A geração Y (e o que ela pode aprender com a X)

Nota do editor: recentemente a agência de pesquisa brasileira Box1824 lançou o vídeo abaixo. Nele, as diferenças entre as últimas três gerações são exploradas em contraste à geração Y, da qual você faz parte se nasceu entre a década de 80 e o início da década de 90. 

O vídeo é interessantíssimo e oferece contextualização necessária para o texto que vem a seguir. Essencial assistir antes de ler.

Vimeo | Você se identifica?

Depois dos cínicos e gananciosos nascidos sob a égide da chamada geração X, eu poderia jurar que a próxima letrinha nessa sopa viria a descrever algo próximo aos hippies, uma geração que retomaria os valores da arte e dos cordões de missangas com cabelos pelos ombros e bolsas de couro. Se tivesse apostado, teria perdido. A geração Y é, na verdade, a geração X que fala mais palavrão e não gosta de receber ordens. Não vejo como nada além disso.

Me preocupo muito de estarmos vendo crescer uma geração de gerentes mal educados e diretores descoladinhos e resmungões. Nasci em 1980, mas não comungo dos valores da geração Y em nenhum aspecto. Nenhum. E o principal deles é talvez o maior motivo de indignação de um membro desta geração quando falo à respeito: eu não sonho em ser empreendedor.

É, simples assim. Eu já tenho uma profissão, tenho algo que, sem falsa modéstia, faço muito bem, que é escrever. Por que diabos sonharia em abrir um negócio? Posso até acabar fazendo isso, não cuspo para o alto, mas já tem algo que faço bem, e me contento em ser (bem) pago por isso.

Ao contrário dessa geração, não tenho o menor problema em ter chefe. Sou old school em se tratando de trabalho: eu faço o meu, você me paga e todos ficam felizes. Sem mistério. Para mim, ser bem remunerado pelo meu trabalho é o suficiente.

Não tenho essa necessidade de ter uma caneca escrito “The Big Boss” nem de ser capa da revista tal como “o empreendedor mais jovem de Iguaba Grande”. Não sonho em vender uma empresa para o Google nem em dar palestras sobre empreendimento aos quinze anos de idade. Só quero fazer o meu trabalho bem feito, ser pago para isso e ir para casa. Mas para a geração Y isso parece ser mais do que um crime.

Tom Hansen
Qual o problema em ter um emprego normal, Tom?

Dez entre dez membros da geração Y sonham em empreender, odeiam ter chefe e só pensam no dia em que vão ter suas próprias empresas cheias de brinquedos em cima da mesa e frases motivacionais pelas paredes. Já eu não tenho desejo algum de ir a reuniões com investidores vestido de pantufas e camisetas engraçadinhas. Minha meta de vida não é trabalhar deitado em pufes, tomando café e postando fotos hiper-expostas das formigas da parede. Meu objetivo profissional não é ter uma empresa de paredes coloridas onde todos tenham cargos com nomes importantes – me perdoe aí, Vice-Presidente Organizacional de Inventário ou coisa que o valha.

O que me intriga é que esse “sonho” de empreender é, muitas vezes, um sonho vazio. Parece que o que importa é abrir uma empresa. Aliás, empresa não: uma start-up. Mas de quê? Ora, quem se importa! Seja você dono de uma recicladora de lixo ou de uma agência de porquinhos da índia adestrados, o que importa é empreender, não ter chefe e poder espalhar quadros com frases de cinema pela sua sala.

Outra grande aversão que eu tenho à geração Y é que, para muitos deles, a aparência importa mais que o próprio trabalho. Parece que chegar em uma reunião de patinete meia hora atrasado é mais importante do que o trabalho que você trouxe debaixo do braço. Pouco importa se você tem um ótimo trabalho; o que importa é não se vender e não usar camisa social e gravata. Conheci dezenas de profissionais da geração Y que tinham uma ótima fama. Eram considerados profissionais renomados. Mas só até que você visse um trabalho deles. A aura de bom profissional era sustentável em si mesma, e não amparada pelo trabalho em si, porque em muitos casos eles priorizam a imagem em detrimento do próprio trabalho. A prioridade não é ser um bom profissional, mas apenas parecer um.

Pelo modo como percebo as coisas, a geração X nos deixou três grandes ensinamentos:


  • Se preocupe mais com fazer do que com ser. Por sua vez, se preocupe mais com ser do que com parecer.

  • Chefe é apenas uma condição. Ninguém é chefe, e sim está chefe. Talento, por outro lado, não é uma condição. É para sempre. Então, se você tem um talento, não se preocupe em não ter chefe. Mas se você é chefe, ainda assim procure o seu talento. Fazer bem o seu trabalho é o principal. Ser chefe é secundário.

  • Se você tem um talento, pouco importa se você se veste descolado ou como um vendedor de seguros. Um gênio mal vestido é um gênio, enquanto um idiota bem vestido continua sendo um idiota.

A geração Y deveria se lembrar mais deles.


publicado em 22 de Junho de 2012, 07:49
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Leonardo Luz

Fã de polêmicas, adora cutucar onça com vara curta. Também detona no blog "Eu e Meu Ego Grande".


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