Eu mudei para Belo Horizonte há quase 6 anos e até então meu único contato com o “mundo” da publicidade era o de público-alvo.
Vim para a capital mineira com um estágio numa agência de publicidade, pouco menos de um mês antes de começar a faculdade. Como todo iniciante, eu estava maravilhado com aquele mundo, porém, havia uma coisa que me perturbou intensamente, e me traz constantes surtos de loucura até hoje. A megalomania absurda de transformar coisas simples em labirintos intransponíveis com uns 14 minotauros.
Os americanos (sempre eles), têm a capacidade louvável de dar novos nomes às coisas para parecerem novas e assim vender um produto ou uma ideia infinitamente. Nós compramos as mesmas coisas há anos imaginando ser algo diferente. Nós copiamos, não só a ideia de dar novos nomes, como o uso da própria língua inglesa para o negócio ficar mais chique.
Eu me horrorizo quando estou no shopping e vejo numa vitrine “Spring Collection SALE 50% OFF”. E não, eu não penso “WTF” como muitos hoje em dia, para mim “queporraéessa?” transmite a mensagem muito melhor. Voltando ao exemplo, eu digo que primeiro, primavera é uma palavra muito, mas muito mais legal que spring. O tal do 50% OFF é praticamente uma lei estabelecida para os comerciantes. Ninguém mais dá desconto. É OFF. E como consumidor acho muito mais atrativo “Coleção de Primavera pela METADE do Preço”. Os mais puristas vão falar que é uma chamada de “povão”. Vende mais, muito mais.

Antes que você reclame que eu sou um comunistinha de faculdade que usa Nike e vocifero contra a América (que é uma mania de grandeza deles, porque América para mim é continente), saiba que eu defendo o uso de termos em inglês. Em alguns casos. Mas – se me permitem – tá too much, too much.
Hoje o pessoal manda e-mail sem nenhum pudor com esses termos, e eu sempre imagino que a pessoa faz isso porque para sobreviver na selva corporativista, você tem que se mostrar um cara esperto.
Em agência, não foram poucas vezes que vi o cliente que não deu o “feedback positivo no job e por isso precisamos de um novo layout ASAP”. Oi? São feedbacks, shares, trades, targets, reports, nammings, caralhens que não acabam mais. O pior de todos para mim é o “rough”. Todo mundo fala, mas se vê escrito não tem ideia do que é. É um tal de “Faz um ráf pro cliente rapidinho aí”.
Conversa na sala de criação, então, é pura conversa de doido. “Acho que você pode usar um brush aqui, colocar um dropshadow naquele splash, desmarcar o hyphenate no texto. E cara, acho que seria uma boa dar uma clareada no bg.” É coisa de maluco, porém essa tem a desculpa de que usamos os softwares gráficos em inglês, então fica muito mais prático nomear a ferramenta de modo que o outro entenda.
Mas colocando fora do contexto, a frase fica meio babaca.

E eu sinceramente acho vergonhoso em uma reunião, qualquer uma das partes, ficar falando dessa forma. Porque vamos combinar, é meio babaca mesmo.
Infelizmente, dizem que o que importa é o que as pessoas ao seu redor acham que você sabe, e não o que você realmente sabe. É o que chamamos de “qualidade percebida”. Tem gente que tem um trabalho enorme para aumentar isso do que realmente aprender a fazer alguma coisa. É igual na época do colégio, que passávamos dias criando maneiras dignas de Dr. Evil para colar na prova, ao invés de nos focarmos em aprender a matéria. O que na época de colégio, confesso, era muito mais divertido que estudar.
De qualquer forma, “aqui fora” como nossos professores costumavam falar, o buraco é mais embaixo. Depois de um tempo trabalhando, eu comecei a perceber que esse tipo se repete em todos os lugares, e eu simplesmente evito.
Como hoje eu tenho a minha própria agência, posso escolher as pessoas que trabalham comigo.
E certamente não são as pessoas que entregam reports.
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