20 palavras que precisamos dizer mais e o poder da comunicação

Palavras ferem, mas também podem curar

Você já parou pra pensar no poder da comunicação?

Numa hora dessas meu editor está pensando em cortar essa pergunta do começo do meu texto por considerar que uma pergunta retórica é um jeito fraco de sustentar um argumento. Ainda mais no primeiro parágrafo... Mas calma Luciano, vai ficar tudo bem. Essa não é uma pergunta retórica.

A gente trabalha todos os dias com isso. No meu caso e no da Marcela – você começa a reparar que esse texto vai ser uma grande metalinguagem – além de trabalhar, estudamos isso. Nada mais natural que de tempos em tempos paremos para pensar sobre a questão. Da mesma forma, nada mais justo do que perguntar pra você, leitor, se você também pensa sobre isso.

Pessoalmente, eu tendo a relativizar o poder da mídia, o agenda setting, a influência manipulativa que a televisão tem na vida das pessoas... Não que eu os negue, mas me convencer de que uma pessoa vai levar mais em consideração o que é dito na TV do que aquilo que ela sente na pele todos os dias para, por exemplo, decidir em quem vai votar, é difícil.

Porém, existe uma grande diferença entre "o que a mídia diz" e a comunicação completa. Comunicação que é, no sentido mais amplo da palavra, o que engloba jornalismo, publicidade, relações públicas, cinema, música, mas também o mais importante e não tem curso superior que ensine: o diálogo direto e pessoal entre as pessoas.

Sabe aquela frase famosa "palavra ferem"?

Sabe aquela outra "três coisas na vida que não voltam atrás: a flecha lançada, a palavra dita e a oportunidade perdida"? 

(olha eu deixando o editor nervoso de novo com as perguntas retóricas)

É disso que nós estamos falando hoje.

"Please, stop."

Palavras ferem

Eu sou uma pessoa com uma autocrítica enorme. Por vezes, destrutiva. Me cobro demais, me exijo muito, acabo cobrando isso dos outros também e, confesso, isso não faz nada bem pra mim. Pelo contrário. Nos últimos meses, percebi o quanto essa cultura – que a tão pouco tempo atrás me orgulhava de ter – era prejudicial e ultimamente tenho tentado me libertar dela. Às vezes até me permito fazer umas coisas meio ruins.

Digo isso porque sinto que "o copo das minhas emoções" já tinha cristalizado muitas coisas ruins no fundo. Essas coisas faziam o volume do meu copo diminuir de modo que eu tolerava muito menos coisas antes de extravasar. Tudo isso me tornava menos paciente, mais ansioso, menos compreensível, mais nervoso. Somado aos meus péssimos hábitos alimentares, é um milagre que eu ainda não tenha uma úlcera com 21 anos.

Eu me cobrava por que disse que odiava minha mãe numa discussão em 2002.

Por ter xingado a minha irmã de vaca em 2004.

Por ter jogado na cara de um colega de sala os erros que ele cometeu num trabalho da escola na sexta série.

Por ter me vangloriado de ter tirado a nota mais alta da classe sem estudar no primeiro ano do Ensino Médio.

Por ter feito uma piada preconceituosa com um amigo durante uma aula de direção.

Por ter discutido exaustivamente com uma amiga que passava por um momento difícil na frente de tantas outras pessoas apenas para provar um ponto no ano passado.

Enfim, por ter dito tantas coisas em tantas situações diferentes que magoaram outras pessoas, mas muitas das quais elas superaram antes mesmo de mim. Nesse momento, perceba que as palavras ferem não só quem foi ofendido, mas ferem mais e mais profundamente a nós mesmos no momento em que percebemos que estávamos errados de agir dessa forma.

Só quando finalmente admitimos o erro, fazemos uma auto-análise e pedimos desculpas é que nos libertamos.

Aos meus amigos, não estranhem que depois de seis meses, quando vocês nem mesmo se lembrarem mais, eu apareça para pedir desculpas sobre algo.

Palavras curam

Do outro lado da moeda, é um privilégio enorme saber utilizar a comunicação para fazer bem aos outros.

Não sei se vocês puderam ler este meu outro texto, mas ali em contei que de um tempo pra cá resolvi começar a dar bom dia/tarde/noite pros motoristas de ônibus. Isso porque acredito que a profissão desses caras é tão estressante que o mínimo que eu posso fazer enquanto passageiro é desejar um bom dia pra ele.

Cumprimentar o porteiro do prédio todos os dias, também é uma boa prática. Dizem que você é, na vida, do jeito que você trata o seu porteiro.

Mandar uma mensagem inesperada para os seus pais dizendo que os ama e perguntando se está tudo bem.

Puxar um assunto com a velhinha no ônibus ou no parque apenas porque você sabe que ela não tem com quem conversar.

Fazer piada de futebol com o garçom que te atende toda semana no bar e trabalha oito horas por dia em pé para ganhar um salário mínimo e as tuas gorjetas.

Ir de tempos em tempos no banco da frente para ouvir durante 20 minutos o que o taxista tem pra dizer sobre a cidade, a política, o futebol e oferecer pra ele uma visão mais otimista das coisas.

Pra encurtar o assunto, o mundo está vivendo dias de polarização ideológica e de intolerância. Todo mundo tem direito aos seus dias de fúria (desde que, no mínimo, peça desculpas depois), mas a gente não precisa propagar conteúdos danosos, não precisa reproduzir discursos ofensivo. A gente pode se propor a ser uma pessoa melhor.

E por esse motivo que, depois dessa nossa conversa, convido vocês a assistir este vídeo não exatamente muito novo produzido pelo SoulPancake com o Kid President dos EUA onde ele compartilha 20 coisas que nós deveríamos dizer mais todos os dias.

Link Youtube | Link do vídeo com legenda em português

Sugestão do autor: não precisa ser cachorro-quente, sorvete já serve. Fazemos isso aqui no PdH. E funciona.

Por fim, eu reforço o pedido dele de que você acrescente as palavras que faltaram nos comentários. Mais do que nunca, vamos fazer desse espaço um lugar de diálogos não-violentos, significativos e bem humorados.

Obrigado.


publicado em 24 de Fevereiro de 2016, 18:12
Breno franca jpg

Breno França

Editor do PapodeHomem, é formado em jornalismo pela ECA-USP onde administrou a Jornalismo Júnior, organizou campeonatos da ECAtlética e presidiu o JUCA. Siga ele no Facebook e comente Brenão.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura