A inquietante busca por respostas

Esse texto também não tem respostas prontas

Acho que pouca gente se liga, mas os comentários de qualquer texto na internet possuem um impacto no autor do conteúdo.

Quando publico um texto, leio atentamente todos os comentários, mesmo que não consiga responder.

Cada palavra naquela caixinha me diz uma direção, se acertei, se errei, no que errei. A maioria das vezes os comentários deixam uma mensagem boa e construtiva, mas algumas vezes eles batem como um martelo e permanecem na minha cabeça por bastante tempo.

Dois comentários que recebi em meu último texto - Não está tudo bem, eu sei - me chamaram atenção. Não vi como crítica negativa ou algo parecido, mas me alertaram para uma característica frequente, algo que acredito que todos temos em algum nível.

Ambos os comentários apontaram que não apresentei respostas ao final do texto. Entenderam que levantei um problema e não forneci uma solução.

Isso acendeu uma luz amarela pra mim.

Nos dias de hoje temos o Google, Wolframalpha, Youtube, portais de pesquisas cientificas e estatísticas aos montes. Praticamente toda resposta que procuramos pode aparecer no Google. Uma dor diferente? Uma receita de bolo? Resposta daquele dever de casa? Aquela dúvida sobre como funciona uma lei específica? Me diz uma dúvida geral e eu te aponto a resposta usando algum dos recursos supracitados.

É assim. Estamos acostumados, é como a modernidade nos condicionou a pensar. E quando nos deparamos com algum problema mais grave, sem resposta, ficamos perdidos, ansiosos, por vezes, desesperados.

Não existem respostas fáceis para muitas coisas da vida pessoal. Menos ainda respostas indubitavelmente corretas. A complexidade que demos à vida humana assumiu padrões que nenhum outro animal compartilha. Passamos de simples seres que se alimentam, reproduzem e agem baseados no instinto, para pessoas que questionam, analisam e comparam. Nós somos tão diferentes entre nós mesmos que nenhuma resposta pronta englobará todo mundo.

O pior de tudo isso é a construção da imagem de que temos tais respostas, que sabemos para onde estamos indo o tempo todo. Seguimos com nossas respostas prontas, escondendo nossas dúvidas para não parecer bobos. Preferimos sempre achar que as pessoas maduras de verdade têm suas soluções prontas, que sabem o que estão fazendo.

O que você acharia se sua namorada falasse que não tem certeza se quer casar com você? Provavelmente se sentiria ofendido. Só que o estranho é alguém não ter dúvidas se quer mudar todo rumo de uma vida, dividir contas, assumir responsabilidade e constituir família inteira.

O mesmo pode ser pensado sobre nossas formações. Achamos feio quando um jovem em época de vestibular nos diz: “Ah não sei que curso quero fazer”, quando na verdade, alguém decidir o que vai fazer pelo resto da vida, aos 17 anos de idade é algo que beira o absurdo. Com tal idade eu não sabia nem escolher frutas no supermercado, quem dirá tomar uma decisão tão importante quanto essa.

Ainda assim, procuramos respostas mágicas, receitas de bolo que teoricamente nos levariam até o tão procurado portão da felicidade.

Você deveria estudar direito ou economia? Não sabemos. É melhor ter filhos ou passar uma vida inteira sem procriar? A emoção diz uma coisa, mas a razão pode dizer outra. Devo largar o emprego para empreender, assumir riscos e encarar o mundo? Ou seria melhor buscar um concurso público, estabilidade e segurança com um bom salário? Não temos como achar respostas certas para nenhuma dessas questões e qualquer uma delas pode se mostrar muito boa ou extremamente ruim.  

O mesmo serve para a maioria dos dilemas que carregamos em nossas vidas.

Nossos pais podem achar que sabem as respostas, os filhos mais ainda. No fim, só poderíamos entender que estamos todos meio perdidos, tentando alcançar o que parece mais próximo do que chamamos de felicidade, mas que tenho dúvidas até de que é esse nome do que tanto queremos.

Gostaríamos de ter um enorme sistema de busca, organizado com todo conhecimento filosófico e fosse capaz de nos fornecer respostas claras para nossas dúvidas mais íntimas. Nesse buscador descobriríamos como viver melhor - e o sistema nos forneceria a mais precisa resposta.

Enquanto não conseguimos construir algo assim, é prudente tirar o peso do que é uma das melhores respostas que podemos dar quando nos questionam algo sobre o destino de nossas vidas: “Simplesmente, não sei”.


publicado em 01 de Dezembro de 2015, 12:06
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Alberto Brandão

É analista de sistemas, estudante de física e escritor colunista do Papo de Homem. Escreve sobre tudo o que acha interessante no Mnenyie, e também produz uma newsletter semanal, a Caos (Con)textual, com textos exclusivos e curadoria de conteúdo. Ficaria honrado em ser seu amigo no Facebook e conversar com você por email.


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