21 folks para enterrar 2018 e levantar a cabeça para o que vem aí

Sinto informar, mas parece que a vida de gente grande é sofrer, sofrer, sofrer

No finalzinho de 2016 escrevi aqui no PdH sobre como "o ano mais intenso - e maluco - foi salvo, óbvio, pela música".

Montei uma playlist de folks daquele ano, que agora já parece até bom perto do que foram estes 365 dias em que a Terra insistiu em girar.

Bem... eu errei, amigos.

Aquele 2016 estranho já me parece até suave, doce. E duvido que o seu 2018 não tenha sido um caminhão desgovernado sem freio na descida. 

Mas, sinto dizer, me parece que essa é a dinâmica da vida adulta: vai ser suado, vai ser sofrido. E com sorte, com luta, talvez fechemos 2019 com 1x0 no placar e aí é retrancar a defesa da existência e dar bico para frente.

Para não dizer que não falei dos folks, aqui vamos novamente para um compilado do melhor que surgiu neste ano.

Imagino que muita gente já abandonou o barco do folk, que já passou a moda, já cansou, já ouviu coisa demais. Mas o campo continua florido. Mais diverso, mais amplo e com o folk mais disposto do que nunca em ser sugado por experimentações, efeitos, mas também de roubar um montão de outros estilos e se transformar.

Bom, se você quer algo "folk puro", esquece. Lá em 1965 o Dylan já mostrou que isso aí é sem futuro. A coisa mudou. O folk mudou. Que bom.

Apliquei as mesmas regras da playlist de 2016: nenhum artista repetido e isso não é um ranking.

Bora fechar este ano bem?

1. boygenius - "Souvenir"


Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus se juntaram para criar um EP lindão, presente em praticamente todas listas de melhores discos do ano, sempre muito bem posicionado.

Aqui, cada uma é responsável por um verso e depois se unem para fazer um coral de fazer pássaros corarem de inveja. Escolha sua voz favorita. Se for possível.

2. Mac Demarco - "Honey Moon"


Dá para fazer folk em japonês? Aqui o esquisitão favorito dos indies prova que sim. Mergulhado de cabeça na fase solo do John Lennon, Demarco entrega uma das doçuras de 2018.

O som é uma versão do músico Haroumi Hosono.

3. Courtney Barnett - "Sunday Roast"


Um dos meus discos favoritos de 2018. A Courtney é grunge, é pop, é slacker e também, como comprova aí, do folk rock. "Tell Me How You Really Fell" é uma bela lembrança para os jovens crescidos nos anos 1990 com sonhos que incluíam ter uma banda para tocar de camisa xadrez.

4. Ryley Walker - "Spoil With The Rest"


O Ryley Walker surgiu anos atrás com a mais profunda inspiração em Nick Drake e no jazzy folk. Com o disco "Deafman Glance", Walker decidiu embarcar numa homenagem à sua Chicago e trocou o jazz pelo math rock e pelo post rock, dando um corpo belíssimo para seu folk.

5. Lucy Dacus - "Pillar Of Truth"


"I am weak looking at you/ A pillar of truth/ Turning to dust". Uau! Lucy se despede da avó com essa coisa linda, densa, num refrão poderoso e com uma produção redondinha. É impressionante com só a voz de Lucy e sua guitarra são suficientes para nos dragar para a cena de Lucy e sua avó adoecida e deixando a existência.

Mas, daí, a coisa consegue ficar ainda mais iluminada no decorrer do som. É um dos melhores discos do rock do ano.

6. Kurt Vile - "Bassackwards"


O Kurt Vile é um dos caras que consegue carregar a bandeira do folk rock e usar outras influências e sua passagem pelo excelente The War On Drugs para um caminho bem interessante. Aqui ele fala de um rolê meio psicodélico que deu tudo errado.

E embrulha o som do violão com sintetizadores e guitarras gravadas ao contrário. Bem chique.

7. Dirty Projectors (feat. Robin Pecknold) - "You're The One"


É folk puro sangue que vocês gostam? Então, aí vai a parceria do vocalista do Fleet Foxes (Robin Pecknold) com o Dirty Projetors. Fazia tempo, aliás, que David Longstreth não voltava para esse nosso mundo do violão.

E olha só com ele se sente lindamente confortável por aqui. Fica, vai ter folk.

8. Father John Misty - "Disappointing Diamonds Are The Rarest Of Them All"


Josh Tillman segue na sua empreitada bem sucedida de antitrovador folk. Mais um discaço para a conta, recheando uma carreira intocável. Veio até para o Brasil, mas, sabe como é: caro demais para os mortais.

Mas espero que você tenha ido vê-lo. Se não foi, segura essa baladona no maior estilo Elton John.

9. Anna Burch - "Belle Isle"


Aqui vai mais uma baladinha com cara de passado e com um baita bom gosto na execução de tudo. Tem lapsteel, tem slide guitar e a maior cara de anos 1970. Bateria preguiçosa, baixo apenas marcando as passagens de acordes.

O be a bé da fusão folk-country tão bem sucedida por décadas e décadas. 

10. Angelo De Augustine - "Time"

 

Pensei muito em abrir a playlist com essa. Justamente para que a playlist fosse um abraço para que ouve, um afago que todo mundo tanto precisa neste 2018. Lá da Califórnia, o Angelo De Augustine manda esse abraço sonoro em todos vocês, meus amigos. É pegar ou largar.

Ah, se curtiu, vai na "Crazy, Stoned and Gone".

11. Damien Jurado - "Allocate"


Seguimos a brisa boa do meio da playlist. O Damien Jurado entrou na lista de 2016 e volta a aparecer aqui. Dois anos atrás ele estava numa fase psicodélica maravilhosa. Agora ele abraça com todo o coração um arranjo digno da Motown.

É uma pena ele fazer poucos shows com banda. É uma pena ainda maior que ele nunca tenha pisado por aqui.

12. Haley Heynderickx - "The Bug Collector"


Não vai ser a única vez que essa espécie de folknova (folk + bossa nova) vai pintar na lista. Temos, claro, nosso representante nacional mais adiante. Aqui, a Haley abusa do violão dedilhado e pega emprestado um contrabaixo acústico e um flugelhorn choroso, quase um Pixinguinha (sim, eu sei que o nosso mestre tocava outro instrumento).

Gosto de tudo nesse disco: da capa, da foto, da cor da borda, da fonte, das cores da foto. Mas gosto principalmente da calma que ele dá.

13. Jeff Tweedy - "Some Birds"


Quem sabe, sabe. O gênio da geração, o grande ícone do folk nas últimas décadas. O líder do Wilco despiu-se da sua banda para se entregar de corpo inteiro no belo trabalho solo "Warm".

O disco vem para acompanhar a autobiografia "Let’s Go (So We Can Get Back)", em que Tweedy conta de forma absolutamente crua a batalha para largar os opioides. Mas o disco não tem nada de soturno. É justamente o contrário. Um momento em que o artista para, pensa, escreve e se abre sobre o passado. 

14. Big Red Machine - 'I Won't Run From It'


Lá vamos novamente com as experimentações de Justin Vernon. Desde a fase "Skinny Love" as coisas mudaram demais. Aqui ele une forças a Aaron Dessner, guitarrista do The National, para entregar uma porção de colagens metade orgânicas, metade eletrônicas.

Vernon é também um dos responsáveis pelo folk estar ainda vivo e bem. E é ele quem devemos agradecer por deixar tão comum o uso de metais no gênero.

15. Tomberlin - "Any Other Way"


Sabe melancolia?

Então, é disso que se trata essa beleza aqui. E quem disse que melancolia e simplicidade não são o suficiente para um sonzão bonito? Tá aí uma prova que não precisa de muita coisa nessa vida.

16. Kevin Morby & Waxahatchee - "Farewell Transmission"


Lindíssima versão de um clássico de Jason Molina, o homem por trás do Songs: Ohia, capaz de escrever canções tão bonitas quanto Elliott Smith, mas com hype quase zero por aqui. Molina morreu muito cedo, mas deixou uma coleção imensa de músicas notáveis.

Foi um cara enorme para a sobrevivência do folk naqueles dias em que a década de 1990 se encerrava e começava o século 21. 

17. Thom Yorke - "Open Again"


Se tem uma coisa que Thom Yorke gosta é de ser estranho. O estranho mais legal do mundo voltou neste ano com uma trilha para o remake de "Suspiria" e trouxe esse arpejo sinistrão aí para o nosso 2018.

Ele tem chances de ganhar o Oscar em 2019, dando alguma credibilidade para o ano que está prestes a nascer.

18. Adrianne Lenker - "cradle"


Big Thief foi a banda que mais ouvi neste ano que se encerra. Descobri pelo resumão do ano que o Spotify soltou dias atrás. No seu disco solo, a líder da banda do Brooklyn aparece acompanhada apenas do violão, com raras exceções. "cradle" é dona de uma das melodias mais bonitas do ano.

Se prefere um pouco mais de gás, vá no Big Thief. São dois discos e dois golaços.

19. Tuyo - "Cuidado"


"Ouvindo Exalta na quebrada / Gritando, 'Eu me apaixonei pela pessoa errada'". O Tuyo chegou para mim por conta da participação deles no disco do Baco Exu do Blues, na "Flamingos". Aqui eles soam completamente diferentes e não menos interessantes.

As vozes se entrelaçam em praticamente tudo que o trio de Curitiba faz. "Cuidado" é um belo exemplo do que eles são capazes.

20. Phil Veras - "Quando Acabar a Festa"


Me soa muito como Vanguart e um tanto com Andy Shauf, canadense que sabe muito bem misturar McCartney e Wings com violão e folk. Veras vai por aí também.

Dá uma reparada em como estão gravados baixo, bateria e as guitarras. É Paul McCartney que chama, né?

21. Rubel - "Cachorro"


Lembra do folknova? Ele chegou aqui novamente, agora para encerrar nossa playlist. Conexão Haley Heynderickx-Rubel, união Portland-Rio de Janeiro.

"Casas", do Rubel, é um excelente disco para quem está com saudades do Los Hermanos e não aguenta mais requentar os discos antigos. 

Agora, a lista completa.

Dá logo o play!

 


publicado em 21 de Dezembro de 2018, 18:39
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Rafael Nardini

Torcedor de arquibancada, vegetariano e vive de escrever. Cobriu eleições, Olimpíadas e crê que Kendrick Lamar é o Bob Dylan da era 2010-2020.


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