Depois de falarmos do homem como ser racional limitado e como um indivíduo além das explicações biológicas, trazemos para a discussão a questão do nosso posicionamento diante de nossos pares de maneira a influenciá-los e a sermos influenciados.
Ok, nenhum homem é uma ilha. E estamos mais ligados do que podemos imaginar. É uma das leituras possíveis do texto escrito por Alana Conner e Hazel Rose Markus, o terceiro e último artigo da série “Como explicar o homem?”. (Leia o primeiro e o segundo.)
Você pensa; logo, eu existo
Por Alana Conner, escritora especializada em ciência e curadora do Museu de Tecnologia de San Jose, Califórnia; Hazel Rose Markus, professora de Ciências Comportamentais da Universidade de Stanford
“Penso; logo, existo.” Cogito ergo sum. Lembra desta ideia profunda e elegante do livro Princípios da Filosofia, de René Descartes? O fato da pessoa contemplar se ela existe, Descartes apontou, prova que, de fato, ela existe. Com esta simples afirmação, Descartes costurou duas ideias centrais da filosofia ocidental: 1) pensar é algo poderoso, e 2) indivíduos têm um grande papel na criação dos seus próprios “eus” – isto é, suas piquês, suas mentes, suas almas.
Muitos de nós aprendemos a parte do “cogito” em algum momento da nossa educação formal. Ainda assim, a minoria estuda uma ideia igualmente profunda e elegante em psicologia social: o pensamento de outras pessoas moldam de maneira poderosa os nossos “eus”. De fato, em muitas situações, o pensamento de outras pessoas tem um impacto maior nos nossos pensamentos, sentimentos e ações do que os pensamentos que temos enquanto filosofamos sozinhos.
Em outros termos, na maioria das vezes, “você pensa; logo, eu existo.” Para o bem e para o mal.
Um exemplo diário de como seu pensamento afeta o estado das outras pessoas é o efeito Pigmalião. Os psicólogos Robert Rosenthal e Lenore Jacobson capturaram este efeito em um estudo clássico de 1963. Depois de dar um teste de QI para alunos do ensino fundamental, os pesquisadores disseram aos professores que os alunos seriam “surtos acadêmicos” por causa do seus QIs supostamente elevados. Na realidade, os QIs destes estudantes não eram superiores aos dos alunos “normais”. No final do ano letivo, os pesquisadores descobriram que os “surtos” tinha alcançado as melhores notas e QIs mais altos do que os “normais”. O motivo? Os professores esperavam mais dos surtos e, portanto, dedicaram a eles mais tempo, atenção e cuidado. E a conclusão? Espere mais de alunos e obtenha melhores resultados.
(…)
Como o planeta fica menor e mais quente, saber que “você pensa; logo, eu existo” pode nos ajudar a entender com mais rapidez o quanto afetamos os nossos vizinhos e o quanto somos afetados por eles. Não ter a ciência do quanto impactamos a vida um do outro pode nos levar a repetir os mesmos erros.
Com este artigo, encerramos nossa seleção dos textos do site Edge. Lembramos que nenhum dos textos deve ser percebido como verdade absoluta. O objetivo de cada um deles é iniciar um debate. Você concorda com as autoras? Discorda? Quais as lacunas que o pensamento delas não preenche? Quais insights lhe trouxeram visões mais amplas sobre si mesmo?
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