Você sabe qual é o seu BodyCount?

Afinal, porque o número de parceiros sexuais diz algo sobre você?

O que é "body count”?

É uma gíria estadunidense que significa contagem corporal e serviria para indicar o número de pessoas com quem você já transou. Se medir já é meio absurdo, a coisa também vem recheada de estereótipos de gênero. Em núcleos machistas, um homem com uma body count acima de 30 seria motivo de orgulho, já uma mulher com a mesma contagem não seria confiável… 

VIU NOSSO POST SOBRE BOTYCOUNT NO INSTAGRAM? Dá pra assistir a dois vídeos que ajudam a entender melhor como os estadunidenses tem tratado esse tema

O que se fala sobre isso?

O conceito em si pode ser usado em meios mais progressistas ou conservadores. Uma bartender defende, por exemplo, que é normal que ela e suas colegas de trabalho tenham uma contagem maior que 100 pessoas. Já em podcasts conservadores, homens criticam os valores de mulheres com contagens altas, alegando que quanto mais pessoas elas tenham ficado, menos confiável elas são para se relacionar.

Foto: We-Vibe Toys by Unsplash

O problema é o uso ou o conceito em si?

Podemos pensar que algumas pessoas não vão usar essa contagem para criticar e nem taxar de promíscua outra pessoa. Pode ser um conceito apenas compartilhado entre amigos e amigas que se comparam e se parabenizam pelo número… pera ai… Entende como em todas as situações focar nesse número ou achar que ele diz algo sobre você é problemático? Você não é mais nem menos sedutor por ter uma contagem maior nem é mais ou menos "santo" por ter uma contagem menor…

Qual o real sentido disso?

Esse bodycount acaba virando uma norma, uma métrica, algo que te colocaria numa caixa X ou Y (seja essa caixa a do garanhão ou da mulher independente e transuda, do quase virgem ou da moça para casar) que reduz a complexidade das pessoas a estereótipos baseados em quantidade… 

Listinha de adolescente

Ao apresentar esse conceito para alguns amigos — no Brasil ainda não é tão popular — alguns riram e lembraram de quando eram crianças e faziam listas e contagens de com quantas meninas haviam ficado. Para eles, apesar de perigoso e nocivo, body count pode ter referências nesse comportamento infantilóide.

Somos só um número de transas?

Limitar a pessoa a uma característica — nesse caso a quantas pessoas ela tenha transado — é pequeno demais. É perigoso porque ignora as potencialidades delas, forçam todos a se enquadrarem a algum tipo de norma (antiquada, diga-se) e a abrirem mão do direito de serem quem são ou dos seus desejos.

E aí, você concorda com body count?

Já pensou se as regras fossem invertidas? Imagine como seria pensar que homens menos rodados pudessem ser os mais confiáveis e aqueles que transaram muitas vezes os mais instáveis “por pularem de galho em galho”? De toda forma, body count vai te reduzir a um número de transadas e ninguém mais vai querer saber de tudo o que você passou para se tornar a pessoa que é hoje.


publicado em 14 de Junho de 2023, 19:09
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Zé Ricardo Ferreira

Zé Ricardo é escritor, ilustrador, jornalista e pesquisador em história e cultura popular. Dedica-se também à literatura, em especial à literatura preta.


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