“Eu vos digo que o melhor time é o Fluminense. E podem me dizer que os fatos provam o contrário, que eu vos respondo: pior para os fatos!” –Nelson Rodrigues

Não podia ter sido diferente. Nos meus trinta anos de vida, nunca vi um título do Fluminense que não fosse sofrido até o último momento. Cariocas, terceira divisão, Copa do Brasil, todos sofridos. E ontem não foi diferente. Dramático até o fim, como já estava escrito. Escrito desde o início.

Enquanto a torcida do Fluminense dava um show nas arquibancadas e a diretoria tricolor mandou fazer uma réplica da taça, a diretoria corintiana lançou um slogan e mandou fazer camisas que seriam usadas caso eles não fossem campeões. Isso diz tudo. Enquanto jogadores do Fluminense falavam em garra, luta, sangue e dedicação, “ídolos” do Corinthians falavam em dar dinheiro ao adversário e reclamaram de times que, segundo eles, fizeram corpo mole contra o Flu. O mesmo corpo mole que este mesmo Corinthians fez no último campeonato para prejudicar São Paulo e Palmeiras.

O Fluminense só precisava ganhar. Só isso. Só precisava fazer o que havia feito em 20 dos 38 jogos que havia disputado. Era o time que mais havia ganhado no campeonato e o que havia ficado mais tempo na liderança. Vencer um time já rebaixado com oito jogadores reservas parecia ser tarefa das mais fáceis. Só parecia. Fim do primeiro tempo e os jogadores do Fluminense erraram absolutamente tudo o que tentaram em campo. Tudo. A torcida a este momento já estava vendo se repetir a novela da final da Libertadores. Menos mau que o Corinthians estava empatando, e o Cruzeiro também.

Mas a volta para o segundo tempo trouxe novos ares, literalmente. Um vento fresco soprou e alentou o calor infernal que estava dentro do estádio e, com ele, trouxe junto um personagem que não se faz ausente em nenhum título do Flu: o Sobrenatural de Almeida. E quis o sobrenatural que um jogador que não fazia gol há dezenas de jogos e outro vindo do nosso maior rival fossem responsáveis pelo gol do título. Mariano cruzou da direita, Washington raspou de cabeça e a bola sobrou para Emerson, que enfiou entre as pernas do goleiro. Dois jogadores que venceram a desconfiança da torcida nos davam agora o título.

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Créditos: André Durão (Globoesporte.com).

Quando o jogo acabou nem preciso dizer o que aconteceu. Amigo, se você já viu quarenta mil pessoas pulando e gritando ao mesmo tempo, sabe o que aconteceu lá.

Era uma cumplicidade ímpar. Estranhos se cumprimentavam, se abraçavam, namorados (eu) choravam diante do olhar incrédulo e respeitoso das namoradas, pessoas andavam de joelhos pelas escadas, senhoras beijavam seus crucifixos, jovens atônitos viam, pela primeira vez, seu time ser campeão brasileiro. Campeão na raça, na coragem, vencendo adversários, lesões, calendários, o poderio psicológico de superar o time que tem uma das maiores torcidas do país no ano do seu centenário.

O Fluminense ganhou tudo e todos, merecidamente. Graças a cada jogador que deu seu sangue por esse time de guerreiros. Em especial, graças ao Conca, o maior guerreiro de todos, e ao Muricy, que negou a seleção do seu país e se mostrou um sujeito de caráter e estrela.

E a torcida respondeu à altura. Torcida é diferente de todas as outras. Torcida que, como disse Nelson Rodrigues, se o Fluminense fosse jogar no céu, os tricolores morreriam para vê-lo jogar.

Leonardo Luz

Fã de polêmicas, adora cutucar onça com vara curta. Também detona no blog <a>"Eu e Meu Ego Grande"</a>."