Não comece o sexo fazendo oral nela

Caras legais tendem a abrir as transas com um longo oral. É uma etiqueta de educação não-dita “eu não sou egoísta, então primeiro eu vou focar no seu prazer”. 

Oi. É uma mulher que vos escreve.

Eu to acostumada a estar sempre rodeada de “caras legais. Eu prefiro os caras legais, aqueles que tem qualquer empatia com a vida e as dores das mulheres e de outros grupos que não são eles mesmos e os parça do futebol. 

Uma coisa em comum, é que caras legais tendem a abrir as transas com um longo oral. É uma etiqueta de educação não-dita “eu não sou egoísta, então primeiro eu vou focar no seu prazer”. 

Eu acho educado, 

Mas ao mesmo tempo já encontrei uma porção de caras legais que, performando essa etiqueta ficam ali, botando a lingua pra jogo com um objetivo específico de fazer a mulher gozar primeiro. 

E aqui começa minha crítica

Quando alguém está deliberadamente tentando te fazer gozar, tem algo de protocolar e de  egocêntrico nisso. Não é sobre o que essa companheira quer. É sobre o cara querer cumprir o protocolo dos caras legais, se presentear com uma medalhar de “olha como eu te faço gozar”, e depois se sentir livre para tornar o sexo sobre ele. 

“Ah garota, pare de reclamar, se todo homem fizesse a gente gozar antes de tornar o sexo sobre eles tava bom”

Sinceramente, eu não quero aqui criar um novo nível de problematização ou de exigência, Pelo contrário. Eu quero mostrar que esses roteiros e protocolos não funcionam. Me chupar primeiro não vai fazer eu te achar um cara legal ou mais agradável na cama. 

Até porque talvez eu nem queira uma chupada, entende?

“Se a gente não chupa tá errado, se a gente chupa tá errado também”

Não é sobre chupar antes ou depois, é muito mais sobre saber o que qualquer pessoa tá afim. E aqui eu quero ir muito além da relação entre corpos cis. Independente do corpo e do gênero da pessoa que está contigo, ser um parceiro atencioso é sobretudo estar atento para ver o que a outra pessoa tá sentido e descobrir juntos para onde ir.

Poético porém abstrato?

Se os homens estão perdidos no mar do diz que me diz, eu vou simplificar. Não é sobre ser cavalheiro e chupar primeiro, é sobre estar conectado e perguntar. 

Perguntar é mais direto: “Quer que eu te chupe? O que eu posso fazer por você, minha gostosa?” E às vezes a resposta vai ser “meter com força imediatamente”. 

Para além das perguntas, é entender reações e inclusive a sua. Deixa a relação fluir pra onde as coisas estiverem levando. As vezes vai ser pra um oral, mas as vezes a pessoa não quer gozar naquele momento, o corpo dela não está nem reagindo perto de um orgasmo. Deixe que as coisas sigam caminhos orgânicos sem precisar cumprir metas e receitas de bolo. 

Se tá todo mundo seguindo um roteiro que uma revista dos anos 2000 criou, fica muito mais dificil saber de fato quem são as pessoas que, naturalmente, se encaixam com a gente. 


publicado em 09 de Julho de 2024, 19:32
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Gabriella Feola

Editora do Papo de Homem e autora do livro "Amulherar-se" . Atualmente também sou mestranda da ECA USP, pesquisando a comunicação da sexualidade nas redes e curso segunda graduação, em psicologia.


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