Um conto para o Dia dos Namorados

Eu me considero um grande conhecedor de relacionamentos, tanto que até os evito. Já tive sim uma namorada. Mas o problema das relações é que elas sempre acabam mal. Se um namorico não está mal, é porque ainda não terminou.

No meu caso com essa namorada, acabei sendo traído no dia dos namorados. Foi mais ou menos como não ter recebido presente de Natal porque o Papai Noel estava dando pra outro. Eu mal tinha um mês de namoro! Essa serve como uma das primeiras valiosas lições da história: Nunca comece a namorar em maio (sempre dá pra enrolar até metade de junho e economizar no presente de dia dos namorados).

Na época do acontecido, eu trabalhava e fazia um curso de noite. Admito que estava mais atarefado do que devia, mas ainda não acredito que estivesse ausente. Ainda assim, quando chegou o sábado, 12 de junho, eu ainda não tinha nada combinado com a menina - para onde iríamos ou o que iríamos fazer. O que complicou de vez foi o fato de ela estar convenientemente sem celular - porque, segundo ela tinham-lhe roubado o celular e ela tinha perdido o do irmão.

"Perdeu o celularzinho? Oops." (Foto: Terry Richardson)

Após passar o dia tentando entrar em contato com a garota, acabei a noite num bar com amigos inconformados com “o que diabos eu estava fazendo ali”. Em minha defesa, seria muito triste ficar qualquer sábado à noite sozinho em casa, principalmente na minha situação.

No dia seguinte, continuei - embora emputecido - uma incessante tentativa de falar com a garota. Foi só no meio da tarde que alguém na casa dela atendeu o telefone:

— Alô? Por favor a [moça]?
— Olha, a [moça] não tá não. Ela tá em Santo André.
— Santo André? Desculpa… você sabe onde ela tá lá?
— Ela tá na casa do namorado. Ela passa o final de semana lá.

Minha mente começou a fazer uns cálculos de matemática bem simples, mas que me levaram a resultados espantosos. Vasculhei todos os cômodos para ter a certeza que eu não tinha bebido demais e que não era de mim que estavam falando. Mas o rapaz em questão era, na verdade, o ex-namorado dela e, desde então, também o atual. Não dá pra continuar com uma pessoa que te trai nesse nível. A melhor relação que você pode ter com uma pessoa infiel é sendo o amante.

Ainda acho que pior do que perder a namorada é perdê-la para alguém que more mais longe. Ao menos ele é consideravelmente mais rico (ponto pra ela que trocou lanches no Habib’s por jantares no Fasano). Algumas pessoas me dizem que ela nunca deixou de namorar o cara. Sendo assim, o outro seria eu?

"Eu quero acreditar"

Evidências apontam para essa teoria, como exemplo, a reação de surpresa das pessoas quando eu dizia que era namorado da menina. Eu achava que era porque todos duvidavam que eu pudesse tecer um relacionamento com uma garota tão bonita (ou até simplesmente com uma garota), mas faz sentido pensar que as pessoas conheciam o verdadeiro namorado. Porra, até a linha de trem que eu pegava pra ir na casa dela em Carapicuiba era a linha diAmante!

Apesar do acontecimento, ainda tenho um bom relacionamento com minha ex. Acho ela uma garota muito gozada. Apesar dela não gostar muito do assunto (é algo que ela prefere levar às escondidas), a traição dela reciclou minhas piadas; sem contar que eu adquiri o requisito básico para fazer parte de uma dupla sertaneja. E às vezes, a gente tem que se conformar que é melhor dividir uma boa bisteca do que não comer nada.

Este ano, voltei a comprar o presente de sempre para o dia dos namorados: Vou dar uma luva para minha mão direita. E nunca mais vou reclamar de passar um dia dos namorados solteiro: Lembre-se que podia ser bem pior. Aliás, você que namora, já sabe aonde vai levar sua namorada hoje? Tenta levar ela ao orgasmo, só pra variar.


publicado em 11 de Junho de 2011, 05:00
3864fbdcd45e59b139336b10125940a6?s=130

Paulo Henrique Martins

Programador, dançarino amador de rockabilly, piadista fracassado de Twitter (@paulovelho) e babaca profissional. Escreve em seu blog pessoal, o Blog do Paulo Velho.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura