposta contra o vírus desencadeia mudanças no corpo, e, de certa forma, senti-los é um sinal de que nossa resposta imune está sendo formada.

De acordo com a OMS, os efeitos colaterais mais comuns são febre, dores no corpo e nas juntas e dores de cabeça. Todos com duração de poucos dias. Como são milhões de pessoas vacinadas, alguns casos mais raros como diarreia podem ocorrer.

Grávidas e crianças não apresentaram sintomas além dos normais e não foi vista razão para não vaciná-los. Ainda mais se considerarmos que eles são os mais atingidos pelos sintomas da gripe e, portanto, os mais beneficiados pela proteção da vacina.

5. Eu devo tomar a vacina? O que fazer se não estou na lista?

Se você se encaixa em um dos grupos a ser vacinado, sim. Por mais que você não costume ficar gripado. Ser vacinado não protege apenas você, protege também as pessoas com as quais você tem contato. Afinal, como já vimos, as vacinas foram distribuídas visando atingir o grupo da população mais importante na contenção da doença.

Com tantos casos de vacinas bem sucedidas e tão poucos e toscos motivos para não se vacinar, não vacile. Proteja-se, proteja quem está a sua volta e vacine-se. E não repasse aqueles malditos SPAMs contra a vacinação.

Se você deseja se vacinar ou vacinar alguém, e não está na lista de prioridades, procure um clínica particular. Ou aguarde, é possível que após a campanha, o governo distribua as doses restantes para a população toda.

Para saber mais:

Atila Iamarino

Doutorando pela USP, biólogo viciado em informação e ciência. Autor do excelente blog <a>Rainha Vermelha</a> e editor do <a href="http://scienceblogs.com.br/">Science Blogs Brasil</a>